Saída de cena do Subcomandante Marcos reflete nova etapa do EZLN em Chiapas

O personagem, uma das ferramentas de comunicação dos zapatistas desde o levante de 1994, evidenciou a invisibilidade dada à população indígena mexicana

“Queria pedir paciência, tolerância e compreensão às companheiras, companheiros e companheiroas, porque essas serão minhas últimas palavras em público antes de deixar de existir”. Já era madrugada de 25 de maio quando os milhares de milicianos, insurgentes e bases de apoio do EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), perfilados e encapuzados no centro do caracol de La Realidad, puderam ouvir o discurso do Subcomandante Insurgente Marcos. Marcos falou sobre a morte do zapatista Galeano, assassinado durante ataques paramilitares no dia 2 de maio.

O que ninguém esperava é que a cerimônia de homenagem a mais um combatente que cai desde que o EZLN declarou guerra ao Estado mexicano, em 1º de janeiro de 1994, fosse marcar também a saída de cena de seu porta-voz e principal figura pública. A substituição pelo indígena Moisés, também Subcomandante, representa mais do que o fim de um “personagem”, como o próprio Marcos se define.

Ela é resultado de uma série de transformações pelas quais os neozapatistas passaram desde 17 de novembro de 1983, data em que o movimento foi fundado na Selva Lacandona de Chiapas. Na época, contavam com apenas seis membros –  cinco homens e uma mulher, sendo três indígenas e três mestiços – como Marcos, que só chegaria à Selva em 1984. Continuar lendo

Entenda como funciona o Bolsa Família

Criticado por Ney Matogrosso e peça da campanha de Aécio e Dilma, o benefício é pago para 14 milhões de famílias; valor básico é de 70 reais

O catador de lixo Luiz Monteiro da Silva, 52 anos, sustenta as filhas e netos com a ajuda do que retira nas ruas e do Bolsa Família

Uma das principais bandeiras dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, o programa de transferência de renda Bolsa Família entrou na pauta eleitoral de 2014.

O anúncio do reajuste de 10% em cadeia nacional, feito às vésperas do 1º de maio pela presidenta Dilma Rousseff, e as críticas de seu opositor Aécio Neves – de que o aumento é insuficiente e não atende às recomendações das Nações Unidas sobre o combate à pobreza – mostram que o benefício dado pelo governo federal será alvo de debate e disputa durante a campanha eleitoral. Recentemente, o cantor Ney Matogrosso também desqualificou o governo, ao tecer críticas ao programa social.

Conheça mais sobre o Bolsa Família e veja quais as respostas às perguntas mais frequentes sobre ele:

O que é o Bolsa Família?
O Programa Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza do País. O Bolsa Família integra o Plano Brasil Sem Miséria, que tem como foco de atuação brasileiros com renda familiar per capita inferior a 70 reais mensais. Continuar lendo

Sob a sombra da repressão, Ruanda se reconstrói 20 anos após genocídio

País fez julgamentos e reduziu pobreza, mas ainda tem pouca liberdade.
Genocídio contra etnia tutsi deixou ao menos 800 mil mortos em 100 dias.

Era 1994, o Brasil chorava a morte de Ayrton Senna, a África do Sul elegia seu primeiro presidente negro no pós-apartheid, o Reino Unido e a França inauguravam o Eurotúnel e a Otan fazia o primeiro ataque contra aviões sérvios durante a guerra da Bósnia. No mesmo ano, em 100 dias, de abril a junho, 800 mil pessoas morriam assassinadas em Ruanda. O genocídio, termo adotado após muito debate nos comitês da ONU, foi um dos episódios mais sangrentos da segunda metade do século XX, e afetou quase um terço da população do pequeno país do centro da África. Continuar lendo

Como ocorreu o milagre econômico de Hong Kong – da pobreza à prosperidade

Hong Kong, dias atuais

Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade.  E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação.

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível.

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950.  A economia começou a prosperar. Continuar lendo

O Brasil quer exportar o sucesso do Bolsa Família

A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, se reúne com o Banco Mundial para buscar vias de cooperação

Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social do Brasil.

Dez anos após a criação do programa de ajuda econômica Bolsa Família, que tirou milhões de cidadãos da pobreza, o Governo brasileiro e o Banco Mundial acham que a experiência do modelo pode ser muito útil a outros países em desenvolvimento. Convidada pelo organismo internacional, a ministra do Desenvolvimento Social do Brasil, Tereza Campello, vai se encontrar nesta quinta-feira em Washington com altos funcionários do Banco Mundial para explorar vias de cooperação. Continuar lendo

A emergência dos emergentes

Há apenas alguns anos os emergentes eram um pilar da economia mundial; agora, são uma ameaça

Os países emergentes são como os adolescentes: propensos aos acidentes. Caem, escorregam, se empurram, correm riscos desnecessários… Lógico que, tal como demonstraram há pouco os EUA e a Europa, às vezes as nações maduras também se comportam de maneira imatura. Seus acidentes são menos frequentes, mas quando acontecem são de enormes proporções. O mundo ainda está pagando com o desemprego e a pobreza as irresponsáveis audácias financeiras de bancos, Governos e consumidores dos países mais ricos. E agora surge uma crise nos emergentes, esses países de menores rendimentos cujas economias e o bem-estar da população vinham expandindo a um ritmo sem precedentes.

