Revolução Iraniana: 35 anos de resistência e avanços

O Irã vai surpreendendo o mundo, graças aos seus elevados indicadores sociais, educacionais, pelo seu desenvolvimento cultural e científico

Beto Almeida

Imediatamente após a eclosão da Revolução Islâmica no Irã – um poderoso movimento de massas liderado pelo aiatolá Khomeini – o imperialismo congelou todas as reservas iranianas no sistema bancário internacional, estimadas em 100 bilhões de dólares. Isso foi em 11 de fevereiro de 1979, quando, ao preço de grande quantidade de vidas, esta rebelião popular se levantou corajosamente contra a ditadura monárquica do Xá Reza Pahlevi, que governava a nação persa mediante um brutal opressão praticada pela sanguinária polícia Savak, sem a menor sombra de eleições durante décadas, e com o total apoio das chamadas “democracias ocidentais”, especialmente os EUA e a Inglaterra.

Aliás, no momento em que foi derrubada, a monarquia do Xá estava justamente implementando, com o apoio de tecnologia inglesa, o seu programa nuclear. Era o cálculo cego do imperialismo sobre os movimentos da história, que, naquele ano de 1979, também daria ao mundo a Revolução Sandinista, na Nicarágua, em 19 de julho, inaugurando outra via histórica para a pátria de Sandino, que a faz hoje um país membro da Celac, tendo eliminado uma vez o analfabetismo, preparando-se para fazê-lo pela segunda vez, sempre com o apoio indispensável de Cuba. Continuar lendo

ESPECIAL DAVID HARVEY – 3 entrevistas realizadas com o geógrafo em sua última passagem pelo Brasil

O marxista que quer reinventar as cidades (I)

David Harvey provoca, em longa entrevista: é hora de adaptar ambiente urbano ao tipo de gente que queremos ser

Entrevista a Vince Emanuele | Tradução: Sônia Scala Padalino

Se vivemos em cidades que nos infernizam e aprisionam, qual a causa de sua desumanidade? E, mais importante: que caminhos permitirão transformá-las? As respostas, para esta questão crucial, raramente coincidem. Às vezes, são genéricas demais e paralisam: núcleos urbanos insuportáveis seriam consequência necessária de um sistema que coloca o lucro acima dos seres humanos. Só o fim do capitalismo abriria espaço para novas cidades. Em outros casos, as respostas são muito pouco ambiciosas. Diante de adversários poderosíssimos – o poder econômico e uma política institucional cada vez mais impermeável às aspirações sociais – deveríamos nos concentrar em humanizar espaços restritos. Uma bairro, uma praça, uma horta comunitária.

Acaba de percorrer três cidades brasileiras – Rio, Florianópolis e São Paulo – David Harvey, um pensador que busca, há décadas, soluções para este impasse. Geógrafo, Harvey é também marxista. Para ele, portanto, o degradação das cidades está associada ao capitalismo. Continuar lendo

Para compreender o “Decrescimento”

Movimento não é saudosista, nem anticivilizatório. Mas sustenta: sem rever padrões de consumo e produção, “progresso” resultará em desigualdade e devastação

Por Alan Bocato-Franco

Pouco frequente, ainda, no Brasil, um debate tomou corpo e expandiu-se rapidamente nos últimos anos, em paralelo ao desconforto com o capitalismo e seus impasses. Trata-se da ideia de “decrescimento”. “Outras Palavras” abordou-o em diversos textos, no passado — mas deu-lhe destaque especial em 10 de outubro. Um artigo do cientista político catalão Vicenç Navarro criticava “algumas teorias” do decrescimento. Em sua opinião, elas acabam reduzindo-se a um ambientalismo elitista e antissocial, ao sugerirem, diante de países em crise, a continuação das políticas de “austeridade”, que geram mais desemprego e desindustrialização.

