O Brasil mantém a aposta na agricultura contra a crise dos emergentes

A valorização do dólar e até uma estiagem, que deve reduzir a oferta de alimentos, deixam o setor do agronegócio otimista com as perspectivas para os preços das commodities

Trabalhador na época da colheita do café.

Enquanto os mercados financeiros globais passam a olhar com desconfiança para os países emergentes, o Brasil mantém a sua aposta nas commodities agrícolas contra a crise que mudou o status do país de bola da vez para patinho feio. Embora tenham caído entre 9% e 25% na Bolsa em relação ao ano passado, os preços das principais matérias-primas agrícolas exportadas pelo país, como soja, milho e açúcar, foram compensados pela alta do dólar. A cadeia do agronegócio corresponde a 25% do PIB brasileiro e em 2013 suas exportações geraram receitas de 82,6 bilhões de dólares, ou 34,5% do total nacional. A expectativa dos exportadores é, ao menos, repetir o número. Em janeiro, o Índice de Commodities agropecuárias do Banco Central (IC-Br) subiu 1,9% e acumula uma alta de 5,9% nos últimos três meses. Continuar lendo

Petróleo verde

Produzir combustíveis a partir de plantas pode ajudar o planeta – mas falta superar obstáculos

por Joel K. Bourne

Vestido para se proteger de cortes e serpentes, cortador faz uma pausa em canavial de Cosmópolis (SP)

Quando Dario Franchitti levou sua máquina aerodinâmica, nas cores laranja e preto e com motor de 670 cavalos, à vitória na prova de Indianápolis 500 deste ano, o efusivo escocês tornou-se o responsável por uma das mais curiosas notas na história do esporte. Ele subiu ao pódio como o primeiro piloto a vencer a prova de automobilismo mais famosa dos Estados Unidos com um carro abastecido apenas com etanol – o translúcido e calórico álcool de milho produzido pelos americanos.

A adoção desse combustível pelos competidores na corrida de Indianápolis é apenas mais um sinal do estouro da boiada em direção aos biocombustíveis, substitutos da gasolina e do óleo diesel que são extraídos de plantas como milho, soja e cana-de-açúcar. Para os entusiastas, tais fontes renováveis de energia poderiam reanimar a economia rural, diminuir a preocupante dependência de petróleo e – o melhor de tudo – reduzir a quantidade cada vez maior de dióxido de carbono que lançamos no ar. Ao contrário do carbono liberado pela queima de combustíveis fósseis, que vem elevando sem parar o termostato da Terra, o carbono dos biocombustíveis provém da atmosfera, de onde é capturado pelas plantas durante seu período de crescimento. Em teoria, portanto, a queima de um tanque de etanol poderia até mesmo zerar a conta de carbono de um carro de competição em Indianápolis. Continuar lendo

Ecologia e Desenvolvimento, Leis Ambientais e o Código Florestal

Algumas considerações acerca da trajetória das leis ambientais no Brasil e a proposta referente à reformulação do Código Florestal

por Ecirio Barreto

Neste ensaio é debatida a criação do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, que reconhece o meio ambiente como patrimônio público que todos devem cuidar. Por conseguinte, analisando o contexto atual das leis ambientais no Brasil, é feito um debate específico sobre a proposta do novo Código Florestal brasileiro, no qual primeiramente para entender a sua atual situação é realizada uma periodização que aborda sobre a criação do primeiro Código Florestal, os fatores que levaram para sua reformulação até chegar ao debate atual.

Antigamente, debater sobre questões relacionadas às leis ambientais era especificamente restrito, cabível apenas aos profissionais especializados no campo das leis. No entanto, com as transformações que foram acontecendo referentes ao meio ambiente, a legislação ambiental tornou-se pauta presente na sociedade brasileira. No Brasil, a participação da população no processo decisório referente à elaboração e implantação de leis ambientais ainda é recente. Devido a isso, a partir da criação e instituição da Política Nacional do Meio Ambiente e do Artigo 225, o meio ambiente tornou-se oficialmente tratado como patrimônio público. Isso culminou, devido à necessidade de ministrar os recursos naturais existentes e de tentar garantir a sua preservação para as gerações futuras. Agora, no início do século XXI, a questão do debate sobre a reformulação e criação de leis ambientais vem novamente à tona. E a pauta da vez é sobre a proposta de reformulação do novo Código Florestal brasileiro. Continuar lendo

Mudanças necessárias

por Silvio Caccia Bava

A crise financeira internacional está demonstrando que as grandes corporações transnacionais, sejam elas financeiras ou não, não se importam com os territórios em que operam, só se preocupam em maximizar seus lucros. Quando os custos sobem em um lugar, elas apenas se mudam para onde esses custos são mais baixos, deixando um rastro de desemprego e de degradação ambiental, forçando governos a competirem entre si na destituição de direitos. Suas políticas são globais e se assentam na exploração de circuitos longos de produção e consumo, nas ditas vantagens comparativas de países que aviltam a remuneração do trabalho e nem mesmo protegem o meio ambiente. Continuar lendo

Em se plantando nada dá

A carta de Caminha estava errada. Plantar no Brasil foi bem mais complicado do que o patriotismo imagina

texto Fábio Marton / Design Leandro Guima / ilustrações clouds4sale

Em 26 de abril de 1500, realizou-se a 1ª missa no Brasil. Em 1º de maio de 1500, foi a vez da 1ª ação de marketing. Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei dom Manuel o relato da viagem, com o seguinte trecho: “Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados (…) Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”. Pois é, “em se plantando, tudo dá” é um erro de citação. Seja como for, o trecho é uma desculpa por não terem achado no que estavam realmente interessados – ouro, só encontrado 200 anos depois. Note a menção esquisita aos “ares frios e temperados” em Porto Seguro, na Bahia.

Apesar do otimismo, o fato é que quase nada que os portugueses entendiam por comida nascia no Brasil. Os portugueses até tentaram: em 1532, na 1ª expedição colonizadora, Martim Afonso de Souza plantou trigo em São Vicente. As plantas davam flores, mas murchavam sem grãos. As parreiras nasciam esquisitas, com uvas isoladas, e não rendiam vinho decente. Arroz nascia, mas pouco e em grãos pequenos. Os bois morriam ou passavam mal com o calor e não conseguiam se reproduzir. As terras brasileiras nunca tiveram problema de fertilidade. O caso sempre foi o clima e as decisões políticas. Parece contrassenso que não se consiga plantar algo que nasce no frio em regiões quentes: plantas vivem de sol. Isso acontece devido à fisiologia delas. “A planta detecta quando é época de dar flores de acordo com a diferença de duração do dia e da noite e pelo calor. Quando uma planta de clima temperado nasce nos trópicos, onde dias e noites são iguais ao longo do ano, não recebe esse sinal”, diz José Roberto Peres, da Embrapa. Continuar lendo