O que realmente é o fascismo

por Lew Rockwell

Todo mundo sabe que o termo fascista é hoje pejorativo; um adjetivo frequentemente utilizado para se descrever qualquer posição política da qual o orador não goste.  Não há ninguém no mundo atual propenso a bater no peito e dizer “Sou um fascista; considero o fascismo um grande sistema econômico e social.”Porém, afirmo que, caso fossem honestos, a vasta maioria dos políticos, intelectuais e ativistas do mundo atual teria de dizer exatamente isto a respeito de si mesmos.O fascismo é o sistema de governo que carteliza o setor privado, planeja centralizadamente a economia subsidiando grandes empresários com boas conexões políticas, exalta o poder estatal como sendo a fonte de toda a ordem, nega direitos e liberdades fundamentais aos indivíduos e torna o poder executivo o senhor irrestrito da sociedade.

Tente imaginar algum país cujo governo não siga nenhuma destas características acima.  Tal arranjo se tornou tão corriqueiro, tão trivial, que praticamente deixou de ser notado pelas pessoas.  Praticamente ninguém conhece este sistema pelo seu verdadeiro nome. Continuar lendo

O desastre da política fiscal brasileira

Nos primeiros seis anos de governo, Lula manteve boa parte da política macroeconômica herdada de FHC. Em relação à política fiscal, persistiu na geração de superávits primários elevados, compatíveis com a redução da relação dívida/PIB. Em 2005, o ex-ministro Antônio Palocci chegou a apresentar uma proposta que objetivava a obtenção do déficit nominal zero alguns anos à frente. Naquela data, a proposta foi bombardeada pela então Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que a rotulou de “rudimentar” e completou com a famosa frase: “gasto corrente é vida”.

Alguns anos mais tarde, mais precisamente em outubro de 2008, quando explodiu a crise financeira internacional com a quebra do Lehman Brothers, o déficit nominal acumulado nos últimos 12 meses havia atingido 1,4%, o menor patamar da série histórica. Estávamos de fato a um passo de zerar o déficit nominal. O que isso teria significado? De acordo com nossos cálculos, caso o superávit primário tivesse sido mantido em 3,5% do PIB, estaríamos zerando o déficit nominal até 2020 (excluindo os efeitos cambiais). Se, além disso, não tivéssemos emitido títulos para capitalizar o BNDES e outros bancos públicos, poderíamos estar mirando uma dívida bruta (no conceito brasileiro e não do FMI) de 35% do PIB em 2020, ao passo que estamos caminhando para 65% do PIB, supondo, de maneira otimista, que as capitalizações dos bancos públicos sejam decrescentes, tendendo a zero até 2020. Fica então evidente a diferença da trajetória de endividamento que a política fiscal é capaz de gerar em um período de apenas 12 anos (2008-2020). Continuar lendo

Todo trabalho merece um salário?

A lógica se aplica a todos, mas não da mesma forma: a “concorrência internacional” impõe a alguns reavaliar suas pretensões salariais; ela autoriza outros a negociar seu “talento” a preço de ouro. E se outra lógica determinasse a definição das remunerações?

por Pierre Rimbert

De tanto avaliar todas as coisas e todas as pessoas de acordo com seu valor monetário – que contribuição você traz para os acionistas? –, era de esperar que um dia a questão se voltasse para os avaliadores, mas de outro ponto de vista: que contribuição você traz para a sociedade?

É a essa inversão de perspectiva que convida um estudo publicado em dezembro de 2009, sob a coordenação da New Economic Foundation.1 Eilis Lawlor, Helen Kersley e Susan Steed, três pesquisadoras britânicas, abordam, não sem alguma malícia, a questão das desigualdades, comparando a remuneração de certas profissões, selecionadas nos dois extremos da escala das rendas, ao “valor social” criado por seu exercício. No caso de um trabalhador da reciclagem, que recebe 6,10 libras esterlinas por hora (R$ 17), as autoras estimam que “cada libra paga em salário gera 12 libras de valor” para o conjunto da coletividade. Em contraposição, “enquanto recebem remunerações compreendidas entre 500 mil e 10 milhões de libras, os grandes banqueiros de negócios destroem 7 libras de valor social por cada libra de valor financeiro criado”. Assim, o saldo coletivo das atividades mais bem remuneradas se mostra às vezes negativo, o que sugere a causa da tempestade financeira iniciada em 2008… Continuar lendo