2014 começou mal para a Casa Branca, que teve de baixar seu elmo imperial diante da Rússia, primeiro nas reuniões do Conselho de Segurança da ONU e depois nas negociações sobre a Síria; na região, o Egito voltou a se relacionar com a Rússia, enquanto na Líbia, o principal aliado dos EUA saiu do cenário político após o fracasso da intentona golpista de 13 de fevereiro
Achille Lollo
Quando o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, declarou diante das câmaras da CNN e da CBS que não seria mais candidato à sucessão de Obama, todo o mundo entendeu que algo estava acontecendo na cúpula do Partido Democrata, em função da inércia política com a qual Barack Obama e o próprio John Kerry se empenharam nas questões internacionais e em particular no Oriente Médio.
Uma inércia que por um lado tomou conta da diplomacia estadunidense, sobretudo após o escândalo da espionagem da NSA e que, por outro lado, engessou a dinâmica geoestratégica que o próprio Obama queria introduzir nas principais áreas críticas, nomeadamente: o Egito, a Síria e a Líbia.
Um contexto que a arrogância do governo sionista, liderado por Benjamin Netanyahu, evidenciou já em setembro de 2013, quando John Kerry fez de tudo para não fazer transparecer a falta de uma dinâmica política para a geoestratégica que os EUA deviam ter para uma região tão complexa e desconforme como o Oriente Médio.
De fato, Barack Obama e as “excelências” da Casa Branca acharam que o desengajamento do corpo expedicionário estadunidense no Iraque e consequentemente no Afeganistão, deveria legitimar a manutenção do “poder imperial” na região e dar continuidade a todas as coordenadas geoestratégicas que o Pentágono e a CIA haviam estabelecido para a solução das ditas “crises locais”, que em seguida, contrariando as expectativas das “excelências”, tomaram conta da realidade política do Egito, da Líbia e, sobretudo da Síria.
Nesse cenário, que inicialmente seguiu as linhas-mestras do falacioso belicismo de Hillary Clinton, para depois conhecer a permanente irresolução de John Kerry, ficou evidente que os EUA não tinham mais autoridade e também capacidade de impor aos seus principais aliados da região (Israel, Arábia Saudita e Turquia), uma linha de ação comum, em termos políticos e diplomáticos, capaz de impor a lógica e os desenhos geoestratégicos dos EUA.
Bate-cabeças
Os críticos de Obama dizem que tudo isso aconteceu porque na Casa Branca nunca houve uma linha política de ação que combinasse a atividade diplomática com as soluções militares do Pentágono e com os planos subversivos da CIA. Em respostas, os defensores do presidente atribuem à Hillary Clinton a responsabilidade desse falso engodo político, que ela determinou para se autopromover na sucessão de Obama, primeiro no seio do Partido Democrata e depois diante do eleitorado estadunidense.
Uma operação que falhou de forma miserável, primeiro com a realização da invasão da Líbia e o consequente caos que tomou conta das instituições e da economia daquele país e depois com a organização da maldosa “campanha humanitária pela liberdade na Síria”, que abriu as portas à guerra civil e a inegável afi rmação militar das milícias jihadistas e da Al-Qaeda. Aliás, se, hoje, o exército do governo de Bashar Al-Assad está em condição de fi nalizar o cerco militar em Homs, contra os combatentes do ELS (fi nanciados e monitorados pela CIA), e em Aleppo, onde resistem os últimos pelotões jihadistas (fi nanciados pela Arábia Saudita e o Qatar), isso é a prova evidente do fracasso político, diplomático e, sobretudo, geoestratégico dos EUA na dita “campanha humanitária pela liberdade na Síria”.
Achille Lollo é jornalista italiano, correspondente do Brasil de Fato na Itália e editor do programa TV “Quadrante Informativo”.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/27526