Uma energia incompatível com a humanidade

Catorze meses após tragédia de Fukushima, exame de suas consequências movimenta, no Brasil, iniciativa cidadã para banir centrais nucleares

Por Chico Whitaker

Em 11 de março 2011, no Japão, um terremoto de 8,9 graus e as grandes ondas de um maremoto, que invadiram dez quilômetros de terra, provocaram milhares de mortes e uma enorme destruição. Mas a cidade de Fukushima viveu uma segunda tragédia: uma onda de 14 metros destruiu o dique que protegia usinas de produção de eletricidade com reatores atômicos, causando-lhes avarias e explosões.

Este segundo desastre teve efeitos ainda piores. De fato o luto, ainda que doloroso, um dia será superado; os equipamentos coletivos, casas, edifícios e bens destruídos serão reconstruídos ou indenizados; mas a radioatividade resultante da explosão de uma usina nuclear contamina a terra, o ar, a água, as plantas e as pessoas, por mais de uma geração. Por isso, 3 mil moradores foram evacuados, num raio de 3 km, estendido depois para 10 e 20 km, com mais pessoas removidas. Continuar lendo

Sustentabilidade, um olhar para fora

Dal Marcondes

A importância de se deixar o carro em casa sempre que possível ainda é algo que está longe de ser compreendido pela sociedade brasileira.

A importância de se deixar o carro em casa sempre que possível ainda é algo que está longe de ser compreendido pela sociedade brasileira.

Dias atrás estava conversando com um bom amigo, que não trabalha nem com comunicação e nem com meio ambiente e sustentabilidade, sobre carros, trânsito e modelo de desenvolvimento. Ele vive em Santos, uma cidade que eu adoro por ser, ainda, uma boa referência em estrutura urbana. Depois de 15 minutos de conversa percebi que estamos em lados completamente opostos em relação ao que seja uma vida confortável e sustentável. Comentei que se Santos continuasse a receber automóveis no ritmo atual, em muito pouco tempo estaria completamente engarrafada, com os mesmo problemas de mobilidade que São Paulo já enfrenta.

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Ásia corre o risco de ver deflagrada uma guerra da água

Planos da China de usar rios que nascem no Tibete alarmam os países vizinhos.

Atravessando o planalto do Tibete, cinco grandes rios – Indus, Brahmaputra, Irrawaddy, Salween e Mekong – carregam a água das geleiras dos Himalaias e das monções que abastece 1,3 bilhão de pessoas em vários países do Sudeste da Ásia. Agora, no entanto, este fornecimento está ameaçado pelos planos da China e de outros países da região de construir usinas, barragens e desvios em seu curso, o que pode gerar o primeiro grande conflito mundial em torno deste recurso cada vez mais escasso.

A luta pelo controle desta verdadeira “caixa d’água” continental teve seu primeiro contragolpe desferido pela Índia, onde a Suprema Corte do país ordenou no mês passado o início dos trabalhos para a construção de canais que vão interligar os principais rios indianos. No centro do projeto está uma estrutura de 400 quilômetros de extensão que vai desviar a água do Brahmaputra para o Ganges, visando a irrigar terras cultiváveis sedentas a cerca de mil quilômetros ao Sul. Continuar lendo

O drama dos seres humanos ilegais — e como interrompê-lo

Antropólogo iraniano escreve sobre imigrantes, trabalhadores que o capital simultaneamente deseja e exclui. E aposta que controles migratórios podem se tornar obsoletos…

Por Roberto Almeida, no Opera Mundi

Hoje o iraniano Shahram Khosravi é antropólogo, professor da Universidade de Estocolmo. Mas há 30 anos ele era um imigrante sem documentos, pagando contrabandistas para ajudá-lo a fugir de sua terra natal. Ele peregrinou, deixou os dólares da família com policiais corruptos para escapar do serviço militar obrigatório, que o levaria ao front da guerra Irã-Iraque.

Khosravi transformou sua “rica” experiência em livro. ‘Illegal Traveller’ – An Auto-Ethnography of Borders (‘Viajante Ilegal’ – Uma autoetnografia de fronteiras, US$ 27, Amazon.com) é um guia de sobrevivência pelas linhas porosas que dividem o atlas global. “Fronteiras são símbolos e rituais de uma comunidade. Ter controle é mostrar a identidade e legitimidade do Estado”, disse o autor ao Opera Mundi.

Em meio à disputa de deportações entre Brasil e Espanha, que levanta suspiros patrióticos em ambos os lados, sem falar no limbo jurídico em que caíram imigrantes haitianos, que aguardam no Acre e em Rondônia documentação para trabalhar, Khosravi vê tudo como um grande “espetáculo” que prioriza a soberania de um país e se esquece das pessoas.

São palavras de um homem que viveu como “deportável” anos a fio até encontrar asilo político na Suécia, onde vive hoje. “Uma pessoa sem documentos não sabe o que vai acontecer amanhã. Tem medo até de se apaixonar”, contou. Veja a entrevista. Continuar lendo

Alimentada pela escassez, “indústria da seca” fatura com a estiagem no Nordeste

Carlos Madeiro

A seca no Nordeste é sempre sinal de sofrimento para o sertanejo. Mas a falta de chuva também movimenta o meio político e o comércio das cidades atingidas pela estiagem. A chamada “indústria da seca” fatura alto com a falta de alimentos para os animais e de água para os moradores.