O artigo de Navarro gerou importante polêmica, na seção de comentários dos leitores. “Outras Palavras” convidou um dos polemistas, Alan Bocato-Franco, a escrever uma réplica. O resultado foi melhor que a encomenda. Muito mais que polemizar com Navarro — com quem, aliás, parece compartilhar pontos de vista –, Alan traça, no texto a seguir, um importante panorama sobre a origem, sentido e história das teorias do “decrescimento”. Continuar lendo

Em Bangladesh, o horror

Antes mesmo do colapso das oficinas do Rana Plaza, em Daca, que matou mais de mil operários, outros dramas haviam jogado luz sobre as condições de trabalho nas fábricas de confecção de Bangladesh. Como o país chegou a tal situação?

por Olivier Cyran

Visível a diversas centenas de metros ao redor, a brilhante torre de vidro que se ergue solitária na margem do lago Hatirjheel evoca um enxerto do centro de Londres transplantado para o coração de uma gigantesca favela. Continuar lendo

Brasil se aproveita do sonho de Bolívar

Unificar os doze países da América do Sul para livrá-los da tutela norte-americana: no Brasil, o projeto de integração é unanimidade. Reunindo patrões e sindicalistas, movimentos sociais e representantes do governo, tal mobilização poderia, entretanto, facilitar o surgimento de uma nova hegemonia

por Renaud Lambert

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Alheio a riscos, Brasil quer retomar extração de terras-raras

Extração, porém, implica riscos econômicos e ambientais. Esses metais estão associados à indústria de alta tecnologia

País abandonou exploração dos metais de terras-raras na década de 90, mas, com o salto no preço da matéria-prima, quer brigar com a China por uma fatia do mercado

O Brasil quer entrar num mercado arriscado. Depois de abandonar a produção dos metais de terras-raras em meados da década de 90, o governo viu os preços dispararem no mercado mundial e voltou a investir no setor.

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Xangai vive o sonho chinês. E também seu pesadelo

A cidade já é próspera e imponente como quer o governo central, mas é também muito desigual

O skyline de Xangai, com edifício cada vez mais altos e imponentes

A China entrou na década da construção do sonho chinês, para usar o slogan cunhado pelo novo presidente Xi Jinping no início do mandato, em março deste ano. O conceito remeteria à renovação da nação, para a qual o governo espera contar com a mobilização de todos. Uma nação rumo à prosperidade e felicidade, segundo o discurso oficial.

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As contradições do campo no Brasil

A agropecuária brasileira é pujante, mas precisa também se tornar mais plural e abrir espaço para o pequeno produtor

A colheita de grãos na safra atual deve chegar a 180 milhões de toneladas

Tal como na vida, há coisas no setor agropecuário brasileiro que vão bem e outras que vão mal.

Frase boba, dirá o sempre apressado e exigente comentarista digital. Qualquer sermão matinal ou vespertino na tevê vaza tais marés para nos incentivar as coragem e persistência, algo que muitos se gabam de ter sem noção do quanto, às vezes, é inócuo e dolorido dar murro em ponta de faca.

A cidadania no Brasil é um exemplo.

Em se tratando de economia, ciclos, conjunturas e estruturas fazem da agropecuária uma eterna corrida de revezamento 4 x 100 com barreiras.

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Como era tranquilo mover fábricas…

Linfen, na região mineiro-industrial de Linfen, centro da China. Também aqui, crescem as pressões por salários, direitos sociais e ar puro…

Por séculos, capitalismo espalhou indústrias, trabalho assalariado e poluição pelo mundo, fugindo de salários altos. Esta ciranda está no fim

Por Immanuel Wallerstein | Tradução: Gabriela Leite

Desde que existe uma economia mundial capitalista, um dos mecanismos essenciais para que seu funcionamento tenha sido bem-sucedido foi a relocalização industrial. Após um período de acumulação significava de capital, nos ramos industriais mais dinâmicos (normalmente por volta de 25 anos), o nível de lucro costumava cair, tanto por causa do enfraquecimento do quase-monopólio desse ramo principal quanto por conta do crescimento dos custos de trabalho, devidos a diversas formas de ação dos sindicatos.

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O Brasil entre o presente e o futuro

Lula contou com a bonança de um capitalismo sem crise e com um Estado fortalecido e uma economia organizada. Porém, o aumento da renda dos trabalhadores com pouca qualificação parece estar no limite, o mesmo ocorrendo com as elevações do salário mínimo sem incremento de produtividade e com a ampliação do crédito

por José Maurício Domingues

Em meados da década de 1980 começou o que se pode chamar de uma nova história do Brasil. Com a conclusão da “modernização conservadora” – baseada na aliança entre latifundiários e burguesia industrial –, o país se mostrava, à sua maneira, contemporâneo da modernidade que se afirmava planetariamente, ao mesmo tempo que uma verdadeira revolução democrática ocorria no país. Agora é o futuro que se põe como desafio, não a simples realização da modernidade.

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