Como ocorreu o milagre econômico de Hong Kong – da pobreza à prosperidade

Hong Kong, dias atuais

Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade.  E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação.

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível.

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950.  A economia começou a prosperar. Continuar lendo

Por trás da crise “financeira”, a velha luta de classes

Marx estava certo, por mais que economistas superficiais tentem negá-lo: causa das turbulências econômicas é enriquecimento sem-fim da burguesia

Por Vicenç Navarro | Tradução: Cibelih Hespanhol 

É surpreendente verificar que a extensíssima literatura produzida sobre as causas das crises atuais se tenha centrado tão pouco no conflito capital-trabalho (aquilo que costumávamos chamar de luta de classes) e sua gênesis no desenvolvimento da crise. Uma possível razão é a enorme atenção dada à crise financeira como suposta causa da recessão atual. Só que essa atenção desviou os analistas do contexto econômico, e também político, que determinou e configurou a crise.

Não é possível analisar cada uma delas, e a maneira como estão relacionadas, sem referir-se ao conflito capital-trabalho. Como bem disse Marx, “a história da humanidade é a história da luta de classes”. E as crises atuais (da financeira à econômica, passando pela social e política) são um claro exemplo disso. Continuar lendo

Ler novamente Keynes

A “insensatez” dos países dominantes, criticada pela Unasul na sexta-feira passada, se dá no marco de um “grande experimento” em política econômica do mundo desenvolvido. Se a primeira reação ao estouro financeiro de 2008 foi um acordo “keynesiano” do G-20 para evitar uma recessão como a de 1930, uma vez neutralizado o pânico, os governos centrais se inclinaram, com uma ou outra exceção, a atacar o déficit com a tradicional receita de corte do gasto público e de aumentos impositivos para aplacar os mercados financeiros (que acabam por resgatar).

Eminente autoridade em John Maynard Keynes, Lorde Robert Skidelsky, professor emérito da Universidade de Warwick e autor de Keynes: the return of the master [Keynes. O retorno do mestre], acredita que os países centrais transformaram suas próprias economias em um grande laboratório de ensaio. “Estão colocando à prova a teoria keynesiana que serviu para sair da débâcle dos anos 1930. Se a consolidação fiscal for a estrada da recuperação, devemos enterrar Keynes. Se, pelo contrário, os mercados financeiros e os políticos que lhes obedecem forem os “asnos” de que falava Keynes, teremos que pensar no que fazer com os mercados para poder voltar a governar”, assinalou Lord Skidelsky. Continuar lendo