A Primavera Árabe ainda não disse sua última palavra

Três anos após o início do movimento que derrubou presidentes, a contestação no mundo árabe, ameaçada pelas ingerências externas e pelas divisões confessionais, procura um novo fôlego. Se a Síria vive o pior dos cenários, a Tunísia confirma que o desejo por cidadania pode desembocar em um progresso real

por Hicham Ben Abdallah El Alaoui

Em seus primórdios, a Primavera Árabe deitou por terra os preconceitos ocidentais. Ela colocou em maus lençóis os clichês orientalistas sobre a incapacidade congênita dos árabes de conceber um sistema democrático e abalou a crença segundo a qual eles não mereceriam nada melhor do que ser governados por déspotas. Três anos depois, as incertezas permanecem intactas quanto ao desfecho do processo, que entra em sua quarta fase.

Na primeira etapa, concluída em 2011, teve início uma onda gigantesca de reivindicações relativas à dignidade e à cidadania, alimentada por protestos intensos e espontâneos. A etapa seguinte, em 2012, marcou um momento em que as lutas se voltaram para si mesmas, para o contexto local e para o ajustamento delas à herança histórica de cada país. Simultaneamente, forças externas começaram a reorientar esses conflitos para direções mais perigosas, levando os povos à situação que conhecem hoje. Continuar lendo

A grande cilada egípcia

Cada vez fica mais claro: militares, mídia e elite empresarial deram golpe aproveitando-se da ingenuidade de movimentos que julgavam fazer nova revolução

Por Ramzy BaroudAsia Times Online | Tradução Vila Vudu

“A revolução morreu. Longa vida à revolução” – escreveu Eric Walberg, autor e especialista em política do Oriente Médio, logo depois que os militares egípcios derrubaram o presidente democraticamente eleito no Egito, Mohammed Morsi, dia 3 de julho. Mas, com mais precisão, deve-se dizer que a revolução foi assassinada, morte lenta e terrível, por vários, muitos assassinos.

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O arco-íris no centro da política

Para sociólogo francês, a bandeira do ‘casamento igualitário’ – já hasteada em 14 países – transcendeu o universo das minorias e assumiu a vanguarda na transformação da sociedade

Tão logo foi ratificado pelo Parlamento da França na terça-feira, o projeto que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por casais homossexuais desencadeou protestos violentos. Em Paris, manifestantes atiraram garrafas, latas e pedaços de metal na polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogêneo e prendeu 12 pessoas. Os distúrbios foram ainda mais violentos em Lyon, no centro-oeste do pais, onde 44 foram detidos.

Promessa de campanha do presidente François Hollande, eleito pelo Partido Socialista em maio de 2012, o projeto enfrentou resistência da Igreja Católica francesa, da União pelo Movimento Popular, legenda do ex-presidente Nicolas Sarkozy, e da Frente Nacional, de extrema direita. A votação dividida na Assembleia Nacional – 331 votos à favor e 225 contra – já prenunciava a situação da causa do “casamento igualitário”, como preferem seus defensores, não só na França, mas no mundo: um cenário de vitórias sucessivas, quase sempre apertadas. Continuar lendo

Uma Primavera Vaticana?

Se o próximo conclave eleger um papa que siga pela mesma velha estrada, o catolicismo poderá entrar em uma nova era do gelo, correndo o risco de encolher a ponto de se tornar uma seita, prevê teólogo

A Primavera Árabe abalou diversos regimes autocráticos. Com a renúncia do papa Bento XVI, não seria possível ocorrer algo semelhante dentro da Igreja Católica Romana – uma Primavera Vaticana?

Conclave deve escolher novo papa

Naturalmente o sistema da Igreja Católica se assemelha menos ao da Tunísia ou Egito que ao de uma monarquia absoluta como a Arábia Saudita. Tanto na Igreja como na Arábia Saudita não ocorreu nenhuma reforma autêntica, apenas concessões de menor importância. Em ambos os casos, a tradição é mantida em oposição à reforma. Na Arábia Saudita, essa tradição remonta a apenas dois séculos. No caso do papado, a 20.

Mas, trata-se de uma tradição real? Na verdade, durante um milênio a Igreja não teve um papado monarquista absolutista como conhecemos hoje. Continuar lendo

A verdadeira batalha pelo Islã

Esqueça ideia de um mundo árabe dividido entre terroristas e pró-ocidentais. Disputa real opõe islâmicos reformistas a arquiconservadores e dogmáticos

Por Ahmed Daak e Harry Verhoeven, da Al-Jazeera

Das eleições no Egito pós-Mubarak [1] aos debates na Tunísia sobre liberdade de imprensa [2]: está em curso uma batalha pela alma política do mundo islâmico. Mas, diferente do que se previa nos dias da Guerra Global ao Terror [Global War on Terror (GWOT)], as visões em confronto não são o terrorismo jihadi e o secularismo à moda ocidental. Continuar lendo

64 anos do Nakba: A limpeza étnica da Palestina e as responsabilidades ocidental e brasileira

O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador do Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Muitas de suas charges podem ser encontradas no http://latuffcartoons.wordpress.com/.

O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador do Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Muitas de suas charges podem ser encontradas no http://latuffcartoons.wordpress.com/.

