Zygmunt Bauman “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”

Sociólogo polonês cria tese para justificar atual paranoia contra a violência e a instabilidade dos relacionamentos amorosos

Adriana Prado

O sociólogo polonês radicado na Inglaterra Zygmunt Bauman é um dos intelectuais mais respeitados e produtivos da atualidade. Aos 84 anos, escreveu mais de 50 livros. Dois dos mais recentes, “Vida a crédito” e “Capitalismo Parasitário” chegam ao Brasil pela Zahar. As quase duas dezenas de títulos já publicados no País pela editora venderam mais de 200 mil cópias. Um resultado e tanto para um teórico. Pode-se explicar o apelo de sua obra pela relativa simplicidade com que esmiúça aspectos diversos da “modernidade líquida”, seu conceito fundamental. É assim que ele se refere ao momento da História em que vivemos. Os tempos são “líquidos” porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. Disso resultariam, entre outras questões, a obsessão pelo corpo ideal, o culto às celebridades, o endividamento geral, a paranóia com segurança e até a instabilidade dos relacionamentos amorosos. É um mundo de incertezas. E cada um por si. “Nossos ancestrais eram esperançosos: quando falavam de ‘progresso’, se referiam à perspectiva de cada dia ser melhor do que o anterior. Nós estamos assustados: ‘progresso’, para nós, significa uma constante ameaça de ser chutado para fora de um carro em aceleração”, afirma. Em entrevista à ISTOÉ, por e-mail, o professor emérito das universidades de Leeds, no Reino Unido, e de Varsóvia, na Polônia, falou também sobre temas que começou a estudar recentemente, mas são muito caros aos brasileiros: tráfico de drogas, favelas e violência policial. Continuar lendo

Sobre a Venezuela: a guerra da informação

Os venezuelanos já têm experiência de quanto o manejo e a manipulação da informação faz parte do desenvolvimento de conflitos sociais.

Manuel E. Gándara Carballido (*)

Nós, venezuelanos, assistimos a um novo ciclo de fatos violentos e, mais uma vez, se faz necessário um talento crítico que permita avaliar a situação sem cair em leituras interessadamente distorcidas.

Na Venezuela, temos experiência de quanto o manejo (e a manipulação) da informação faz parte do desenvolvimento dos conflitos e das confrontações sociais.

Neste novo episódio, assistimos a bloqueios e auto-bloqueios informativos por parte de alguns meios de comunicação. Diante disso, muitas pessoas recorrem às redes sociais para saber o que está acontecendo. Nelas, encontram muitas fotos, vídeos e denúncias apresentadas como se fossem registros do que está acontecendo nestes dias no país quando, na verdade, pertencem a outros países e a outros momentos históricos. Assim, é preciso suspeitar da informação que nos chega sobre os acontecimentos. É necessário avaliá-la e contrastá-la antes de tomá-la como verdadeira. Continuar lendo

Mercado de armas, desconhecido e devastador

Soldados filipinos se posicionam para atacar rebeldes muçulmanos: armas ocidentais

Quase sem controle dos Estados e sociedades, um punhado de empresas fatura 1,7 tilhão de dólares/ano, alimentando indústria da morte e corrupção política e midiática

Por Renato Brandão,

Há pelo menos 70 mil anos o homo sapiens já era dotado da capacidade de produzir armas. Junto com a capacidade de desenvolver a linguagem e dominar o fogo, a construção de instrumentos acompanhou a espécie humana nas tarefas de conquistar e se consolidar por diversas regiões do planeta. Transformações posteriores, em especial após os períodos Paleolítico e Neolítico, abririam uma nova etapa da evolução do homem, culminando com a formação de pioneiras organizações sociais e o surgimento da escrita, colocando fim à Pré-história. Homens e armas evoluíram pela Antiguidade até os dias atuais, em uma história de mais de 5 mil anos que vai do uso de metal derretido para fazer espadas, flechas e lanças, até o domínio biológico, químico e nuclear para construir armas de destruição em massa capazes de aniquilar o planeta em poucos minutos e por várias vezes. Continuar lendo

O Brasil e seu “Mar Interior”

Grupo de ataque da marinha dos EUA: para Fiori, Brasil “tem, hoje, capacidade para explorar recursos — mas não, para defender soberania no Atlântico Sul”

Além do petróleo, país vê no Atlântico Sul espaço para projetar-se rumo à África. Mas EUA e Grã-Bretanha querem controlar militarmente oceano

Por José Luís Fiori

Situado entre a costa leste da América do Sul e a costa oeste da África Negra, o Atlântico Sul ocupa um lugar decisivo do ponto de vista do interesse econômico e estratégico brasileiro: como fonte de recursos, como via de comunicação e como meio de projeção da influência do país no continente africano. Além do “pré-sal” brasileiro, existem reservas de petróleo na plataforma continental argentina e na região do Golfo da Guiné, sobretudo na Nigéria, Angola, Congo, Gabão e São Tomé e Príncipe. Na costa ocidental africana, também existem grandes reservas de gás, na Namíbia, e de carvão, na África do Sul; e na bacia atlântica, acumulam-se crostas cobaltíferas, nódulos polimetálicos (contendo níquel, cobalto, cobre e manganês), sulfetos (contendo ferro, zinco, prata, cobre e ouro), além de depósitos de diamante, ouro e fósforo, entre outros minerais relevantes. Já foram identificadas grandes fontes energéticas e minerais, na região da Antártica. Além disto, o Atlântico Sul é uma via de transporte e comunicação fundamental entre o Brasil e a África, e é um espaço crucial para a defesa dos países ribeirinhos, dos dois lados do oceano. Continuar lendo

