Por trás da crise “financeira”, a velha luta de classes

Marx estava certo, por mais que economistas superficiais tentem negá-lo: causa das turbulências econômicas é enriquecimento sem-fim da burguesia

Por Vicenç Navarro | Tradução: Cibelih Hespanhol 

É surpreendente verificar que a extensíssima literatura produzida sobre as causas das crises atuais se tenha centrado tão pouco no conflito capital-trabalho (aquilo que costumávamos chamar de luta de classes) e sua gênesis no desenvolvimento da crise. Uma possível razão é a enorme atenção dada à crise financeira como suposta causa da recessão atual. Só que essa atenção desviou os analistas do contexto econômico, e também político, que determinou e configurou a crise.

Não é possível analisar cada uma delas, e a maneira como estão relacionadas, sem referir-se ao conflito capital-trabalho. Como bem disse Marx, “a história da humanidade é a história da luta de classes”. E as crises atuais (da financeira à econômica, passando pela social e política) são um claro exemplo disso. Continuar lendo

Thatcher-Reagan e o neoliberalismo: a contrarrevolução travestida de reforma e modernização

A virada de período histórico operada pelo fim da URSS, pela passagem à hegemonia unipolar dos EUA e pela hegemonia do modelo neoliberal, representou um duro golpe para a esquerda. Mais além da desaparição do sistema soviético – que, antes mesmo de se avaliar sua natureza, representava um contrapeso ao bloco imperialista –, a derrota da esquerda foi de dimensões muito maiores.

Em primeiro lugar porque a crise soviética não desembocou numa solução de esquerda – como esperavam os trotskistas e poderiam supor os social-democratas –, mas numa alternativa plenamente capitalista, de direita.

Em segundo lugar, porque trouxe com ela a desmoralização do socialismo, do Estado, da economia planificada, da política, dos partidos, das soluções coletivas, junto com a desqualificação da esquerda, do movimento sindical, do mundo do trabalho.

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Toni Negri: as duas renúncias do Papa alemão

Ao colocarem uma pedra sobre o Concílio Vaticano II, Wojtyla e Ratzinger confundiram Igreja com Ocidente, e cristianismo com capitalismo

Por Toni Negri | Tradução: Antonio Martins

Há mais de vinte anos, saiu a encíclicia Centesimus Annus, do Papa polonês Wojtyla, por ocasião do centenário da Rerum Novarum. Era o manifesto reformista, fortemente inovador, de uma Igreja que se pretendia, dali em diante, única representante dos pobres, depois da queda do império soviético. Àquele documento, meus companheiros parisienses do Futur Antérieur e eu dedicamos um comentário que era também o reconhecimento de um desafio. Teve por título “A V Internacional de João Paulo II”.

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