Contruindo uma Instituição do Comum (Tradução)

Construindo uma Instituição do Comum – Entrevista (Traduzido por Bruno Stehling)

Original em inglês no site http://prekariatet.se/text/building-institution-common/

Entrevista com Gigi Roggero da Edu-factory

“O que antes era a fábrica, hoje é a universidade”, afirma o coletivo internacional Edu-factory, que começou como uma lista de emails de 500 estudantes, ativistas e pesquisadores de todo o mundo. Eles argumentam que no capitalismo cognitivo de hoje, experimentamos a transformação da organização vertical do conhecimento em captura e expropriação de conhecimento comum após sua produção. Esta apropriação e exploração dos conhecimentos produzidos em comum abre uma possibilidade de autonomia da produção de conhecimento. O fato de que hoje o conhecimento é produzido no comum também torna possível nos re-apropriarmos dele. A tentativa do Edu-Factory de criar uma universidade autônoma global é uma forma de recuperar tal conhecimento comum. O Edu-Factory escreve: “prática teórica é sempre prática política, e prática política não é apenas prática teórica”. Eles alegam que não há produção de conhecimento que não seja política. A teoria é sempre um campo de luta e em tempos de “capitalismo cognitivo”, talvez um dos mais importantes. Nós nos encontramos com Gigi Roggero, um dos fundadores do coletivo Edu-factory, na conferência “Trabalho da Multidão” (Labour of the Multitude), em Varsóvia, para falar sobre o Edu-Factory, as lutas recentes da universidade e dos trabalhadores precários, bem como as idéias sobre educação autônoma. Continuar lendo

A Metrópole Global: Economia da Dívida e o Leviatã Imobiliário

Favela da Rocinha no Rio

Favela da Rocinha no Rio

As metrópoles brasileiras testemunham a maior escassez de imóveis para alugar em dez anos, o que ajuda a entender o violento aumento de seu preço nos últimos tempos. Evidentemente, a crise imobiliária não se restringe ao Brasil, embora aqui, por óbvias circunstâncias históricas, estejamos às portas de uma situação limite: os milhões de brasileiros que vivem nas ruas ou em áreas irregulares são aquelas pessoas que foram, simplesmente, deixadas para morrer ao relento, mas que de alguma forma lutam nessa circunstância ou no locus definitivo de resistência urbana, a Favela. Continuar lendo

As biolutas e a constituição do comum > Giuseppe Cocco

Os moradores que defendem suas comunidades no RJ, os operários que se revoltam em Jirau e os ativistas dos Pontos de Cultura e dos pré-vestibulares afirmam em suas lutas as dimensões produtivas da vida. Nesse sentido, as biolutas são, produtivas e reivindicativas. Na luta contra a fragmentação, elas produzem o comum

Por Giuseppe Cocco

Crise. O mecanismo fundamental da atual crise do capitalismo global (aquela que começou em 2007 com o estouro da bolha imobiliária − subprime − nos Estados Unidos e agora se desdobra na crise da dívida soberana europeia e norte-americana) encontra-se na mobilização paradoxal do tempo de vida da população. Todo mundo trabalha o tempo todo, mas só se remunera o trabalho incluído na relação salarial. A expansão exponencial das finanças (do crédito espalmado em um sem-número de títulos derivados) permitiu governar esse descompasso: a população dos trabalhadores deve investir em sua “empregabilidade” (definida pelas várias formas de capital social, humano, intelectual etc.), ao passo que seu estatuto torna-se cada vez mais precário (a renda do salário diminui proporcionalmente ao lucro, o emprego é terceirizado, os serviços públicos são privatizados e a previdência, desmantelada). Esse novo tipo de trabalho vai ser controlado pelo dispositivo de um duplo endividamento: por um lado, moradia, saúde, educação, mobilidade, conexão e conectividade passam a ser pagos por meio do acesso ao crédito; por outro, a remuneração do trabalho toma a forma de um “prêmio” por objetivos alcançados que liga (endivida) a subjetividade do trabalhador ao projeto da empresa − a dívida monetária desdobra-se naquela subjetiva (e vice-versa) e as duas tornam-se impagáveis: crise! Ninguém é capaz de prever a duração desta crise e ainda menos de dizer como se construirá uma capacidade política, além de econômica, de gerenciar a multiplicação cumulativa das contradições sociais. Mas as lutas às quais estamos assistindo (desde as revoluções da África do Norte e do Oriente Médio até as manifestações de Wisconsin, nos Estados Unidos, passando pelos recentes tumultos de Londres, Roma e chegando à revolta de 20 mil operários da barragem de Jirau, no Brasil) indicam a urgência dos esforços de apreender o que são hoje a acumulação, o trabalho e a exploração. Continuar lendo