Quinhentos degraus, se não me engano, separam o chão de São Pedro do terraço circular que cerca a cúspide da cúpula de Michelangelo. Galguei-os aos 8 anos de idade conduzido por minha avó paterna, Adele, romana de Roma. Escalada audaciosa e jamais repetida, e lá do alto me pareceu contemplar o Universo.
À de São Pedro prefiro a cúpula de Santa Maria del Fiore, em Florença, obra de Filippo Brunelleschi, remonta aos começos do século XV e é a primeira erguida pelo homem. Esta me ficou na memória na mocidade, e minha emoção foi puramente estética. Já não cursava o primário no colégio das Marcelinas, as boas freiras com suas toucas graciosas a despeito dos acabamentos em renda negra.
Estudei no colégio das Marcelinas porque meu pai, anticlerical convicto, via ali um reduto antifascista. E era, clara e corajosamente. Não obrigavam os alunos a participar nas manhãs de -sábado dos desfiles organizados em praça pública, a reunirem uma patética garotada de uniforme não bélico, belicoso. E, em pleno vigor das leis raciais que mancomunaram Mussolini a Hitler, abrigavam meninos e meninas judeus em classes mistas, isentando-os das aulas de catecismo, quando iam ao jardim para brincar entre as árvores. Para minha inveja.