O exemplo mais conhecido no sertão –e relatado por diversos moradores ao UOL–  é o uso político na distribuição dos carros-pipa, marca registrada do assistencialismo simples. Segundo os relatos, alguns políticos visitam as comunidades e se apresentam como “responsáveis” pelo envio da água. Os moradores também reclamam da alta nos preços de serviços e alimentos para os animais. Continuar lendo

Quando os biocombustíveis roubam a comida

Nos últimos anos, o desenvolvimento de algumas monoculturas mudaram para o fornecimento de matéria-prima para a elaboração de combustíveis, como o etanol.

Por Emilio Godoy

A crise alimentar, agravada pelo uso do milho e de outros grãos na produção de etanol, é um dos assuntos centrais abordados ontem e hoje na capital mexicana pelos vice-ministros de Agricultura do Grupo dos 20 países industriais e emergentes. Este bloco reúne os países industrializados do Grupo dos Oito (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão, Itália e Rússia), a União Europeia e economias emergentes como Brasil, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, México, África do Sul e Turquia. Continuar lendo

Timor Leste celebra 10 anos de independência em um ambiente de paz

Depois de décadas de conflito, país ainda luta contra a pobreza extrema

Tropas em parada de comemoração aos 10 anos de independência do Timor Leste

Tropas em parada de comemoração aos 10 anos de independência do Timor Leste

O Timor Leste se prepara para celebrar neste final de semana os 10 anos de sua independência, com o orgulho de ter reestabelecido a paz depois de décadas de conflitos. Embora o país, que fica no sudeste da Ásia, ainda luta contra a pobreza endêmica e tenta provar que pode garantir seu desenvolvimento, a população comemora a independência. Continuar lendo

64 anos do Nakba: A limpeza étnica da Palestina e as responsabilidades ocidental e brasileira

O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador do Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Muitas de suas charges podem ser encontradas no http://latuffcartoons.wordpress.com/.

O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador do Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Muitas de suas charges podem ser encontradas no http://latuffcartoons.wordpress.com/.

Imagens do êxodo palestino em 1948

Imagens do êxodo palestino em 1948

I- A Palestina Árabe

A derrota que os árabes impuseram ao domínio bizantino na Palestina, confirmado entre os anos 633 e 638 da era cristã, foi bem recebida pela população local, tanto por cristãos como por judeus e samaritanos, que ainda eram grupos numericamente importantes na região. Estes últimos grupos tinham todos os motivos para preferir a organização árabe, vítimas que já eram da intensa perseguição cristã, que só pioraria com os séculos (aliás, no início do período árabe na Palestina—que se estenderia pelos próximos 1.300 anos–, uma pequena população judaica voltaria a se estabelecer em paz em Jerusalém, depois de 500 anos de ausência, que datavam da sangrenta expulsão que os romanos lhe haviam imposto no segundo século da era cristã). O período árabe também foi bem recebido pelos cristãos da região, que “eram arameus [e] não ficaram incomodados pela organização árabe, pois a etnia era semelhante, de origem semítica”, não tendo eles “motivos para gostar da administração bizantina, de origem romana, não semítica”1. Na Palestina árabe, apesar de um imposto específico para judeus e cristãos, eles gozavam de proteção como “Povos do Livro”, e a atmosfera não tinha muito em comum com o regime de terrorífica perseguição que se instalaria nas regiões controladas pelo Cristianismo. A Sura 2 de Maomé explicitamente rejeita a conversão e o proselitismo violento: “Não obrigueis ninguém em assuntos de religião”. A violência sectária só voltaria a se disseminar na Terra Santa com as empresas cristãs de conquista conhecidas como Cruzadas, a primeira das quais foi proclamada pelo Papa Urbano II em 1095 e resultou no estabelecimento do “Reino de Jerusalém”, em 1099, uma fortaleza de reduzidas relações com seu entorno árabe, ironicamente semelhante, neste aspecto, ao enjaulamento que as construções israelenses ilegais hoje impõem a Jerusalém. Continuar lendo

EUA fizeram do Laos país mais infestado por explosivos em todo o mundo

Entre 1965 e 1973, as forças norte-americanas lançaram sobre o Laos quase 80 milhões de submunições

Nas Américas, apenas dois países, Estados Unidos e Cuba, não aderiram ao Tratado de Ottawa, que proíbe a produção, a armazenagem, o uso e a venda de minas anti pessoal (as mina anti veículos continuam permitidas), além de estipular prazos para a desminagem e obrigar os países minados a executarem programas de educação sobre o risco das minas para a população civil, sinalizar campos minados e prestar assistência às vítimas.

Voluntária do Mines Advisory Group faz trabalho de desminagem de área rural no Laos, na fronteira com o Vietnã

Voluntária do Mines Advisory Group faz trabalho de desminagem de área rural no Laos, na fronteira com o Vietnã

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A história de luta do povo basco

Entre os movimentos pela criação de um país independente e a radicalização do terrorismo, bascos sobrevivem como uma das etnias mais antigas da Europa

Carlos Minuano | 01/12/2010 11h39

Cansado da balada na noite anterior, o equatoriano Diego Armando Estacio preferiu esperar no carro pela namorada enquanto ela recepcionava os parentes do casal que desembarcariam a qualquer momento no Aeroporto de Madrid-Barajas, na capital espanhola. Estavam ansiosos para comemorar o Ano-Novo. Era 30 de dezembro de 2006. Por uma dessas estranhas (e mórbidas) coincidências, outro imigrante, Carlos Alonso Palate, também dormia num automóvel estacionado bem próximo ao de Estacio, na zona D do terminal T4. Às 9h01, 200 kg de explosivos colocados num furgão destruíram o local. Nenhum dos dois acordou e mais de 20 pessoas ficaram feridas. O estrago foi tamanho que os bombeiros demoraram quatro dias para conseguir resgatar o corpo dos equatorianos. Continuar lendo