Há duas perguntas de cujas respostas depende o prognóstico da economia mundial. Primeira: contagiarão as economias emergentes as economias dos países desenvolvidos ? Segunda: os investidores diferenciarão os países emergentes “bons” dos “maus”? Em outras palavras, retirarão seu dinheiro e deixarão de investir por um tempo em todos os países emergentes sem fazer distinções ou serão seletivos? Mas o que significa “mau” ou “bom” neste caso? Um governo “mau” é aquele que sofre de necrofilia ideológica: um apaixonado amor por ideias mortes; por enfoques que foram provados e que fracassaram repetidamente, mas pelos quais os poderosos sentem uma irresistível atração. Um governo “bom”, em mudança, aprende com os erros e tende a adotar políticas que dão resultados e são sustentáveis no tempo. Continuar lendo

As 85 pessoas mais ricas do mundo têm o mesmo dinheiro que as 3,5 bilhões mais pobres

As pessoas mais ricas do mundo certamente não são conhecidas por andarem de ônibus, mas estes 85 indivíduos, que juntos controlam tanta riqueza quanto a metade mais pobre da população mundial, poderiam caber em um único biarticulado.

Quem expõe esse dado chocante é a Oxfam International, uma confederação de 13 organizações e mais de 3.000 parceiros que busca soluções para o problema da pobreza e da injustiça através de campanhas, programas de desenvolvimento e ações emergenciais.

Seu novo relatório adverte que as 85 pessoas mais ricas em todo o globo compartilham uma riqueza combinada de £ 1 trilhão (cerca de R$ 3,8 trilhões), enquanto 3,5 bilhões dos mais pobres dividem outro £ 1 trilhão. Continuar lendo

Chiapas: injustiça, pobreza, luta e dignidade

O ano velho se vai em meio a névoa. A garoa e o frio cobrem o local onde o Exército Zapatista de Libertação Nacional celebrou os 20 anos do levante.

Eduardo Febbro

Oventic, Chiapas – A voz dos símbolos se cala quando aparece a neblina. Espessa e crescente a medida que a estrada de montanha sobe em direção à comunidade de Oventic, uma das cinco juntas de bom governo administradas pelos zapatistas.
Estas são terras rebeldes e muito pobres. Aqui, as palavras cheias de símbolos e poesia do subcomandante Marcos não têm lugar. Essa é a realidade. Respira-se a dupla força da humildade e da dignidade. Hoje há festa. O ano velho se vai em meio a névoa, a garoa e o frio cobrem o local onde o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) organizou a celebração dos 20 anos do levante zapatista (1994-2014).

O ano novo pede passagem entre lembranças, músicas de protesto, chamados à rebeldia e a escandalosa situação na qual ainda vivem os indígenas da região. Combate e pobreza. “Los de abajo vamos por los de arriba”, canta uma rapper vinda dos Estados Unidos. Um grupo musical do EZLN com o gorro cobrindo o rosto entoa canções zapatistas. Não há tempo nem espaço para a nostalgia. As pessoas abrem passagem entre o barro e a neblina. Há muito por fazer, por construir e resistir. Continuar lendo

Tráfico de pessoas

Especialista acredita que a feminização da pobreza seja o principal motivo de tantas vítimas da rede de comércio internacional para fins sexuais

“A s mulheres vítimas do tráfico são, antes de tudo, vítimas do abandono social, da falta de políticas públicas. Muitas daquelas que passaram pela experiência da exploração sexual fora do País preferem não voltar para o Brasil, pois sabem que aqui não encontrarão perspectiva de trabalho, acompanhamento médico, muito menos acolhimento social ou familiar”. A afirmação é da advogada e assistente social Tânia Teixeira Laky de Sousa, autora da pesquisa “Tráfico de Mulheres: Nova Face de uma Velha Escravidão”, que foi apresentada pela primeira vez no III Simpósio Internacional para o Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em Campo Grande (MS) no dia 20 de junho deste ano.

Para Tânia Teixeira Laky, é a feminização da pobreza o principal motivo de tantas vítimas da rede de tráfico internacional para fins sexuais. “Estão atrás de emprego; aqui, não encontram perspectivas. O que os governos vêm fazendo para estancar o êxodo? Como estão cuidando das mulheres que passam por esse trauma e voltam para o Brasil? Nada. Nenhuma política pública séria e de resultados reais está sendo trabalhada no País”, garante a pesquisadora. Continuar lendo

Breve inventário da desigualdade planetária

Novo vídeo revela dados chocantes sobre injustiças globais. Exemplo: trezentas pessoas mais ricas da Terra têm mais que populações do Brasil, Índia, China e EUA 

Por Inês Castilho

A crise do capitalismo e as revoltas populares que varrem o mundo vêm trazendo à consciência coletiva a desigualdade entre países e seres humanos. Os governos dos países ricos gostam de dizer que ajudam os países pobres, mas todo ano tiram, destes, dez vezes mais do que põem em forma de ajuda ao desenvolvimento. Continuar lendo