Imagens do êxodo palestino em 1948

Imagens do êxodo palestino em 1948

I- A Palestina Árabe

A derrota que os árabes impuseram ao domínio bizantino na Palestina, confirmado entre os anos 633 e 638 da era cristã, foi bem recebida pela população local, tanto por cristãos como por judeus e samaritanos, que ainda eram grupos numericamente importantes na região. Estes últimos grupos tinham todos os motivos para preferir a organização árabe, vítimas que já eram da intensa perseguição cristã, que só pioraria com os séculos (aliás, no início do período árabe na Palestina—que se estenderia pelos próximos 1.300 anos–, uma pequena população judaica voltaria a se estabelecer em paz em Jerusalém, depois de 500 anos de ausência, que datavam da sangrenta expulsão que os romanos lhe haviam imposto no segundo século da era cristã). O período árabe também foi bem recebido pelos cristãos da região, que “eram arameus [e] não ficaram incomodados pela organização árabe, pois a etnia era semelhante, de origem semítica”, não tendo eles “motivos para gostar da administração bizantina, de origem romana, não semítica”1. Na Palestina árabe, apesar de um imposto específico para judeus e cristãos, eles gozavam de proteção como “Povos do Livro”, e a atmosfera não tinha muito em comum com o regime de terrorífica perseguição que se instalaria nas regiões controladas pelo Cristianismo. A Sura 2 de Maomé explicitamente rejeita a conversão e o proselitismo violento: “Não obrigueis ninguém em assuntos de religião”. A violência sectária só voltaria a se disseminar na Terra Santa com as empresas cristãs de conquista conhecidas como Cruzadas, a primeira das quais foi proclamada pelo Papa Urbano II em 1095 e resultou no estabelecimento do “Reino de Jerusalém”, em 1099, uma fortaleza de reduzidas relações com seu entorno árabe, ironicamente semelhante, neste aspecto, ao enjaulamento que as construções israelenses ilegais hoje impõem a Jerusalém. Continuar lendo

Entenda o mundo da fé: a diferença de crenças e práticas das principais religiões

Em meio a tantos cultos e crenças, é comum confundir divisões e ramificações de cada religião. Especialistas explicam o que prega cada uma dela e os principais termos usados pelos fiéis

LEONARDO QUARTO

Ter uma religião é um fato comum aos humanos desde o princípio da espécie

Ter uma religião é um fato comum aos humanos desde o princípio da espécie

No Brasil existem aproximadamente 125 milhões de católicos, 18 milhões de pentecostais e cerca de 8,5 milhões de protestantes. Outras religiões como Islamismo, Judaísmo, Budismo, Espiritismo e mais uma série de credos e cultos somam 5,4 milhões de fiéis. Antes de fechar essa conta, é preciso dizer que aqueles que alegam não ter nenhum credo chegam a 12 milhões em todo o país.

Com tantos cultos, missas e todo tipo de encontro que reúna um grupo determinado a cultivar uma fé é comum fazer confusão. Por exemplo, poucos conhecem a diferença entre protestantes e pentecostais. Ou ainda, o que difere o Judaísmo, uma das primeiras religiões do mundo, do Cristianismo? As dúvidas não param. É possível saber de cor o nome das 16 entidades cultuadas pelos seguidores do Candomblé? E mais, quando surgiu o Espiritismo? Quais são suas características centrais?

Para responder a essas e mais algumas perguntas de quem tem curiosidade de conhecer o mundo da fé, a reportagem do portal Gazeta Online ouviu uma série de teólogos, babalorixás, espíritas, judeus, filósofos e consultou ainda a literatura da área para apresentar para o leitor um pequeno dicionário com alguns dos termos usados pelas religiões mais cultuadas no mundo. Continuar lendo

Etiópia: celeiro de culturas, latrina do mundo branco

Dois brasileiros visitam país africano onde religiões e mitos ocidentais se encontram, marcados pela negritude e sob crescente influência chinesa…  

Por Fabiane Borges Hilan Bensusan | Fotos: Fabiane Borges

Salomão e a rainha de Sabá que história bonita. A rainha preta, atrevida, de gestos exuberantes. Ele profético, galinha, exotérico, prenhe de duas ou três civilizações epidêmicas. A promessa na cama: honra esse acasalamento Salomão, ou essa foda será em vão? Esse não foi o princípio, mas a rainha voltou grávida de Jerusalém, e isso sim foi um escândalo inaugural, que desviou o fluxo do que hoje chamamos Etiópia para lados não previstos. Ou teria coincidido a fertilidade da rainha com um plano bem armado? Seja como for Etiópia fundou nessa gravidez o pilar da sua história. Nao é assim que começam as histórias bastardas? Continuar lendo

As 8 maiores religiões do mundo

Carolina Vilaverde

Com tantas doutrinas espalhadas pelo mundo, é até difícil adivinhar quais têm os maiores números de seguidores. Por exemplo, uma delas tem seu principal núcleo de praticantes no Brasil. Você sabe qual é? Confira na lista que a SUPER preparou com as principais religiões do mundo:

8. Espiritismo (aprox. 13 milhões de adeptos)
Espiritismo não é exatamente uma religião, mas também entra na lista. A sobrevivência do espírito após a morte e a reencarnação são as bases dessa doutrina, que surgiu na França e se expandiu pelo mundo a partir da publicação de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec (1857). É no Brasil que se encontra a maior comunidade espírita do mundo: 1,3% da população do país é espírita. Continuar lendo