A estratégia da Rússia e a inércia dos EUA no Egito, na Síria e na Líbia

2014 começou mal para a Casa Branca, que teve de baixar seu elmo imperial diante da Rússia, primeiro nas reuniões do Conselho de Segurança da ONU e depois nas negociações sobre a Síria; na região, o Egito voltou a se relacionar com a Rússia, enquanto na Líbia, o principal aliado dos EUA saiu do cenário político após o fracasso da intentona golpista de 13 de fevereiro

Achille Lollo

Quando o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, declarou diante das câmaras da CNN e da CBS que não seria mais candidato à sucessão de Obama, todo o mundo entendeu que algo estava acontecendo na cúpula do Partido Democrata, em função da inércia política com a qual Barack Obama e o próprio John Kerry se empenharam nas questões internacionais e em particular no Oriente Médio.

Uma inércia que por um lado tomou conta da diplomacia estadunidense, sobretudo após o escândalo da espionagem da NSA e que, por outro lado, engessou a dinâmica geoestratégica que o próprio Obama queria introduzir nas principais áreas críticas, nomeadamente: o Egito, a Síria e a Líbia. Continuar lendo

Revolução Iraniana: 35 anos de resistência e avanços

O Irã vai surpreendendo o mundo, graças aos seus elevados indicadores sociais, educacionais, pelo seu desenvolvimento cultural e científico

Beto Almeida

Imediatamente após a eclosão da Revolução Islâmica no Irã – um poderoso movimento de massas liderado pelo aiatolá Khomeini – o imperialismo congelou todas as reservas iranianas no sistema bancário internacional, estimadas em 100 bilhões de dólares. Isso foi em 11 de fevereiro de 1979, quando, ao preço de grande quantidade de vidas, esta rebelião popular se levantou corajosamente contra a ditadura monárquica do Xá Reza Pahlevi, que governava a nação persa mediante um brutal opressão praticada pela sanguinária polícia Savak, sem a menor sombra de eleições durante décadas, e com o total apoio das chamadas “democracias ocidentais”, especialmente os EUA e a Inglaterra.

Aliás, no momento em que foi derrubada, a monarquia do Xá estava justamente implementando, com o apoio de tecnologia inglesa, o seu programa nuclear. Era o cálculo cego do imperialismo sobre os movimentos da história, que, naquele ano de 1979, também daria ao mundo a Revolução Sandinista, na Nicarágua, em 19 de julho, inaugurando outra via histórica para a pátria de Sandino, que a faz hoje um país membro da Celac, tendo eliminado uma vez o analfabetismo, preparando-se para fazê-lo pela segunda vez, sempre com o apoio indispensável de Cuba. Continuar lendo

Por que Kennedy ainda desponta como mito nos EUA, 50 anos depois de sua morte?

Historiadores e especialistas contestam figura de “presidente herói”, perpetuado na sociedade norte-americana

A queda de um mito. Esta é uma frase clássica nos EUA para explicar como a morte de John Fitzgerald Kennedy afetou o país em 22 de novembro de 1963. “Qualquer que fosse o desastre natural”, disse o cronista Gay Talese, teria tido um efeito menos catastrófico que o assassinato do presidente. A razão? O jovem democrata, morto aos 46 anos foi responsável pelas ideias mais notórias acerca de questões sociais, econômicas e políticas no século XX na América do Norte, de acordo com historiadores e especialistas. Todavia, 50 anos depois, ainda restam controvérsias sobre o seu legado.

John Kennedy arrastava multidões por onde passava; não sobreviveu a de Dallas, Texas

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Ecos de uma guerra por petroléo

Tempos atrás, os responsáveis norte-americanos asseguraram: a invasão do Iraque − que completará dez anos no dia 20 de março de 2013 − não tinha como objetivo a exploração do petróleo, mas sim a busca por armas de destruição em massa. Entretanto, documentos recentemente desclassificados pelos EUA mostram outra história

por Jean-Pierre Séréni

Membros da unidade de antiterrorismo iraquiana protegem instalação de petroléo na cidade de Basra

Para a população iraquiana, é muito claro; para os falcões do Pentágono, um contrassenso. A guerra do Iraque, que desde março de 2003 fez ao menos 650 mil mortos, 1,8 milhão de exilados e tantas outras pessoas deslocadas, foi uma guerra pelo petróleo? Graças a uma série de documentos norte-americanos recentemente desclassificados1 e apesar das negações de George W. Bush, de seu vice-presidente Dick Cheney, de seu ministro da Defesa Donald Rumsfeld, assim como de seu fiel aliado Tony Blair, primeiro-ministro britânico no momento da invasão, o historiador agora pode responder a essa pergunta com uma afirmativa.

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Drones: dossiê sobre uma guerra suja

Como EUA executam, sem julgamento, supostos “inimigos”. Por que civis são alvo. De onde partem ataques. Que precedentes programa abre

Por Cora CurrierProPublica | Tradução Vila Vudu

É possível que você já tenha ouvido falar das “kill lists” – listas de nomes de pessoas a serem assassinadas. Certamente você já ouviu falar dos drones. Mas os detalhes da campanha que os EUA movem contra militantes no Paquistão, no Iêmen e na Somália – peça chave da abordagem que o governo Obama optou por dar à segurança nacional – permanecem envoltos em segredo. Aqui oferecemos um guia do que já sabemos e do que ainda não sabemos.

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Para compreender as novas ciberguerras

Novo tipo de confronto bélico já começou. Como Estados e exércitos capacitam-se para bloquear capacidade militar de adversários, atingir instalações industriais e própria população civil

Por Cauê Seignemartin Ameni

O general prussiano Carl von Clausewitz ficou conhecido pela frase em que apontava a associação entre guerra e política: “A guerra é a continuação da política por outros meios”. Um século e meio depois, o filósofo francês Michel Foucault inverteu a equação, afirmando que “a política é a continuação da guerra por outros meios”, ao alegar ser a guerra civil o paradigma da sociedade moderna. Há controvérsias sobre qual das formulações é mais adequada, razão, mas algo parece certo: está surgindo uma nova modalidade de conflito, que pode transformar, nas próximas décadas, tanto a natureza dos conflitos bélicos quanto suas implicações políticas. Continuar lendo