O brasileiro é um povo fútil?

por Diogo Costa

No relatório de consumo de países emergentes do Credit Suisse, o Brasil é o país com um consumo “discricionário mais prevalente”, o que é uma forma educada de dizer que gastamos mais dinheiro com futilidades do que outros países emergentes.Entre os brasileiros com uma renda de até U$1.000 (mensurada pela paridade do poder de compra), 62% dos participantes disseram que pretendem comprar roupa ou tênis “de marca” nos próximos 12 meses.  A proporção sobe para 74% entre os que ganham mais de U$2.000, maior do que nos demais países emergentes do relatório.Lembrando que, mesmo considerando a paridade de poder de compra, “roupa de marca” é mais cara aqui do que em outros países emergentes. Continuar lendo

Como ocorreu o milagre econômico de Hong Kong – da pobreza à prosperidade

Hong Kong, dias atuais

Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade.  E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação.

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível.

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950.  A economia começou a prosperar. Continuar lendo

Mercado de armas, desconhecido e devastador

Soldados filipinos se posicionam para atacar rebeldes muçulmanos: armas ocidentais

Quase sem controle dos Estados e sociedades, um punhado de empresas fatura 1,7 tilhão de dólares/ano, alimentando indústria da morte e corrupção política e midiática

Por Renato Brandão,

Há pelo menos 70 mil anos o homo sapiens já era dotado da capacidade de produzir armas. Junto com a capacidade de desenvolver a linguagem e dominar o fogo, a construção de instrumentos acompanhou a espécie humana nas tarefas de conquistar e se consolidar por diversas regiões do planeta. Transformações posteriores, em especial após os períodos Paleolítico e Neolítico, abririam uma nova etapa da evolução do homem, culminando com a formação de pioneiras organizações sociais e o surgimento da escrita, colocando fim à Pré-história. Homens e armas evoluíram pela Antiguidade até os dias atuais, em uma história de mais de 5 mil anos que vai do uso de metal derretido para fazer espadas, flechas e lanças, até o domínio biológico, químico e nuclear para construir armas de destruição em massa capazes de aniquilar o planeta em poucos minutos e por várias vezes. Continuar lendo

Espaço urbano: uma trajetória histórica

Para entendermos a atual dinâmica do espaço urbano, devemos vislumbrar quais processos dão origem a sua complexidade organizacional, sua forma, seu conteúdo e produção.

por Guilherme Freitas Hartmut Behm*

Como diria Lewis Mumford no estudo da história das cidades em seu livro A Cidade na História: “Se quisermos identificar a cidade, devemos seguir a trilha para trás, partindo das mais completas estruturas e funções urbanas conhecidas, para seus componentes originários, por mais remotos que se apresentem.”

Avenida Paulista em 4 tempos: 1. A Pintura de Jules Martin mostra a Avenida Paulista na época de sua inauguração. A Paulitsta foi inaugurada por Joaquim Eugênio de Lima no dia 8 de Dezembro de 1891. Fonte: Acervo do Museu Paulista da Universidadede São Paulo (reprodução do livro Álbum Iconográfico da Avenida Paulista de Benedito Lima de Toledo). 2. Foto de 1935 mostra a vista aérea da Avenida Paulista do trecho que vai da Rua Minas Gerais a Rua Augusta. Do lado direito, a grande construção é o Colégio São Luiz e ao fundo o bairro do Pacaembu. 3. Durante as décadas de 60 e 70, com a valorização imobiliária da região, começam a surgir na Avenida Paulista os característicos “espigões”, edifícios de escritórios com 30 andares em média. 4. Durante sua evolução, a Avenida Paulista passou por várias reformas paisagísticas. Os locais destinados aos carros foram alargados e criaram-se calçadões com desenhos de mosaicos portugueses em branco e preto.

O mundo nem sempre foi como hoje, urbano. No passado, antes da produção do excedente  , no período Paleolítico, os homens eram nômades, não tinham moradia fixa. Contudo, foi justamente nesse período que apareceram as primeiras manifestações e o interesse de se fixar  em algum lugar. Continuar lendo

O Desenvolvimentismo Inglês muito antes de Keynes

Guerra anglo-holandesa, marco da construção do poderio britânico

Guerra anglo-holandesa, marco da construção do poderio britânico

A partir do século XVII, protecionismo, sistema financeiro muito avançado e expansão militar fizeram da Inglaterra primeira grande potência capitalista

Por José Luís Fiori

O “milagre econômico inglês”, que deu origem ao capitalismo moderno, começou no século XVII, muito antes da chamada “revolução industrial”. De forma aproximada, pode-se dizer que seu início ocorreu entre a “República de Cromwell” (1649-1659) e o reinado de Guilherme III, o “rei holandês”, que governou a Inglaterra entre 1689 e 1702. Cromwell aumentou o poder naval da Inglaterra, fez guerra e venceu a Holanda (1652-1654) e a Espanha (1654-1660), as duas grandes potências marítimas do século XVII, e conquistou a ilha da Jamaica, em 1655, criando a primeira colônia do futuro Império Britânico. Além disto, Cromwell editou, em 1651, o 1º Ato da Navegação, que fechou os portos ingleses aos navios estrangeiros e se transformou no primeiro ato mercantilista agressivo da Inglaterra, fechando as fronteiras de sua economia nacional. Continuar lendo

O progresso conduz a uma vida melhor?

Para encontrar espaço entre quem vê tecnologia como redenção do ser humano e quem nega seu papel de forma absoluta

Para encontrar espaço entre quem vê tecnologia como redenção do ser humano e quem nega seu papel de forma absoluta

Por Arlindenor Pedro*

Quando coloquei a mão no bolso e vi que o meu Iphone4 não estava mais lá, e simplesmente tinha sido pungado, foi como se o mundo tivesse acabado. Nem a música contagiante do Bloco das Carmelitas, que cantava com alegria o que era a dor dos que perderam o Bonde, pode me devolver o bom humor. Definitivamente, o carnaval tinha acabado para mim, naquela tarde, nas calçadas de Santa Teresa. Continuar lendo