Vigiar, punir e exibir!

Novos casos de linchamento relembram: transformar violência em espetáculo é uma forma de mascarar a brutalidade oculta que permeia sociedade

Por Celso Vicenzi | Imagem: Katerina Apostolakou

As pessoas que amarram seres humanos em postes ou os imobilizam com travas de bicicleta – cenas que se repetem de diferentes maneiras pelo Brasil, assim como os linchamentos – têm as mesmas motivações daqueles que pregaram Cristo na cruz. Não há diferenças, por mais cristãos que os contemporâneos imaginem ser. Salvo a distância no tempo, são atos com um mesmo propósito, o de exibir a punição para servir de exemplo.

São os mesmos que queimaram entre 100 mil e 500 mil mulheres nas fogueiras da Inquisição Católica, na Europa, acusadas de bruxaria (há quem fale em 9 milhões).

Não diferem dos que enforcaram Tiradentes, o esquartejaram e penduraram sua cabeça em Vila Rica e pedaços de seu corpo nos lugares em que fizera seus discursos revolucionários.

Para que os exemplos não frutifiquem, é preciso sempre uma dura lição! Continuar lendo

Genocídio Armênio: as consequências de 99 anos de negação e esquecimento

Reconhecimento do massacre e atual limpeza étnica em Kessab são chave para entender esse povo tão peculiar

“Eu gostaria de ver qualquer força deste mundo destruir esta raça, esta pequena tribo de pessoas sem importância, cujas guerras foram todas lutadas e perdidas, cujas estruturas foram todas destruídas, cuja literatura não foi lida, a música não foi ouvida, e as preces já não são mais atendidas. Vá em frente, destrua a Armênia. Veja se consegue. Mande-os para o deserto sem pão ou água. Queimem suas casas e igrejas. Daí veja se eles não vão rir, cantar e rezar novamente! Quando dois armênios se encontrarem novamente em qualquer lugar neste mundo, veja se eles não vão criar uma nova Armênia”, escreveu em 1935 o autor norte-americano de origem armênia William Saroyan.

Sobre todas essas desgraças, o escritor se refere principalmente ao primeiro genocídio do século XX, praticado pelos turcos contra os armênios há exatamente 99 anos. Mas o que faz o extermínio desta “pequena tribo de pessoas sem importância” algo digno de se lembrar? Geralmente, o ato de recordação de um massacre vem da necessidade de honrar seus mortos e manter latentes os acontecimentos para que estes não se repitam. Contudo, esse não é o caso dos armênios. Continuar lendo

As crianças soldados da República Democrática do Congo

Relatório da ONU ressalta “recrutamento endêmico” de crianças por grupos armados. Elas são utilizadas, entre outros lugares, em minas de metais para tablets e gadgets

Relatório da ONU ressalta “recrutamento endêmico” de crianças por grupos armados. Elas são utilizadas, entre outros lugares, em minas de metais para tablets e gadgets

Um grave, e infelizmente comum, problema em muitos países da África deixou a missão de paz da ONU na República Democrática do Congo (Monusco, da sigla em francês) “extremamente preocupada”. Segundo um relatório publicado na última semana, entre janeiro de 2012 e agosto de 2013 cerca de 1 mil casos de crianças recrutadas por grupos armados congoleses foram registrados.

O primeiro levantamento da missão da ONU sobre crianças soldados no país ressalta que “o recrutamento permanece endêmico” na RDC, apesar de campanhas de conscientização e tentativas de pacificar grupos armados. O número elevado de casos nos últimos dois anos, acreditam as Nações Unidas, ocorreu devido a novos conflitos internos no país africano. Continuar lendo

Via Crúcis de imigrantes subsaarianos à Europa é marcada por violência e descaso

Histórias de espancamento e assassinatos de africanos se proliferam a cada ano na fronteira entre o continente e a Espanha

A história de Gastón poderia, à primeira vista, parecer uma dessas milhares de histórias que a cada ano – desde que em 2005 as Forças Auxiliares Marroquinas se transformaram oficialmente nos vigilantes da fronteira sul da Europa e muitas vezes nos policiais do descumprimento sistemático dos convênios internacionais e dos direitos humanos – acontecem entre as cercas que separam Melilla e Ceuta.

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A nova era do terrorismo individual

Em Paris, um homem fere gravemente um militar. Em Londres, dois islamitas radicais matam um soldado. A ameaça se tornou interna

Policiais isolam área em Woolwich, em Londres, onde ocorreu o crime nesta quarta-feira 22

No sábado, 25, o militar do programa antiterrorista Vigipirate, Cédric Cordier, recebeu uma facada na nuca, no bairro de La Défense, o distrito de finanças a leste de Paris. Cordier sobreviveu.

Semana passada, o soldado britânico Drummer Lee Rigby foi assassinado a facadas por dois islamitas em Woolwich, sudeste de Londres.

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Para além da maioridade penal

Mídia e conservadores reabrem debate oportunista e vazio, com objetivos eleitoreiros. Esquerda precisa preparar-se para propor segurança cidadã

Por Luís Fernando Vitagliano | imagem: Carlos Bassan

Uma dentista assassinada por bandidos que atearam fogo em seu corpo por ter somente 30 reais em sua conta bancária; um garoto assassinado com um tiro a queima roupa na cabeça por não entregar sua mochila. A crueldade dos crimes praticados por menores de idade chama a atenção midiática nesses dois casos. Somados a isso, os índices divulgados na semana passada só vêm comprovar o que a percepção da população já havia expressado: o aumento significativo da criminalidade em São Paulo, principalmente de assassinatos e latrocínios.

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Drones: dossiê sobre uma guerra suja

Como EUA executam, sem julgamento, supostos “inimigos”. Por que civis são alvo. De onde partem ataques. Que precedentes programa abre

Por Cora CurrierProPublica | Tradução Vila Vudu

É possível que você já tenha ouvido falar das “kill lists” – listas de nomes de pessoas a serem assassinadas. Certamente você já ouviu falar dos drones. Mas os detalhes da campanha que os EUA movem contra militantes no Paquistão, no Iêmen e na Somália – peça chave da abordagem que o governo Obama optou por dar à segurança nacional – permanecem envoltos em segredo. Aqui oferecemos um guia do que já sabemos e do que ainda não sabemos.

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