O porto de Mariel, Brasil, Cuba e o socialismo

Com Mariel, Brasil rompe concretamente o bloqueio imperialista contra Cuba, disse o marinheiro aposentado Jorge Luis, que já esteve em portos brasileiros.

Beto Almeida (*)

Havana – Tem sido extremamente educativo registrar, aqui em Havana, a reação do povo cubano diante da inauguração do Porto de Mariel. Expressando um elevado nível cultural, uma mirada política aprofundada sobre os fenômenos destes tempos, especialmente sobre a Reunião de Cúpula da Celac que se realiza por estes dias aqui na Ilha, tendo como meta central, a redução da pobreza, os cubanos revelam, nestas análises feitas com desembaraço e naturalidade, todo o esforço de 55 anos da Revolução Cubana feita na educação e na cultura deste povo.

Mariel, uma bofetada no bloqueio 

Poderia citar muitas frases que colhi ao acaso, conversando com os mais diversos segmentos sociais, faixas etárias distintas, etc, mas, uma delas, merece ser difundida amplamente. O marinheiro aposentado Jorge Luis, que já esteve nos portos de Santos e Rio de Janeiro, que vibra com o samba carioca, foi agudo na sua avaliação sobre o significado da parceria do Brasil com Cuba para  construir o Complexo Portuário de Mariel. “ Com Mariel,  Brasil rompe concretamente o bloqueio imperialista contra Cuba”, disse. E adverte: “ Jamais os imperialistas vão perdoar Lula e Dilma”. Ele não disse, mas, no contexto do diálogo com este marinheiro negro, atento ao noticiário de televisão, leitor diário de jornal, informado sobre o que ocorre no Brasil e no mundo,  estava subentendido, por sua expressão facial, que ficava muito claro porque Dilma é alvo de espionagem dos EUA. Continuar lendo

O Brasil, EUA e o “Hemisfério Ocidental”

Washington deve sufocar militarmente ações comuns da América do Sul, propôs teórico geopolítico norte-americano mais influente no século XX. Em que medida proposição prevalece?

Por José Luis Fiori

As terras situadas ao sul do Rio Grande constituem
um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. 

E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina
do continente 
tenham que ser chamadas igualmente de América, 
evocando similitudes entre as duas que de fato não existem

N. Spykman, “America´s Strategy in World Politics”

Tudo indica que os Estados Unidos serão o principal contraponto da política externa brasileira, dentro do Hemisfério Ocidental, durante o século XXI. E quase ninguém tem dúvida, também, de que os EUA seguirão sendo, por muito tempo, a principal potência militar, e uma das principais economias do mundo. Por isto é fundamental compreender as configurações geopolíticas da região, e a estratégia que orienta a política hemisférica norte-americana, deste início de século. Continuar lendo

Haiti expõe fraquezas da política externa brasileira

Apesar de Ministério da Defesa ser favorável a aumento do envolvimento em missões de paz, Brasil demonstra despreparo para lidar com suas consequências.

João Fernando Finazzi

Conjuntamente com a renovação por mais 1 ano do mandato da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah), que teria se encerrado nesta semana (15), o Brasil também se mantém no comando militar da missão multilateral, completando mais de 9 anos como o país com mais tropas em território haitiano. Se, inicialmente, a intervenção teria argumentos razoáveis para sua existência, atualmente sua continuação é cada vez mais vista com suspeitas.

Segundo a ativista haitiana Colette Lespinasse, do Groupe d’Appui aux Rapatriés et Refugiés, a intervenção da Minustah “não tem sentido”, uma vez que os motivos elencados para sua criação – como a restauração da ordem e a deposição das armas de grupos que ameaçavam a estabilidade local – já foram concretizados. Lespinasse também pontuou que, “apesar do contexto não propiciar uma ocupação direta de um país como os Estados Unidos”, o multilateralismo da ONU propiciaria que essa função fosse assumida por “países emergentes, como o Brasil”.

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