Às vésperas de uma nova corrida nuclear

Como a hipocrisia dos tratados internacionais e o declínio moral dos Estados Unidos estão gestando risco de rearmamento atômico generalizado

Por Immanuel Wallerestein | Tradução: Antonio Martins

Os Estados Unidos e o Irã estão envoltos em negociações difíceis sobre a possível obtenção, por Teerã, de armas nucleares. A probabilidade de estas negociações resultarem numa fórmula aceita por ambas as partes parece relativamente baixa, porque há, em ambos países, forças poderosas que se opõem frontalmente a um acordo e estão trabalhando com afinco para sabotá-lo.

A visão mais comum, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, é de que se trata, principalmente, de manter um país que se presume inconfiável, o Irã, distante de armas que poderiam ser usadas para se impor diante de Israel e do mundo árabe, em geral. Mas este não é o ponto, definitivamente. Os riscos de o Irã usar uma arma nuclear, se chegar a possuir alguma, não são maiores que os relacionados a cerca de dez outros países, que já têm este armamento. E a capacidade do Irã para proteger as armas contra roubo ou sabotagem é provavelmente maior que a da maior parte dos países.

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‘Na moda’ na época da Guerra Fria, golpes de Estado estão mais raros

Rupturas como a de Honduras estão menos frequentes, diz estudo. G1 explica o que é um golpe de estado e lista os últimos.

Tropas fizeram guarda em frente à sede do governo tailandês em Baggcoc, após um golpe que tirou o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra do poder enquanto ele viajava, em setembro de 2006

Manuel Zelaya foi eleito presidente de Honduras em 2005 e empossado no cargo no começo de 2006. Seu mandato seguiu como prevê a lei hondurenha até junho deste ano, quando, após ter proposto um referendo inconstitucional sobre uma possível reeleição, ele foi retirado do cargo pelos militares e colocado num voo direto para a Costa Rica.

O grupo de civis e militares que o impediu de governar agora enfrenta um problema diplomático e político, com a volta de surpresa de Zelaya ao país. O impasse se arrasta desde segunda-feira, com protestos e mortes.

O que aconteceu em Honduras foi um golpe de Estado, ou a “ruptura violenta da ordem política que leva um grupo que está alojado no poder a ser dele desalojado”, como explicou ao G1 por telefone o pós-doutor em ciência política e professor de Relações Internacionais da PUC-SP Cláudio Gonçalves Couto.

Por “ruptura violenta” pode-se entender a tomada do poder pelas armas – e nesse caso se encaixam os golpes militares, pois, mesmo não havendo tiros, há a violência da ameaça imediata. Também pode ser considerada ato de violência a ruptura das regras normais de alternância no poder. “Aí podem ser entendidos como golpes de Estado, por exemplo, o uso de instrumentos paralegais ou o uso abusivo da lei como uma forma de afastar do poder de quem seria legitimamente seu ocupante”, explica o professor Claudio Couto. Continuar lendo

O Brasil, os EUA e o “Hemisfério Ocidental” (2)

Henry Kissinger encontra Augusto Pinochet: nos anos 1970, EUA substituíram proposta de intervenção militar, em caso de ameaça à sua hegemonia na América do Sul, por forma mais sutil de intervenção civil e militar “interna”

Para diplomacia norte-americana, manter supremacia sobre América do Sul continua sendo essencial. Por isso, prosseguirá tentativa de enfraquecer governos que Washington vê como “populistas”

Por José Luís Fiori

“A new form of nationalism may emerge, seeking national or regional
identity by confronting the United States. In its deepest sense,
the challenge 
of Western Hemisphere policy for the United States is
whether it can help bring about the world
envisioned by Free Trade Area of the Americas,
or whether the Western Hemisphere, for the first time in its history,
will break up into competing blocs;
whether democracy and free markets
will remain the dominant institutions
or whether there is a gradual relapse into populist authoritarianism.”

Henry. Kissinger “Does America Need a Foreign Policy?”

Henry Kissinger foi um formulador estratégico menos original do que Nicholas Spykman, mas em compensação ocupou inúmeras posições de governo e participou de algumas decisões internacionais que o transformaram numa das figuras mais importantes da política externa norte-americana, da segunda metade do século XX. Ele deixou a academia e se transformou em conselheiro governamental, no primeiro governo de Eisenhower, em 1953, e manteve presença nos governos republicanos até o final das administrações de Richard Nixon e Gerald Ford, de quem foi Conselheiro de Segurança, e Secretario de Estado, respectivamente. Neste último período, Henry Kissinger teve papel decisivo na redefinição da estratégia internacional dos EUA, depois da crise econômica do início dos anos 70, e depois da derrota americana no Vietnã, em 1973. Foi quando ele concebeu ou participou de algumas decisões norte-americanas que deixaram marcas profundas na história da diplomacia internacional. Entre elas, a das negociações de paz, no Vietnã, que levaram à assinatura dos Acordos de Paris, em 1973; e a das negociações secretas com Chou en Lai e Mão Tse Tung , em 1971 e 1972, que levaram à reaproximação dos Estados Unidos com a China, e a reconfiguração completa da geopolítica mundial antes e depois do fim da Guerra Fria. Continuar lendo

