Boko Haram, de seita extremista a grupo armado

Pregando um islã radical e rigoroso, movimento culpa os valores ocidentais, instaurados pelos colonizadores britânicos, por serem a fonte todos os males sofridos pelo país africano

Vídeo divulgado pelo grupo mostra meninas sequestradas

O grupo radical islâmico Boko Haram, autor do sequestro de mais de 200 estudantes na Nigéria, nasceu de uma seita que atraiu a juventude do norte do país com um discurso crítico em relação ao regime nigeriano corrupto. Pregando um islã radical e rigoroso, Mohammed Yusuf, o fundador, acusava os valores ocidentais, instaurados pelos colonizadores britânicos, de serem a fonte todos os males sofridos pelo país. Boko Haram significa “a educação ocidental é pecaminosa” em haussa, a língua mais falada no norte da Nigéria.

O grupo também atraiu a juventude de Maiduguri, capital do estado de Borno, com um discurso agressivo contra o governo. Os novos recrutas estão principalmente entre os “almajirai”, os estudantes corânicos itinerantes, que não tiveram acesso a uma educação de qualidade por serem muito pobres. Também recebe apoio de intelectuais que consideram que a educação ocidental corrompe o islã tradicional. Continuar lendo

Genocídio Armênio: as consequências de 99 anos de negação e esquecimento

Reconhecimento do massacre e atual limpeza étnica em Kessab são chave para entender esse povo tão peculiar

“Eu gostaria de ver qualquer força deste mundo destruir esta raça, esta pequena tribo de pessoas sem importância, cujas guerras foram todas lutadas e perdidas, cujas estruturas foram todas destruídas, cuja literatura não foi lida, a música não foi ouvida, e as preces já não são mais atendidas. Vá em frente, destrua a Armênia. Veja se consegue. Mande-os para o deserto sem pão ou água. Queimem suas casas e igrejas. Daí veja se eles não vão rir, cantar e rezar novamente! Quando dois armênios se encontrarem novamente em qualquer lugar neste mundo, veja se eles não vão criar uma nova Armênia”, escreveu em 1935 o autor norte-americano de origem armênia William Saroyan.

Sobre todas essas desgraças, o escritor se refere principalmente ao primeiro genocídio do século XX, praticado pelos turcos contra os armênios há exatamente 99 anos. Mas o que faz o extermínio desta “pequena tribo de pessoas sem importância” algo digno de se lembrar? Geralmente, o ato de recordação de um massacre vem da necessidade de honrar seus mortos e manter latentes os acontecimentos para que estes não se repitam. Contudo, esse não é o caso dos armênios. Continuar lendo

A estratégia da Rússia e a inércia dos EUA no Egito, na Síria e na Líbia

2014 começou mal para a Casa Branca, que teve de baixar seu elmo imperial diante da Rússia, primeiro nas reuniões do Conselho de Segurança da ONU e depois nas negociações sobre a Síria; na região, o Egito voltou a se relacionar com a Rússia, enquanto na Líbia, o principal aliado dos EUA saiu do cenário político após o fracasso da intentona golpista de 13 de fevereiro

Achille Lollo

Quando o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, declarou diante das câmaras da CNN e da CBS que não seria mais candidato à sucessão de Obama, todo o mundo entendeu que algo estava acontecendo na cúpula do Partido Democrata, em função da inércia política com a qual Barack Obama e o próprio John Kerry se empenharam nas questões internacionais e em particular no Oriente Médio.

Uma inércia que por um lado tomou conta da diplomacia estadunidense, sobretudo após o escândalo da espionagem da NSA e que, por outro lado, engessou a dinâmica geoestratégica que o próprio Obama queria introduzir nas principais áreas críticas, nomeadamente: o Egito, a Síria e a Líbia. Continuar lendo

Por que a Síria pode incendiar o Oriente Médio

Immanuel Wallerstein descreve o caos geopolítico da região e alerta: “não há mais controle; será preciso sorte, para evitar uma explosão”

Por Immanuel Wallerstein | Tradução: Antonio Martins | Imagem: Henri RousseauGuerra (1894)

Houve um tempo em que todos, ou quase todos os atores no Oriente Médio, tinham posições claras. Era possível antecipar, com alto grau de êxito, como este ou aquele ator reagiria a qualquer fato novo. Este tempo passou. Se examinarmos a guerra civil na Síria, perceberemos rapidamente não apenas que cada ator estabelece para si mesmo um largo leque de objetivos, mas também que cada um está envolvido em debates internos ferozes, sobre que posição deveria adotar.

