Homens-bombas, versão ocidental

Que estranhos condicionamentos culturais levam ao horror diante dos atentados suicidas, e à indiferença às mortes impostas por controle remoto?

Por Grégoire Chamayou

Para mim, o robô é nossa resposta ao atentado suicida”
Bart Everett1


Dois relatórios muito tardios – um da Anistia Internacional, outro da Human Rights Watch– focaram, esta semana, uma das marcas da degradação política de nossos tempos: os drones, aviões sem pilotos usados pelo governo dos EUA para assassinar supostos terroristas. Os documentos revelaram algo alarmante.

Até mesmo a alegação capenga, segundo a qual os mortos são criminosos (como se isso tornasse aceitável executá-los…), é falsa. Já se sabia que parte das vítimas é assassinada por adotar “atitude suspeita”; e que os EUA efetuam, às vezes, um segundo disparo – voltado contra a população local, quando ousa socorrer eventuais sobreviventes ou participa do funeral dos mortos. Mas isso não é tudo.

O relatório da Anistia narra, com riqueza de detalhes, episódios grotescos e até o momento inexplicáveis, sabendo-se da altíssima precisão das câmeras e do equipamento de disparo dos drones. Em 2012, na zona fronteiriça entre Paquistão e Afeganistão, dois mísseis disparados em sequência mataram Mamana Bibi, esposa de um diretor de escola aposentado, e feriram seis de seus netos. Na localidade de Zowi Sidgi, situada na mesma região, dezoito homens e adolescentes (alguns com 14 anos)sucumbiram a um único disparo, enquanto conversavam numa sombra. Ao todo, em menos de dez anos, os drones já mataram entre 2 mil e 4,7 mil pessoas, segundo uma terceira organização ocidental: o Bureau de Jornalismo Investigativo. É um número cerca de quinze vezes maior que o total de mortes provocadas pela ditadura brasileira, em duas décadas… Continuar lendo

A indústria do terror

 

A mídia e os políticos foram mais terroristas, no sentido próprio da palavra, do que os autores do atentado em Boston

Contradições não explicadas ou corrigidas pelas mídias e o relatos confusos da polícia alimentam teorias conspitatórias, nem todas tão absurdas. Foto: Stan Honda

Terrorismo pressupõe militância em uma organização, ou pelo menos a tentativa de intimidar uma população ou governo com um objetivo político definido. Não parece o caso dos autores do atentado de Boston: não há sinais de laços com grupos organizados, inspiração de um líder político ou religioso ou reivindicação do atentado em nome de uma causa. Ao contrário, por exemplo, de Andreas Breivik, que fez questão de se explicar em um longo manifesto.

Continuar lendo

EUA: como evitar a pior resposta ao terror

Novamente atingido, país pode amedrontar-se e restringir liberdades que marcaram sua história. É o que planeja quem praticou atentados

Por Bruce Schneifer, no The Atlantic | Tradução: Antonio Martins

À medida em que os detalhes sobre as bombas de Boston aparecem, é fácil ficar apavorado. Seria fácil sentir-se impotente e reivindicar de nossos líderes eleitos algo – qualquer coisa – capaz de nos fazer sentir seguros.

Seria fácil, porém errado. Devemos sentir raiva – e empatia com as vítimas – sem, contudo, nos aterrorizar. Nosso medo é o que os terroristas mais desejam. Ele iria ampliar sua vitória, quaisquer que sejam seus objetivos, quem quer que sejam eles. Não precisamos nos sentir impotentes, nem amedrontados. Temos todo o poder, e há uma atitude a adotar, para tornar o terror ineficaz: a recusa a ficar aterrorizado.

Continuar lendo

Robet Fisk: Guerra ao terror, a nova religião ocidental

Por que o ocidente não para de mandar bombas sobre os povos do Oriente Médio? E por que não para de mandar exércitos para ocupar terras dos muçulmanos, exatamente o que a Al-Qaeda deseja que se faça?

Por Robert Fisk, The Independent, UK. Original em “War on terror is the West’s new religion”. Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu e publicado no Redecastorphoto

Mohamed al-Zawahiri, irmão caçula do sucessor de Osama bin Laden, Ayman, fez declaração particularmente intrigante no Cairo, mês passado. Falando àquela maravilhosa instituição francesa Le Journal du Dimanche sobre o Mali, disse ao jornal que alertasse a França “e as pessoas racionais e razoáveis na França, para que não caiam na mesma armadilha em que caíram os norte-americanos. A França já é responsável por ocupar um país muçulmano. A França já declarou guerra ao Islã”. Jamais, em todos os tempos, a França recebeu aviso mais claro.

Continuar lendo

Drones: dossiê sobre uma guerra suja

Como EUA executam, sem julgamento, supostos “inimigos”. Por que civis são alvo. De onde partem ataques. Que precedentes programa abre

Por Cora CurrierProPublica | Tradução Vila Vudu

É possível que você já tenha ouvido falar das “kill lists” – listas de nomes de pessoas a serem assassinadas. Certamente você já ouviu falar dos drones. Mas os detalhes da campanha que os EUA movem contra militantes no Paquistão, no Iêmen e na Somália – peça chave da abordagem que o governo Obama optou por dar à segurança nacional – permanecem envoltos em segredo. Aqui oferecemos um guia do que já sabemos e do que ainda não sabemos.

Continuar lendo