2013 em imagens: a versão da Agência Reuters

Em setenta fotos, um ano de desastres naturais, violência e medo — mas também protestos, transformações no quotidiano e esperança 

RAFAEL MARCHANTE, Portugal

JIM URQUHART, United States Continuar lendo

Entre o êxodo e a perda de vidas

No decorrer dos últimos 20 anos, cerca de 2,5 milhões de afegãos perderam suas vidas em diversos conflitos. Atualmente, o Afeganistão é o país de maior êxodo do mundo e estima-se que a maior parte dos refugiados afegãos se encontre em países vizinhos, como o Irã e o Paquistão, e que representem 6,3 milhões de pessoas

Luciana Garcia de Oliveira

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Número de refugiados e deslocados no mundo supera 45 milhões, diz ONU

De acordo com relatório das Nações Unidas, uma pessoa se torna refugiada a cada quatro segundos no mundo

O número de refugiados e deslocados no mundo bate recorde em quase vinte anos e alcança uma cifra de 45,2 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas, que alerta para a crise na Síria como um dos principais fatores de deslocamento global.

Segundo o Relatório Tendências Globais 2012, divulgado nesta quarta-feira, (19/06), de 2011 para 2012, 2,6 milhões de novos refugiados e deslocados se somaram aos já existentes 42,5 milhões (2011). Dos quais, 28,8 milhões de pessoas foram forçadas a fugir dentro das fronteiras de seus próprios países e 15,4 milhões obtiveram o status de refugiado em outros países.

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Obama defende drones contra o terror: “esses ataques salvam vidas”

Em seu discurso anual sobre segurança nacional, o presidente americano disse que o uso de aviões não tripulados previne a morte de mais pessoas inocentes

Obama durante o pronunciamento anual sobre segurança nacional Foto: AP

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu, nesta quinta-feira, o uso de drones na guerra contra o terrorismo. Em seu discurso anual sobre segurança nacional, em Washington, o líder americano disse que a tecnologia dos aviões não tripulados, apesar de levantar questões, é efetiva.”Esses ataques têm salvado vidas”, disse o presidente. Continuar lendo

Drones: dossiê sobre uma guerra suja

Como EUA executam, sem julgamento, supostos “inimigos”. Por que civis são alvo. De onde partem ataques. Que precedentes programa abre

Por Cora CurrierProPublica | Tradução Vila Vudu

É possível que você já tenha ouvido falar das “kill lists” – listas de nomes de pessoas a serem assassinadas. Certamente você já ouviu falar dos drones. Mas os detalhes da campanha que os EUA movem contra militantes no Paquistão, no Iêmen e na Somália – peça chave da abordagem que o governo Obama optou por dar à segurança nacional – permanecem envoltos em segredo. Aqui oferecemos um guia do que já sabemos e do que ainda não sabemos.

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Cuba: 50 verdades que Yoani Sánchez ocultará

Blogueira faz turnê mundial de 80 dias em cerca de 12 países do mundo para falar sobre Cuba. Mas não dirá tudo…

A famosa opositora está realizando uma turnê mundial de 80 dias em cerca de doze países do mundo para falar sobre Cuba. Mas não dirá tudo…

1. O artigo 1705 da Lei Torricelli, de 1992, adotada pelo Congresso norte-americano, estipula que: “Os Estados Unidos fornecerão apoio a organizações não-governamentais apropriadas, para apoiar indivíduos e organizações que promovam uma mudança democrática não-violenta em Cuba”.

2. O artigo 109 da Lei Helms-Burton, de 1993, aprovada pelo Congresso, confirma essa política: “O Presidente [dos EUA] está autorizado a proporcionar assistência e oferecer todo tipo de apoio a indivíduos e organizações não-governamentais independentes para apoiar os esforços com vistas a construir a democracia em Cuba”.

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Ásia corre o risco de ver deflagrada uma guerra da água

Planos da China de usar rios que nascem no Tibete alarmam os países vizinhos.

Atravessando o planalto do Tibete, cinco grandes rios – Indus, Brahmaputra, Irrawaddy, Salween e Mekong – carregam a água das geleiras dos Himalaias e das monções que abastece 1,3 bilhão de pessoas em vários países do Sudeste da Ásia. Agora, no entanto, este fornecimento está ameaçado pelos planos da China e de outros países da região de construir usinas, barragens e desvios em seu curso, o que pode gerar o primeiro grande conflito mundial em torno deste recurso cada vez mais escasso.

A luta pelo controle desta verdadeira “caixa d’água” continental teve seu primeiro contragolpe desferido pela Índia, onde a Suprema Corte do país ordenou no mês passado o início dos trabalhos para a construção de canais que vão interligar os principais rios indianos. No centro do projeto está uma estrutura de 400 quilômetros de extensão que vai desviar a água do Brahmaputra para o Ganges, visando a irrigar terras cultiváveis sedentas a cerca de mil quilômetros ao Sul. Continuar lendo