Geografia na sala de aula

Um brilhante professor, de uma disciplina da área de exatas, com o qual trabalhamos durante muitos anos, uma vez nos perguntou qual seria o assunto da aula de geografia naquele dia. Quando respondemos que era o Programa Nacional do Álcool, ele fez um breve comentário: “Isso não é assunto de uma aula, mas de um evento!”.

          É evidente que, por trás desse comentário, feito por pura brincadeira, havia um certo ar de ironia. Pois, aos olhos de quem não trabalha com a geografia em sala de aula, tratar de um assunto desse porte em 50 minutos — mais do que um objetivo — é uma pretensão. E foi com o mesmo espírito de brincadeira (e também com o certo ar de ironia) que respondemos na mesma hora: “Afinal, se alguém nesta escola tem que ser pretensioso, então que sejam os professores de geografia!”.
Brincadeiras e ironias à parte, uma coisa é certa: o professor de geografia trata de assuntos “do tamanho e da complexidade do mundo”, o que explica sua necessidade de preparar a aula organizando-a de forma extremamente cuidadosa, respeitando uma seqüência de aspectos a serem analisados. No nosso caso, por exemplo, sempre procuramos preparar a aula respondendo a algumas questões que, apesar de óbvias, nos parecem fundamentais sobre o assunto.
Exemplificando, para uma aula sobre o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), poderíamos prepará-la respondendo às seguintes questões:
1. O que é Programa Nacional do Álcool?
2. Quando ele foi implantado?
3. Quais os motivos que contribuíram para sua implantação no país?
4. Por que ele se desenvolveu de forma mais expressiva no centro-oeste de São Paulo e na Zona da Mata do Nordeste?
5. Quais as causas de âmbito nacional e internacional que determinaram o apogeu e o declínio desse programa no cenário energético brasileiro?
6. Quais as principais conseqüências desse programa para o meio rural brasileiro?
7. Por que ele gerou tanta polêmica no país?
8. O que representa no contexto energético nacional nos dias atuais?
Se no correr da aula, conseguirmos responder adequadamente a cada uma dessas questões, na ordem em que elas se apresentam, certamente o assunto terá sido abordado de forma satisfatória no tempo disponível, sem que tenhamos deixado de tratar de algum aspecto fundamental.
É claro que, se houver maior disponibilidade de aulas para abordar esse mesmo assunto, o tratamento poderá ser muito mais enriquecido. Porém a realidade do sistema escolar brasileiro não se caracteriza por privilegiar a nossa disciplina com relação à carga horária. Por isso, o professor de geografia precisa desenvolver em seu trabalho uma fabulosa capacidade de síntese, refletindo na sala de aula aquela que é provavelmente a mais original característica da ciência geográfica: analisar a
dinâmica das relações estabelecidas entre a ação humana e o ambiente, baseando-se na síntese das informações oferecidas pelas ciências afins.

Hélio Tito são professores do ensino médio e autores do livro “Lições de Geografia” (Scipione)

Fonte: http://www.geomundo.com.br/sala-dos-professores-20124.htm 

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