Um mistério cercou o Vaticano após a escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio como o novo líder da Igreja Católica. Ao ser anunciado papa Francisco, teria o sumo pontífice se inspirado em qual são Francisco? O de Assis, de vestes simples, atenção aos pobres e reação aos luxos e ao poder, ou Xavier, um dos co-fundadores da Companhia de Jesus, braço do Estado na colonização do novo mundo a partir da catequese? Bergoglio, um jesuíta, teria homenageado o santo a quem, segundo a história, foi convidado pelo espírito de Cristo a reconstruir a Igreja ou o santo que ajudara a fundar a companhia da qual faz parte?
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A propósito de Francisco
Quando me ajoelhei aos pés do altar para receber a Primeira Comunhão, meus olhos ficaram embaçados e desmaiei. No dia anterior, de retiro espiritual orientado pelas minhas inesquecíveis freiras marcelinas, ao enfrentar momentos de inequívoca materialidade almoçara risotto com espinafre demoniacamente amanteigado. Não me surpreenderia se o próprio Lúcifer tivesse estacionado na cozinha. Passei uma noite no inferno, entre 16 e 17 de maio de 1942, dia da comunhão.
Atordoado, à beira da inconsciência, degluti a hóstia que me foi imposta goela abaixo por santas razões, pois a oportunidade não poderia ser desperdiçada a bem das expectativas dos familiares presentes, e logo me reencontrei na sacristia diante de um café da manhã monumental. Boa lembrança, além de definitiva.
Francisco I e a repressão: algo a esconder?
BY AMY GOODMAN – 17/03/2013

Jornalista argentino que investigou relações entre ditadura e Igreja revela papel real de Bergoglio. Também prevê: Papa será um “conservador-populista”
Entrevista a Amy Goodman e Juan González, em Democracy Now | Tradução: Gabriela Leite
No início desta semana, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito por seus pares como novo Papa da Igreja Católica. Assumiu o posto sob o título de Francisco. Imediatamente, vieram à tona os laços de cumplicidade mantidos entre a cúpula eclesiástica argentina e a ditadura militar, no poder entre 1976 e 83. Qual teria sido o papel de Bergoglio nestas relações perigosas?
Ativistas de direitos humanos criticam escolha de novo papa na Argentina
O prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel, porém, defendeu a escolha de Francisco, o primeiro pontífice latino-americano

Papa Francisco se mostrou contrário ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo
A escolha do cardeal Jorge Mario Bergoglio como novo papa repercutiu de forma negativa entre organizações de direitos humanos da Argentina. Ativistas pelo direito ao aborto, pela igualdade de gênero e pelos direitos civis para homossexuais lamentaram a eleição do arcebispo de Buenos Aires como líder máximo da Igreja Católica.
Papa surpreenderá com reviravolta na Igreja, opina teólogo Leonardo Boff
Para representante da Teologia da Libertação, papa Francisco é pragmático, mais liberal, e não é culpado das acusações sobre ditadura argentina
O ex-sacerdote brasileiro Leonardo Boff, um dos mais destacados representantes da Teologia da Libertação, acredita que o papa Francisco surpreenderá muitos dando um reviravolta radical à Igreja.
“Agora é papa e pode fazer o que quiser. Muitos se surpreenderão com o que Francisco fará. Para isso, precisará de uma ruptura com as tradições, deixar para trás a cúria corrupta do Vaticano para abrir passagem para uma igreja universal”, disse Boff em entrevista que será publicada na edição da próxima semana da revista alemã Der Spiegel.
O teólogo se disse muito satisfeito com o nome de Francisco para o pontífice. ”Este nome é programático: Francisco de Assis representa uma igreja dos pobres e dos oprimidos, responsabilidade perante o meio ambiente e rejeição ao luxo e a ostentação”, acrescentou Boff, que pertence à Ordem dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos.
É o fim de um mundo?
Quinhentos degraus, se não me engano, separam o chão de São Pedro do terraço circular que cerca a cúspide da cúpula de Michelangelo. Galguei-os aos 8 anos de idade conduzido por minha avó paterna, Adele, romana de Roma. Escalada audaciosa e jamais repetida, e lá do alto me pareceu contemplar o Universo.

Santa Maria del Fiore. A cúpula mais bela, sem ostentação e jactância. Foto: Cosmo Condina /Tips /Photononstop /AFP
À de São Pedro prefiro a cúpula de Santa Maria del Fiore, em Florença, obra de Filippo Brunelleschi, remonta aos começos do século XV e é a primeira erguida pelo homem. Esta me ficou na memória na mocidade, e minha emoção foi puramente estética. Já não cursava o primário no colégio das Marcelinas, as boas freiras com suas toucas graciosas a despeito dos acabamentos em renda negra.
Estudei no colégio das Marcelinas porque meu pai, anticlerical convicto, via ali um reduto antifascista. E era, clara e corajosamente. Não obrigavam os alunos a participar nas manhãs de -sábado dos desfiles organizados em praça pública, a reunirem uma patética garotada de uniforme não bélico, belicoso. E, em pleno vigor das leis raciais que mancomunaram Mussolini a Hitler, abrigavam meninos e meninas judeus em classes mistas, isentando-os das aulas de catecismo, quando iam ao jardim para brincar entre as árvores. Para minha inveja.
Uma Primavera Vaticana?
Se o próximo conclave eleger um papa que siga pela mesma velha estrada, o catolicismo poderá entrar em uma nova era do gelo, correndo o risco de encolher a ponto de se tornar uma seita, prevê teólogo
A Primavera Árabe abalou diversos regimes autocráticos. Com a renúncia do papa Bento XVI, não seria possível ocorrer algo semelhante dentro da Igreja Católica Romana – uma Primavera Vaticana?
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Conclave deve escolher novo papa
Naturalmente o sistema da Igreja Católica se assemelha menos ao da Tunísia ou Egito que ao de uma monarquia absoluta como a Arábia Saudita. Tanto na Igreja como na Arábia Saudita não ocorreu nenhuma reforma autêntica, apenas concessões de menor importância. Em ambos os casos, a tradição é mantida em oposição à reforma. Na Arábia Saudita, essa tradição remonta a apenas dois séculos. No caso do papado, a 20.
Mas, trata-se de uma tradição real? Na verdade, durante um milênio a Igreja não teve um papado monarquista absolutista como conhecemos hoje. Continuar lendo