Às vésperas de uma nova corrida nuclear

Como a hipocrisia dos tratados internacionais e o declínio moral dos Estados Unidos estão gestando risco de rearmamento atômico generalizado

Por Immanuel Wallerestein | Tradução: Antonio Martins

Os Estados Unidos e o Irã estão envoltos em negociações difíceis sobre a possível obtenção, por Teerã, de armas nucleares. A probabilidade de estas negociações resultarem numa fórmula aceita por ambas as partes parece relativamente baixa, porque há, em ambos países, forças poderosas que se opõem frontalmente a um acordo e estão trabalhando com afinco para sabotá-lo.

A visão mais comum, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, é de que se trata, principalmente, de manter um país que se presume inconfiável, o Irã, distante de armas que poderiam ser usadas para se impor diante de Israel e do mundo árabe, em geral. Mas este não é o ponto, definitivamente. Os riscos de o Irã usar uma arma nuclear, se chegar a possuir alguma, não são maiores que os relacionados a cerca de dez outros países, que já têm este armamento. E a capacidade do Irã para proteger as armas contra roubo ou sabotagem é provavelmente maior que a da maior parte dos países.

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4 novos países que podem surgir em 2014

Quatro consultas populares, similares às da Crimeia, estão marcadas para esse ano – e podem resultar em novas nações

Manifestantes marcham pelas ruas de Barcelona em 11 de setembro, Dia Nacional para o povo catalão, que exige referendo para independência da Espanha: região é uma das quatro com consulta popular marcada para 2014

A população da Crimeia participou de um referendo no último dia 16 e escolheu em massa a Rússia em vez da Ucrânia: 93% optaram por voltar a fazer parte do império russo.

No mundo, quatro consultas parecidas estão marcadas para 2014.

Se o povo desses lugares votar a favor da independência, quatro novas nações poderiam surgir no mapa-múndi – o que dependeria, é claro, da “boa vontade” do governo central e de todo o processo legal necessário.

Veja a seguir onde sopram os ventos do separatismo: Continuar lendo

A Guerra Fria ainda não acabou

O inimigo do bloco ocidental agora não é o comunismo, mas sim todos os povos não ocidentais (BRICS, ALBA, Unasul) que questionam a ordem unipolar do mundo

Pierre Charasse (*)

A crise na Ucrânia coloca em evidência a crescente distância que separa o bloco ocidental da Rússia. Desde o colapso da URSS, em 1991, no mundo ocidental, sob a liderança dos Estados Unidos, foi estabelecida como prioridade estratégica não permitir nunca que a Rússia se elevasse novamente enquanto superpotência mundial. Os Estados Unidos desenvolveram uma estratégia de contenção para obrigar seus aliados da União Europeia e da OTAN a estabelecer toda uma rede de acordos políticos, comerciais e militares para impedir a Rússia de exercer novamente um papel de contraposição mundial aos Estados Unidos. Nos anos 90, os ex-membros da URSS entraram na OTAN e Washington pressionou a UE para admiti-los como novos sócios, desvirtuando assim o espírito originário da instituição europeia.

Está claro que, para o governo norte-americano, os espaços cobertos pela UE e pela OTAN devem coincidir. Desde os anos 90, a prioridade para os ocidentais era forçar a Rússia, derrotada ideologicamente e economicamente debilitada, mas ainda uma superpotência nuclear, a uma certa conduta, em particular sobre o desarmamento convencional, em troca de uma aproximação com as economias ocidentais. Criou-se a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) em 1995 para tratar dos assuntos referentes ao desarmamento convencional e das fronteiras da periferia da Rússia. Continuar lendo

Como ocorreu o milagre econômico de Hong Kong – da pobreza à prosperidade

Hong Kong, dias atuais

Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade.  E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação.

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível.

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950.  A economia começou a prosperar. Continuar lendo

Como ocorreu o milagre econômico de Hong Kong – os primórdios

Hong Kong, 1962

Por vinte anos consecutivos, o Índice de Liberdade Econômica, compilado pelo The Wall Street Journal e pela Heritage Foundation, classifica Hong Kong como a economia mais livre do mundo.  Este último ranking da Heritage confirma o que o Fraser Institute, do Canadá, também afirmou em seu último Índice, o qual também classificou a economia de Hong Kong como a mais livre do mundo.  O Banco Mundial, por sua vez, classifica a “facilidade de se fazer negócios” em Hong Kong como a melhor do planeta.

