Geração Y: superpreparados e frustrados

Muitos jovens nascidos entre os anos 80 e 90 entram no mercado de trabalho com falta de perspectiva e expectativas equivocadas, segundo especialistas

“O jovem de hoje acha que a vida é uma festa openbar”

Vestibular da UNICAMP em janeiro.

Terminar o colegial. Passar no vestibular. Concluir a faculdade. Entrar no mercado de trabalho. Crescer na empresa. Se especializar. O que foi durante décadas o caminho natural da vida adulta para 12% da população brasileira que completou o terceiro grau, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), não parece ser para os jovens da geração Y. “Eles acham que o roteiro é passar no vestibular, conseguir um estágio e ter êxito profissional, mas quando chegam ao mercado, não têm experiência de vida e não estão acostumados a ouvir ‘não’”, afirma Ademar Bueno, diretor do Laboratório de Inovação, Empreendedorismo e Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A FGV é uma faculdade privada de onde saem diretores e presidentes de empresas. As mensalidades podem superar os 4.000 reais para estudar Direito, por exemplo. Continuar lendo

O novo não se inventa, descobre-se

Reconhecido internacionalmente por suas contribuições às Ciências Humanas e, entre os que conviveram com ele, por sua generosidade e humildade, Milton Santos é hoje uma referência também para o movimento negro

Por Glauco Faria

“Ele representava nas Ciências Humanas o que se pode chamar de ala combatente. O que Florestan Fernandes foi na Sociologia, ele foi na Geografia. Nos seus trabalhos, o rigor científico nunca foi obstáculo a uma consciência social desenvolvida e profundamente arraigada nos problemas do Brasil.” Foi assim que um dos grandes intelectuais brasileiros, Antonio Candido, definiu o geógrafo Milton Santos, que foi seu colega na Universidade de São Paulo (USP).

Baiano de Brotas de Macaúbas, Milton Santos cursou Direito em Salvador, embora quando jovem tivesse dado aulas na área que verdadeiramente o apaixonava, a Geografia. Na universidade, envolveu-se com a política estudantil e chegou a ser eleito vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Mas as letras da lei não foram suficientes para seduzi-lo e, concluída a graduação, Milton tornou-se professor de Geografia do Instituto Central de Educação Isaías Alves (Iceia) e do Colégio Central. Levou a concurso sua tese Povoamento da Bahia, e passou a ocupar a cadeira de Geografia Humana do Ginásio Municipal de Ilhéus. E foi ali que escreveu seu primeiro livro, A Zona do Cacau, que tratava da monocultura na região. A obra já alertava para os riscos que poderiam advir da adoção de tal prática. Continuar lendo

Programa Universidade para Todos: democratizar ou mercantilizar?

Muitos estudantes se beneficiaram do ProUni. E devem ser apoiados em seu direito à educação superior. O problema é que tal política destrói qualquer projeto democrático de nação

por Roberto Leher

A expansão das matrículas do ensino médio, o recrutamento de força de trabalho pelo capital e as mobilizações de estudantes e docentes em prol de uma reforma universitária tornaram improrrogável a questão da democratização do acesso à educação superior. O crescimento econômico motivou a emergente classe média a investir – como o passaporte para a mobilidade social – em cursinhos pré-vestibulares para garantir o acesso de seus filhos à universidade. Os estudantes excedentes (aprovados, mas sem vagas) saíram às ruas em protestos que abalavam a imagem do “Brasil potência”.

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As condições de vida e trabalho dos professores no Brasil

A história da educação no Brasil é marcada por descasos, improvisações e exploração da força laboral dos trabalhadores escolares, fatos intrínsecos ao modelo de colonização que deu origem ao patrimonialismo estatal e à disseminação de misérias até hoje não superadas pelo país

por Roberto Franklin de Leão

Num breve contexto histórico, a educação formal no Brasil surgiu cinquenta anos após o Descobrimento e se deu por meio de concessão da Coroa portuguesa à Companhia de Jesus. Naquela época, os padres e irmãos-coadjutores eram responsáveis pelo trabalho escolar, e suas rendas (ou sustento) provinham de dízimos e das atividades pecuárias desenvolvidas nas fazendas da Igreja. Somente em 1759, com a expulsão dos jesuítas do Brasil, o governo da colônia passou a se responsabilizar pela oferta educacional, nomeando professores e remunerando-os uma única vez por ano – condição de quase flagelo que exigia dos mestres outras fontes de recursos para arcar com seus compromissos cotidianos.

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Contruindo uma Instituição do Comum (Tradução)

Construindo uma Instituição do Comum – Entrevista (Traduzido por Bruno Stehling)

Original em inglês no site http://prekariatet.se/text/building-institution-common/

Entrevista com Gigi Roggero da Edu-factory

“O que antes era a fábrica, hoje é a universidade”, afirma o coletivo internacional Edu-factory, que começou como uma lista de emails de 500 estudantes, ativistas e pesquisadores de todo o mundo. Eles argumentam que no capitalismo cognitivo de hoje, experimentamos a transformação da organização vertical do conhecimento em captura e expropriação de conhecimento comum após sua produção. Esta apropriação e exploração dos conhecimentos produzidos em comum abre uma possibilidade de autonomia da produção de conhecimento. O fato de que hoje o conhecimento é produzido no comum também torna possível nos re-apropriarmos dele. A tentativa do Edu-Factory de criar uma universidade autônoma global é uma forma de recuperar tal conhecimento comum. O Edu-Factory escreve: “prática teórica é sempre prática política, e prática política não é apenas prática teórica”. Eles alegam que não há produção de conhecimento que não seja política. A teoria é sempre um campo de luta e em tempos de “capitalismo cognitivo”, talvez um dos mais importantes. Nós nos encontramos com Gigi Roggero, um dos fundadores do coletivo Edu-factory, na conferência “Trabalho da Multidão” (Labour of the Multitude), em Varsóvia, para falar sobre o Edu-Factory, as lutas recentes da universidade e dos trabalhadores precários, bem como as idéias sobre educação autônoma. Continuar lendo