No próprio interior da Síria, a situação oferece três opções básicas. Há quem apoie, por diversas razões, a manutenção do regime hoje no poder. Há os que desejem a chamada “solução salafista, na qual alguma forma de regime da sharia islâmica se estabelece. E existem os que não querem nenhum destes desfechos, preferindo uma solução em que o regime de Assad é derrubado mas não se instala, em seu lugar, um regime salafista. Continuar lendo

Síria, entenda a crise e os conflitos.

Introdução

A mais sangrenta e violenta das Revoltas da chamada “Primavera Árabe” visando derrubar ditadores no mundo árabe (a luta teve início em março de 2011). 

Mais de 100 mil pessoas já morreram desde o início do conflito na Síria, há mais de dois anos, afirmou nesta quarta-feira o Observatório Sírio para Direitos Humanos, baseado em Londres. Segundo o grupo, um total de 100.191 pessoas morreram nos 27 meses de conflito. Desse número, 36.661 são civis.

No lado do governo, 25.407 são membros das forças armadas do presidente Bashar Assad, 17.311 são combatentes pró-governo e 169 são militantes do grupo libanês Hezbollah, que têm lutado ao lado das tropas do Exército. Entre os oponentes de Assad, morreram 13.539 rebeldes, 2.015 desertores do Exército e 2.518 combatentes estrangeiros.

No início do mês, a Organização das Nações Unidas afirmou que o número de mortos nos conflitos estava em 93 mil entre março de 2011 até o fim de abril deste ano.

O governo não divulgou números oficiais. A imprensa estatal publicava os nomes dos mortos no lado do governo nos primeiros meses de conflitos, mas depois interrompeu as publicações.  Continuar lendo

Caso Manning: sinal da decadência americana?

Protestos em Fort Meade, onde Bradley Manning permanece detido

Se condenarem soldado que denunciou horrores da guerra, EUA atingirão liberdade de imprensa e confirmarão declínio de sua democracia

Glenn Greenwald, entrevistado por Amy Goodman, do Democracy Now Tradução: Cauê Seignemartin Ameni

Começou semana passada (3/6) no Fort Meade, sede da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, um dos mais importantes julgamentos na recente história daquele país. Após 1.100 dias detido em cativeiro militar, acusado de entregar mais de 700 mil documentos para o site Wikileaks, o soldado Bradley Manning, hoje com 25 anos, responderá em corte marcial 22 acusações, entre as quais “cooperação com o inimigo (Al-Qaeda)”, o que pode levá-lo a prisão perpetua. Continuar lendo

Síria: uma guerra de todos contra todos

Eleição do moderado Rowhani no Irã complica guerra civil na Síria, onde EUA e al-Qaeda estão do mesmo lado

Por Roberto Cattani

Até agora, sob a presidência de Mahmoud Ahmadinejjad, o Irã era o principal suporte econômico e financeiro do regime de Bashar al-Assad, o grande aliado estratégico, e o maior fornecedor de armas, por intermediário do movimento xiita libanês Hezbollah.

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Guerra esquecida: Iraque vive nova onda de violência com centenas de mortos

Cenário atual lembra os piores dias da violência sectária que, entre 2005 e 2007, matava uma média de três mil por mês

Nesta quinta-feira (30/05), foram 11. Somente nos últimos sete dias, 166. Levando em conta abril – o mês mais violento do ano –, mais de 700. Apesar de o número de mortos crescer de forma assustadora no Iraque, não se pode dizer o mesmo sobre a atenção mundial dada ao país, invadido pelos Estados Unidos há pouco mais de 10 anos.

Família iraquiana caminha em frente a praça de Bagdá onde pelo menos sete pessoas foram mortas e 34 ficaram feriadas

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Obama defende drones contra o terror: “esses ataques salvam vidas”

Em seu discurso anual sobre segurança nacional, o presidente americano disse que o uso de aviões não tripulados previne a morte de mais pessoas inocentes

Obama durante o pronunciamento anual sobre segurança nacional Foto: AP

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu, nesta quinta-feira, o uso de drones na guerra contra o terrorismo. Em seu discurso anual sobre segurança nacional, em Washington, o líder americano disse que a tecnologia dos aviões não tripulados, apesar de levantar questões, é efetiva.”Esses ataques têm salvado vidas”, disse o presidente. Continuar lendo

“EUA usam drones como alternativa a Guantánamo”, diz ex-consultor do governo

Mortes com veículos não tripulados já chegaram a 4.700 em quatro países

“Esse governo optou por, em vez de prender membros da Al Qaeda, simplesmente matá-los”. A polêmica frase foi proferida pelo advogado John Bellinger, responsável por coordenar a criação das bases jurídicas da política norte-americana para o uso letal de drones (aviões não-tripulados) contra suspeitos de terrorismo, que criticou duramente o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante conferência em Washington realizada nesta quinta-feira (02/05).

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