Embora faça parte da China desde que a Grã-Bretanha cedeu seu controle em 1997, Hong Kong é governado em termos estritamente locais.  Até o momento, o governo chinês tem se mantido razoavelmente fiel à sua promessa de deixar a economia de Hong Kong em paz.  Continuar lendo

O Brasil e seu “Mar Interior”

Grupo de ataque da marinha dos EUA: para Fiori, Brasil “tem, hoje, capacidade para explorar recursos — mas não, para defender soberania no Atlântico Sul”

Além do petróleo, país vê no Atlântico Sul espaço para projetar-se rumo à África. Mas EUA e Grã-Bretanha querem controlar militarmente oceano

Por José Luís Fiori

Situado entre a costa leste da América do Sul e a costa oeste da África Negra, o Atlântico Sul ocupa um lugar decisivo do ponto de vista do interesse econômico e estratégico brasileiro: como fonte de recursos, como via de comunicação e como meio de projeção da influência do país no continente africano. Além do “pré-sal” brasileiro, existem reservas de petróleo na plataforma continental argentina e na região do Golfo da Guiné, sobretudo na Nigéria, Angola, Congo, Gabão e São Tomé e Príncipe. Na costa ocidental africana, também existem grandes reservas de gás, na Namíbia, e de carvão, na África do Sul; e na bacia atlântica, acumulam-se crostas cobaltíferas, nódulos polimetálicos (contendo níquel, cobalto, cobre e manganês), sulfetos (contendo ferro, zinco, prata, cobre e ouro), além de depósitos de diamante, ouro e fósforo, entre outros minerais relevantes. Já foram identificadas grandes fontes energéticas e minerais, na região da Antártica. Além disto, o Atlântico Sul é uma via de transporte e comunicação fundamental entre o Brasil e a África, e é um espaço crucial para a defesa dos países ribeirinhos, dos dois lados do oceano. Continuar lendo

O que sobrou do império?

Uma sociedade de classes que, em economia, nega hipocritamente o legado de John Maynard Keynes. Por Gianni Carta

O primeiro-ministro britânico David Cameron

Encerrado o tempo de um império que dominou o mundo até o século XIX, os britânicos ainda são tidos como guardiões de uma eficaz política econômica, bem-sucedidos administradores e líderes governamentais. O sistema de classes na loura Albion permanece intacto. Boris Johnson, o prefeito de Londres, recomenda impávido: “A ganância e o espírito de inveja devem ser celebrados”. Colega do premier conservador David Cameron em Eton (escola para privilegiados onde estudaram os príncipes William e Harry), e com ambições de substituí-lo nas legislativas de 2015, Johnson acredita em uma sociedade de classes. Aqueles com QI mais elevado saem-se melhor em busca do lucro. Já quem dispõe de menor capacidade tem de aceitar seu papel medíocre. A desigualdade faz parte do jogo, para gerar o crescimento econômico, diz Johnson.

Cameron pertence à elite, embora às vezes use o termo “compaixão”. No entanto, não se manifestou com seu sotaque empastado de Eton e Oxford sobre os infelizes comentários de Johnson. Já os tories, assumidamente elitistas, certamente sentiram-se revigorados pelo discurso do prefeito. Por ora, Ed Miliband, o líder na oposição do Partido Trabalhista, está na dianteira das pesquisas eleitorais, ganharia se o pleito fosse hoje. Miliband haverá de focar sua campanha em uma sociedade igualitária, não de classes. Para que serve o desenvolvimento? Continuar lendo

O Brasil e a África negra

Para ampliar presença africana, país enfrentará dois grandes obstáculos: concorrência de potências globais e preconceito de nossas elites brancas

Por José Luís Fiori

Ao incluir a África dentro do seu “entorno estratégico”, e ao se propor aumentar sua influência no continente africano, o Brasil precisa ter plena consciência de que está entrando num jogo de xadrez extremamente complicado. Porque já está em pleno curso – na segunda década do século XXI – uma novas “corrida imperialista”, entre as “grandes potências”, e um dos focos desta disputa é, mais uma vez, a própria África. E não é impossível que as velhas e novas potências envolvidas na disputa pelos recursos estratégicos da África voltem a cogitar da possibilidade de estabelecer novas formas maquiadas de controle colonial sobre alguns países africanos, que eles mesmo criaram, depois da II Guerra Mundial.

A África é o segundo maior e mais populoso continente do mundo: tem uma área de 30.221.532 km² e cerca de 1 bilhão de habitantes, 15% da população mundial. O continente inclui a ilha de Madagascar, vários arquipélagos, nove territórios e 57 estados independentes. Os europeus chegaram à costa africana e iniciaram seu comércio de escravos negros nos séculos XV e XVI, mas foi só no século XIX que as grandes potências europeias ocuparam e impuseram sua dominação em todo continente, menos a Etiópia. Continuar lendo

26 mapas que vão fazer você entender melhor o Mundo

1. Mapa de “Pangeia” com as fronteiras internacionais de hoje

2. Países onde o Google Street View está disponível

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Qual o país mais racista da Europa?

Neste infame campeonato, é difícil escolher um vencedor. Mas algo parece claro: é preciso resgatar o Velho Continente de sua tendência atual ao ódio e fascismo 

Por Gavin Haynes, na Revista Vice  

O programa Panorama da BBC revelou recentemente que os poloneses são todos massivamente racistas. Como deixaram esses fanáticos hospedarem a Eurocopa 2012? Em resposta, a imprensa britânica anda esbravejando e discutindo sobre isso do jeito que a imprensa sempre faz quando não tem mais nada pra falar. O que a BBC ignorou, talvez deliberadamente, é que nenhum outro país da Europa é muito melhor.

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