Arábia Saudita recusa assento no Conselho de Segurança da ONU e pede “reformas”

Falhas em resolver conflitos sírio e palestino e questão nuclear iraniana motivaram governo saudita a rejeitar convite

A Arábia Saudita rejeitou nesta sexta-feira (18/10) assento como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para o qual havia sido indicada no dia anterior junto a Chade, Chile, Nigéria e Lituânia.  É a primeira vez que um país se recusa a participar do órgão, composto por 15 assentos, dos quais apenas cinco são permanentes e pertencem aos Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido.

Citando as falhas do conselho em resolver a disputa entre Israel e Palestina, a guerra na Síria e a proliferação de armas nucleares na região, o governo saudita disse que o órgão mais perpetuou conflitos do que ajudou em sua solução. Era a primeira vez em que a Arábia Saudita era convidada a ocupar o posto.

“Nos abstemos de assumir o posto no Conselho de Segurança da ONU até que este seja reformado e possa, efetivamente, desenvolver suas funções e exercer suas responsabilidade em manter a segurança e a paz internacional”, diz o comunicado do Ministério de Relações Exteriores de Riad. “O reino acredita que o mecanismo e o método de trabalho além do padrão duplo adotado impede o conselho de arcar com suas responsabilidades”, acrescenta o texto. Continuar lendo

Geopolítica e Ética internacional

Usar direitos humanos como pretexto para intervenções militares pressupõe hierarquia entre povos cuja ilegitimidade foi identificada já no século XVII

“Eu via no universo cristão uma leviandade com relação à guerra
que teria deixado envergonhadas as próprias nações bárbaras.”
Hugo Grotius, O Direito da Guerra e da Paz, 1625

Por José Luis Fiori

Por definição, todo poder territorial é limitado e expansivo. Envolve a existência de fronteiras, e de algum tipo de “inimigo externo” ou “bárbaro”, de quem se defender e a quem “conquistar” e “civilizar”. Por isto, os projetos expansivos de poder sempre se revestem de algum sentido de missão, e adotam algum sentido moral e messiânico. E toda conquista vitoriosa produz e impõe algum tipo de discurso e de ordem ética “supranacional”. Em muitos casos, estes poderes expansivos se associaram com religiões que se propunham ajudar na conquista messiânica e na “conversão” dos povos bárbaros. E o mesmo aconteceu com o colonialismo europeu, até o momento em que adotou a retórica laica e universalista do “direito natural”, e mais recentemente, dos “direitos humanos” e das “intervenções humanitárias”. Continuar lendo

Técnicas para a fabricação de um novo engodo, quando o antigo pifa

Nesse momento, é possível assistir, com nitidez cristalina e ao vivo, cada etapa da linha de produção de uma nova ideologia. E já que a mercadoria ainda não está pronta, é fundamental tomarmos nota de seus componentes para não corrermos o risco de fornecer matéria-prima

por Silvia Viana

Um bom começo para a reflexão que deve se seguir ao dia de ontem (e acompanhar aqueles que virão): observar atentamente a reconstrução do discurso da grande mídia.

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O desafio de ser refugiado

Convivemos hoje com o maior contingente de refugiados na história da humanidade – 160 milhões de pessoas. São homens, mulheres e crianças deslocados por flagelos como guerras, perseguições políticas e religiosas, intolerância de natureza étnica e racial.

Washington Araújo

À medida que o mundo avança para o terceiro milênio e quando se torna inadiável uma nova configuração do ordenamento jurídico internacional, existe um contingente de cerca de 160 milhões de pessoas (equivalente a mais que quatro populações da Argentina) fora de seus países de origem. São os refugiados. Aqueles que foram forçados a fugir por recearem pela sua vida e liberdade, e que na maioria dos casos, abandonaram tudo – casa, bens, família e país – rumo a um futuro incerto em terras estrangeiras. Convivemos, neste limiar do século XXI, com o maior contingente de refugiados na história da humanidade. Um número tão impressionante que representa nada menos que o triplo do número total de refugiados registrados na Europa, no início do século 20.

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Opinião: Defesa e segurança no século XXI

José Monserrat Filho*

“A eliminação da guerra é o nosso principal problema.” Hans Kelsen, jurista e filósofo austríaco.

Este tema é um super desafio global. Basta ir à Feira Internacional de Defesa e Segurança “LAAD Defence & Security”. Você vê vendedores, compradores, tecnólogos, especialistas em marketing e geoestratégia de dezenas de países. São fabricantes, fornecedores, pesquisadores e consumidores (públicos e privados) de tecnologias e equipamentos (inclusive espaciais), e serviços para as Forças Armadas, Polícias, Forças Especiais e para empresas de segurança corporativa.

A LAAD, em sua 9ª edição, terá lugar novamente nas amplas dependências do Centro de Convenções e Exposições Riocentro, no Rio de Janeiro, de 9 a 12 de abril próximo. E, claro, deve revelar o estado da arte dos produtos e serviços necessários às ações de defesa e segurança pública e corporativa, além de promover debates sobre as questões pertinentes no mundo atual.

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