Os legados geopolíticos de 2013

Aprofunda-se declínio dos EUA e União Europeia. Primavera Árabe reflui. China amplia suas ambições. Persiste ameaça climática. Francisco reintroduz debate da desigualdade

Por Roberto Savio

No momento de esperança que o ano novo pode oferecer, seria útil examinar o legado que recebemos dos doze meses que terminam. Foi um ano cheio de acontecimentos: guerras, aumento da desigualdade social, sistemas financeiros sem controle social, decadência das instituições políticas e erosão da governança global.

Talvez nada haja de novo nisso, já que tais tendências nos acompanham há bastante tempo. No entanto, alguns acontecimentos têm impacto mais profundo e duradouro. Vamos apresentá-las brevemente, em forma de lista para recordar e conferir (mas não em ordem de magnitude) Continuar lendo

Vaticano afirma que Teoria da Evolução é compatível com o Criacionismo

Segundo representantes do Vaticano, a Teoria Evolucionista de Darwin seria compatível com a versão da história de Adão e Eva no Jardim do Éden.

O Arcebispo Gianfranco Ravasi, chefe do Pontifício Conselho de Cultura, disse que apesar da Igreja ter sido contrária ao evolucionismo, raízes da idéia de Darwin poderiam ser rastreadas até São Tomás de Aquino e São Agustinho.

Segundo o padre Giuseppe Tanzella, Professor de Teologia da Pontifícia Universidade de Santa Cruz, em Roma, São Agustinho nunca usou o termo “evolução”, mas sabia que peixes menores eram comidos pelos maiores e que as formas de vida se transformavam com o passar dos anos. Tomás de Aquino,de acordo com Tanzella, também tinha idéias similares.

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Um jesuíta em pele de Francisco

Um mistério cercou o Vaticano após a escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio como o novo líder da Igreja Católica. Ao ser anunciado papa Francisco, teria o sumo pontífice se inspirado em qual são Francisco? O de Assis, de vestes simples, atenção aos pobres e reação aos luxos e ao poder, ou Xavier, um dos co-fundadores da Companhia de Jesus, braço do Estado na colonização do novo mundo a partir da catequese? Bergoglio, um jesuíta, teria homenageado o santo a quem, segundo a história, foi convidado pelo espírito de Cristo a reconstruir a Igreja ou o santo que ajudara a fundar a companhia da qual faz parte?

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A propósito de Francisco

Quando me ajoelhei aos pés do altar para receber a Primeira Comunhão, meus olhos ficaram embaçados e desmaiei. No dia anterior, de retiro espiritual orientado pelas minhas inesquecíveis freiras marcelinas, ao enfrentar momentos de inequívoca materialidade almoçara risotto com espinafre demoniacamente amanteigado. Não me surpreenderia se o próprio Lúcifer tivesse estacionado na cozinha. Passei uma noite no inferno, entre 16 e 17 de maio de 1942, dia da comunhão.

Atordoado, à beira da inconsciência, degluti a hóstia que me foi imposta goela abaixo por santas razões, pois a oportunidade não poderia ser desperdiçada a bem das expectativas dos familiares presentes, e logo me reencontrei na sacristia diante de um café da manhã monumental. Boa lembrança, além de definitiva.

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Ativistas de direitos humanos criticam escolha de novo papa na Argentina

O prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel, porém, defendeu a escolha de Francisco, o primeiro pontífice latino-americano

Papa Francisco se mostrou contrário ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo

A escolha do cardeal Jorge Mario Bergoglio como novo papa repercutiu de forma negativa entre organizações de direitos humanos da Argentina. Ativistas pelo direito ao aborto, pela igualdade de gênero e pelos direitos civis para homossexuais lamentaram a eleição do arcebispo de Buenos Aires como líder máximo da Igreja Católica.

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Papa surpreenderá com reviravolta na Igreja, opina teólogo Leonardo Boff

Para representante da Teologia da Libertação, papa Francisco é pragmático, mais liberal, e não é culpado das acusações sobre ditadura argentina

O ex-sacerdote brasileiro Leonardo Boff, um dos mais destacados representantes da Teologia da Libertação, acredita que o papa Francisco surpreenderá muitos dando um reviravolta radical à Igreja.

“Agora é papa e pode fazer o que quiser. Muitos se surpreenderão com o que Francisco fará. Para isso, precisará de uma ruptura com as tradições, deixar para trás a cúria corrupta do Vaticano para abrir passagem para uma igreja universal”, disse Boff em entrevista que será publicada na edição da próxima semana da revista alemã Der Spiegel.

O teólogo se disse muito satisfeito com o nome de Francisco para o pontífice.
”Este nome é programático: Francisco de Assis representa uma igreja dos pobres e dos oprimidos, responsabilidade perante o meio ambiente e rejeição ao luxo e a ostentação”, acrescentou Boff, que pertence à Ordem dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos.

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Toni Negri: as duas renúncias do Papa alemão

Ao colocarem uma pedra sobre o Concílio Vaticano II, Wojtyla e Ratzinger confundiram Igreja com Ocidente, e cristianismo com capitalismo

Por Toni Negri | Tradução: Antonio Martins

Há mais de vinte anos, saiu a encíclicia Centesimus Annus, do Papa polonês Wojtyla, por ocasião do centenário da Rerum Novarum. Era o manifesto reformista, fortemente inovador, de uma Igreja que se pretendia, dali em diante, única representante dos pobres, depois da queda do império soviético. Àquele documento, meus companheiros parisienses do Futur Antérieur e eu dedicamos um comentário que era também o reconhecimento de um desafio. Teve por título “A V Internacional de João Paulo II”.

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Uma Primavera Vaticana?

Se o próximo conclave eleger um papa que siga pela mesma velha estrada, o catolicismo poderá entrar em uma nova era do gelo, correndo o risco de encolher a ponto de se tornar uma seita, prevê teólogo

A Primavera Árabe abalou diversos regimes autocráticos. Com a renúncia do papa Bento XVI, não seria possível ocorrer algo semelhante dentro da Igreja Católica Romana – uma Primavera Vaticana?

Conclave deve escolher novo papa

Naturalmente o sistema da Igreja Católica se assemelha menos ao da Tunísia ou Egito que ao de uma monarquia absoluta como a Arábia Saudita. Tanto na Igreja como na Arábia Saudita não ocorreu nenhuma reforma autêntica, apenas concessões de menor importância. Em ambos os casos, a tradição é mantida em oposição à reforma. Na Arábia Saudita, essa tradição remonta a apenas dois séculos. No caso do papado, a 20.

Mas, trata-se de uma tradição real? Na verdade, durante um milênio a Igreja não teve um papado monarquista absolutista como conhecemos hoje. Continuar lendo