O que realmente é o fascismo

por Lew Rockwell

Todo mundo sabe que o termo fascista é hoje pejorativo; um adjetivo frequentemente utilizado para se descrever qualquer posição política da qual o orador não goste.  Não há ninguém no mundo atual propenso a bater no peito e dizer “Sou um fascista; considero o fascismo um grande sistema econômico e social.”Porém, afirmo que, caso fossem honestos, a vasta maioria dos políticos, intelectuais e ativistas do mundo atual teria de dizer exatamente isto a respeito de si mesmos.O fascismo é o sistema de governo que carteliza o setor privado, planeja centralizadamente a economia subsidiando grandes empresários com boas conexões políticas, exalta o poder estatal como sendo a fonte de toda a ordem, nega direitos e liberdades fundamentais aos indivíduos e torna o poder executivo o senhor irrestrito da sociedade.

Tente imaginar algum país cujo governo não siga nenhuma destas características acima.  Tal arranjo se tornou tão corriqueiro, tão trivial, que praticamente deixou de ser notado pelas pessoas.  Praticamente ninguém conhece este sistema pelo seu verdadeiro nome. Continuar lendo

Como ocorreu o milagre econômico de Hong Kong – da pobreza à prosperidade

Hong Kong, dias atuais

Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade.  E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação.

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível.

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950.  A economia começou a prosperar. Continuar lendo

O que sobrou do império?

Uma sociedade de classes que, em economia, nega hipocritamente o legado de John Maynard Keynes. Por Gianni Carta

O primeiro-ministro britânico David Cameron

Encerrado o tempo de um império que dominou o mundo até o século XIX, os britânicos ainda são tidos como guardiões de uma eficaz política econômica, bem-sucedidos administradores e líderes governamentais. O sistema de classes na loura Albion permanece intacto. Boris Johnson, o prefeito de Londres, recomenda impávido: “A ganância e o espírito de inveja devem ser celebrados”. Colega do premier conservador David Cameron em Eton (escola para privilegiados onde estudaram os príncipes William e Harry), e com ambições de substituí-lo nas legislativas de 2015, Johnson acredita em uma sociedade de classes. Aqueles com QI mais elevado saem-se melhor em busca do lucro. Já quem dispõe de menor capacidade tem de aceitar seu papel medíocre. A desigualdade faz parte do jogo, para gerar o crescimento econômico, diz Johnson.

Cameron pertence à elite, embora às vezes use o termo “compaixão”. No entanto, não se manifestou com seu sotaque empastado de Eton e Oxford sobre os infelizes comentários de Johnson. Já os tories, assumidamente elitistas, certamente sentiram-se revigorados pelo discurso do prefeito. Por ora, Ed Miliband, o líder na oposição do Partido Trabalhista, está na dianteira das pesquisas eleitorais, ganharia se o pleito fosse hoje. Miliband haverá de focar sua campanha em uma sociedade igualitária, não de classes. Para que serve o desenvolvimento? Continuar lendo

Ler novamente Keynes

A “insensatez” dos países dominantes, criticada pela Unasul na sexta-feira passada, se dá no marco de um “grande experimento” em política econômica do mundo desenvolvido. Se a primeira reação ao estouro financeiro de 2008 foi um acordo “keynesiano” do G-20 para evitar uma recessão como a de 1930, uma vez neutralizado o pânico, os governos centrais se inclinaram, com uma ou outra exceção, a atacar o déficit com a tradicional receita de corte do gasto público e de aumentos impositivos para aplacar os mercados financeiros (que acabam por resgatar).

Eminente autoridade em John Maynard Keynes, Lorde Robert Skidelsky, professor emérito da Universidade de Warwick e autor de Keynes: the return of the master [Keynes. O retorno do mestre], acredita que os países centrais transformaram suas próprias economias em um grande laboratório de ensaio. “Estão colocando à prova a teoria keynesiana que serviu para sair da débâcle dos anos 1930. Se a consolidação fiscal for a estrada da recuperação, devemos enterrar Keynes. Se, pelo contrário, os mercados financeiros e os políticos que lhes obedecem forem os “asnos” de que falava Keynes, teremos que pensar no que fazer com os mercados para poder voltar a governar”, assinalou Lord Skidelsky. Continuar lendo

O Desenvolvimentismo Inglês muito antes de Keynes

Guerra anglo-holandesa, marco da construção do poderio britânico

Guerra anglo-holandesa, marco da construção do poderio britânico

A partir do século XVII, protecionismo, sistema financeiro muito avançado e expansão militar fizeram da Inglaterra primeira grande potência capitalista

Por José Luís Fiori

O “milagre econômico inglês”, que deu origem ao capitalismo moderno, começou no século XVII, muito antes da chamada “revolução industrial”. De forma aproximada, pode-se dizer que seu início ocorreu entre a “República de Cromwell” (1649-1659) e o reinado de Guilherme III, o “rei holandês”, que governou a Inglaterra entre 1689 e 1702. Cromwell aumentou o poder naval da Inglaterra, fez guerra e venceu a Holanda (1652-1654) e a Espanha (1654-1660), as duas grandes potências marítimas do século XVII, e conquistou a ilha da Jamaica, em 1655, criando a primeira colônia do futuro Império Britânico. Além disto, Cromwell editou, em 1651, o 1º Ato da Navegação, que fechou os portos ingleses aos navios estrangeiros e se transformou no primeiro ato mercantilista agressivo da Inglaterra, fechando as fronteiras de sua economia nacional. Continuar lendo