De Mercator ao Google Maps

Decisões cartográficas podem fazer enorme diferença na forma como percebemos o mundo


Mapa da África por Janszoon Blaeu em 1635: “em vez de cidades, elefantes”

 

Mais ou menos na metade do impressionante e espirituoso poema do irlandês Jonathan Swift, “Sobre a Poesia: Uma Rapsódia”, o escritor satírico do século 18 volta brevemente sua atenção para os mapas da África, escrevendo:

“Assim, os geógrafos, em cartas africanas,
Com cenas selvagens preenchem as lacunas,
E no interior, inóspito e distante,
Em vez de cidades, colocam um elefante.”

Na época de Swift, os exploradores europeus haviam apenas margeado as regiões costeiras da África; seu interior permanecia, para todos os fins, um mistério. Mas, como observa o poeta, em vez de simplesmente deixar o interior do continente vazio, os cartógrafos “preenchem as lacunas” com aquilo que acreditam residir nestas regiões remotas do mundo, como estranhos macacos, leões itinerantes e “em vez de cidades, colocam um elefante”. Continuar lendo

O Brasil, EUA e o “Hemisfério Ocidental”

Washington deve sufocar militarmente ações comuns da América do Sul, propôs teórico geopolítico norte-americano mais influente no século XX. Em que medida proposição prevalece?

Por José Luis Fiori

As terras situadas ao sul do Rio Grande constituem
um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. 

E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina
do continente 
tenham que ser chamadas igualmente de América, 
evocando similitudes entre as duas que de fato não existem

N. Spykman, “America´s Strategy in World Politics”

Tudo indica que os Estados Unidos serão o principal contraponto da política externa brasileira, dentro do Hemisfério Ocidental, durante o século XXI. E quase ninguém tem dúvida, também, de que os EUA seguirão sendo, por muito tempo, a principal potência militar, e uma das principais economias do mundo. Por isto é fundamental compreender as configurações geopolíticas da região, e a estratégia que orienta a política hemisférica norte-americana, deste início de século. Continuar lendo

Frio nos EUA – Aspectos históricos e implicações no clima local

Por: Professor Eugenio Hackbart

Os Estados Unidos enfrentaram na última semana uma brutal onda de frio. Muito se disse sobre a onda gelada e suas consequência, mas no noticiário geral não se viu profundidade sobre as suas causas, o padrão de circulação atmosférica que a desencadeou e como este episódio se insere na climatologia local e no contexto geral das mudanças climáticas. De início, foi uma expressiva onda de frio que de forma alguma pode ser reduzida. Grandes áreas dos Estados Unidos experimentaram suas menores mínimas em quase duas décadas. Não fazia tamanho frio desde a metade da década de 90 em diversos estados.

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Por que Kennedy ainda desponta como mito nos EUA, 50 anos depois de sua morte?

Historiadores e especialistas contestam figura de “presidente herói”, perpetuado na sociedade norte-americana

A queda de um mito. Esta é uma frase clássica nos EUA para explicar como a morte de John Fitzgerald Kennedy afetou o país em 22 de novembro de 1963. “Qualquer que fosse o desastre natural”, disse o cronista Gay Talese, teria tido um efeito menos catastrófico que o assassinato do presidente. A razão? O jovem democrata, morto aos 46 anos foi responsável pelas ideias mais notórias acerca de questões sociais, econômicas e políticas no século XX na América do Norte, de acordo com historiadores e especialistas. Todavia, 50 anos depois, ainda restam controvérsias sobre o seu legado.

John Kennedy arrastava multidões por onde passava; não sobreviveu a de Dallas, Texas

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Novas descobertas no canal do Panamá mudam História da América

Istmo centro-americano se fechou há 10 milhões de anos e não há 3,5 milhões como se pensava até agora

O istmo centro-americano se fechou há 10 milhões de anos e não há 3,5 milhões como se pensava até agora, revelam achados encontrados nas obras de ampliação do canal do Panamá, uma descoberta que revolucionará os livros de História.

“A maior parte da paisagem no Panamá se formou há 10 milhões de anos. Antes, acreditava-se que a paisagem tinha se formado há 3,5 milhões de anos”, afirmou durante entrevista coletiva Carlos Jaramillo, cientista colombiano do Instituto Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais (STRI, na sigla em inglês).

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Não chore ainda pela Primavera Árabe

Tunis, 6 de fevereiro: multidões tomam as ruas em protestos contra o assassinato de Chokri Belaid, líder político laico e à esquerda

Immanuel Wallerstein analisa os novos cenários no Egito e Tunísia. Sua opinião: é cedo para dizer que revoluções foram derrotadas

Por Immanuel Wallerstein | Tradução: Gabriela Leite

Na Tunísia, em dezembro de 2010, um único indivíduo acendeu a chama da revolução popular contra um ditador corrupto. A revolta foi prontamente seguida por uma explosão similar no Egito, contra um tirano parecido. O mundo árabe estava atônito e a opinião pública mundial tornou-se imediatamente muito simpática a essas expressões-“modelo” das lutas ao redor do planeta por autonomia, dignidade e um mundo melhor.

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Um século de clima alterado

Essa jornada especialmente quente, que se apresenta uma vez a cada 20 anos, no final do século 21 ocorrerá a cada dois anos na maioria das regiões do planeta

Por Stephen Leahy*

As condições meteorológicas extremas se tornam norma em grande velocidade. Assim confirmam as duas semanas de calor forte que atingiram Canadá e Estados Unidos quando o gelo e a neve do inverno ainda não haviam derretido. No mês passado, boa parte da América do Norte “cozinhou” a temperaturas extraordinariamente altas, que derreteram toda a neve e o gelo invernais e bateram por ampla margem os recordes térmicos dos últimos 150 anos. No ano passado, os Estados Unidos suportaram 14 desastres – inundações, furacões e tornados – que causaram perdas de vários milhares de milhões de dólares. Continuar lendo