Três anos de revoltas conectadas

Novos estudos tentam compreender ações de protesto que marcam cenário mundial. Que têm em comum? Como evoluem? Para onde caminham?

Por Bernardo Gutierrez | Tradução: Cauê Ameni e Gabriela Leite

Existem elementos comuns entre a explosão do movimento espanhol 15M e o nascimento #YoSoy123 no México? Pode-se traçar algum paralelo entre a defesa do Gezi Park, em Istambul, e as revoltas iniciadas pelo Passe Livre no Brasil? Há padrões compartilhados entre as revoltas que sacudiram o mundo desde a centelha da Primavera Árabe?

Se levarmos em conta apenas pautas concretas, as revoltas poderiam parecer desconexas. O grito de “Não somos mercadorias nas mãos dos políticos e banqueiros”, do 15M, teria pouco a ver com o “Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar”, das revoltas no Brasil. Occupy Wall Street estaria longe do #YoSoy132 mexicano, que nasceu contra a criminalização de 131 estudantes da Universidade Iberoamericana. No entanto, o imaginário de todas as revoltas parece conectado por algo que escapa à lógica. Continuar lendo

Pochmann: Estamos assistindo ao fim da imprensa como a conhecemos

“Parece que os jornais assumiram aquilo que eles criticavam da imprensa comunista”, sustenta o economista ao afirmar que os periódicos “escrevem para seus militantes”

Por Marcelo Hailer

“A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme”

Marcio Pochmann, economista e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudo Sindicais e de Economia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), recebeu a reportagem da revista Fórum para conversar sobre o primeiro ano de sua gestão à frente da Fundação Perseu Abramo (FPA). Ele também falou sobre a cobertura política da imprensa e o papel das redes no ativismo.

Segundo Pochmann, a imprensa clássica não dialoga com a geração atual, mas apenas com “seus militantes”. O economista fez uma análise das manifestações de junho e afirma que não se pode fazer uma leitura dos atos tendo como referencial as organizações sociais do século XX. Confira a entrevista abaixo:

Fórum – O que você destacaria deste primeiro ano de sua gestão frente a Fundação Perseu Abramo?

Marcio Pochmann – A Fundação Perseu Abramo tem 17 anos de existência e tem reproduzido a evolução do PT ao longo desse período. 2013, de certa maneira, apresentou algumas conexões mais fortes em relação aos desafios que o partido vem vivendo e nós organizamos a Fundação para responder a três desafios que são centrais na perspectiva do Partido dos Trabalhadores. Continuar lendo

Amazon, do outro lado do computador

Com empresários celebrizados, telas finas e cores vivas, a economia digital evoca a imaterialidade, a horizontalidade e a criatividade. Porém, uma investigação sobre a gigante do comércio eletrônico Amazon revela o outro lado da moeda: fábricas gigantes em que humanos pilotados por computadores trabalham até a exaustão

por Jean-Baptiste Mallet

Descolando seu olhar dos cartazes do sindicato alemão Ver.di – o sindicato unificado dos serviços – presos à parede da sala de reuniões, Irmgard Schulz se levanta de repente e toma a palavra. “No Japão”, conta, “a Amazon acaba de recrutar cabras para que elas pastem em torno de um armazém. A empresa colocou nelas um crachá igual ao que temos pendurado no pescoço! Está tudo lá: nome, foto, código de barras.” Estamos na reunião semanal de funcionários da Amazon em Bad Hersfeld (Hesse, Alemanha). Em uma imagem, a operária logística acaba de resumir a filosofia social da multinacional de vendas on-line, que propõe ao consumidor comprar com alguns cliques e receber no prazo de 48 horas um esfregão, as obras de Marcel Proust ou um arado motorizado.1

Em todo o mundo, 100 mil pessoas estão trabalhando em 89 armazéns logísticos cuja superfície somada totaliza cerca de 7 milhões de metros quadrados. Em menos de duas décadas, a Amazon projetou-se na vanguarda da economia digital, ao lado da Apple, do Google e do Facebook. Desde seu lançamento em Bolsa, em 1997, seu faturamento foi multiplicado por 420, chegando a US$ 62 bilhões em 2012. Seu fundador e CEO, Jeffrey Preston Bezos, metódico e libertário, inspira aos jornalistas retratos ainda mais lisonjeiros desde que investiu em agosto último US$ 250 milhões – 1% de sua fortuna pessoal – para comprar o diário norte-americanoThe Washington Post. O tema do sucesso econômico eclipsa com certeza o das condições de trabalho. Continuar lendo

5 anos mudaram tudo

O documentário “O que mudou nos últimos 5 anos” foi realizado pela HOTWords e tem como tema as grandes transformações vividas pelo mercado da comunicação nos últimos 5 anos. Fazendo assim uma retrospectiva e uma análise dos principais acontecimentos dessa revolução tecnológica, a partir das entrevistas de personalidades envolvidas nesse mercado.

Patrocínio e idealização: HOTWords
Produção e direção: Estilingue Filmes

http://www.hotwords.com
http://twitter.com/hotwords_br

Contruindo uma Instituição do Comum (Tradução)

Construindo uma Instituição do Comum – Entrevista (Traduzido por Bruno Stehling)

Original em inglês no site http://prekariatet.se/text/building-institution-common/

Entrevista com Gigi Roggero da Edu-factory

“O que antes era a fábrica, hoje é a universidade”, afirma o coletivo internacional Edu-factory, que começou como uma lista de emails de 500 estudantes, ativistas e pesquisadores de todo o mundo. Eles argumentam que no capitalismo cognitivo de hoje, experimentamos a transformação da organização vertical do conhecimento em captura e expropriação de conhecimento comum após sua produção. Esta apropriação e exploração dos conhecimentos produzidos em comum abre uma possibilidade de autonomia da produção de conhecimento. O fato de que hoje o conhecimento é produzido no comum também torna possível nos re-apropriarmos dele. A tentativa do Edu-Factory de criar uma universidade autônoma global é uma forma de recuperar tal conhecimento comum. O Edu-Factory escreve: “prática teórica é sempre prática política, e prática política não é apenas prática teórica”. Eles alegam que não há produção de conhecimento que não seja política. A teoria é sempre um campo de luta e em tempos de “capitalismo cognitivo”, talvez um dos mais importantes. Nós nos encontramos com Gigi Roggero, um dos fundadores do coletivo Edu-factory, na conferência “Trabalho da Multidão” (Labour of the Multitude), em Varsóvia, para falar sobre o Edu-Factory, as lutas recentes da universidade e dos trabalhadores precários, bem como as idéias sobre educação autônoma. Continuar lendo