Por trás da crise “financeira”, a velha luta de classes

Marx estava certo, por mais que economistas superficiais tentem negá-lo: causa das turbulências econômicas é enriquecimento sem-fim da burguesia

Por Vicenç Navarro | Tradução: Cibelih Hespanhol 

É surpreendente verificar que a extensíssima literatura produzida sobre as causas das crises atuais se tenha centrado tão pouco no conflito capital-trabalho (aquilo que costumávamos chamar de luta de classes) e sua gênesis no desenvolvimento da crise. Uma possível razão é a enorme atenção dada à crise financeira como suposta causa da recessão atual. Só que essa atenção desviou os analistas do contexto econômico, e também político, que determinou e configurou a crise.

Não é possível analisar cada uma delas, e a maneira como estão relacionadas, sem referir-se ao conflito capital-trabalho. Como bem disse Marx, “a história da humanidade é a história da luta de classes”. E as crises atuais (da financeira à econômica, passando pela social e política) são um claro exemplo disso. Continuar lendo

Ler novamente Keynes

A “insensatez” dos países dominantes, criticada pela Unasul na sexta-feira passada, se dá no marco de um “grande experimento” em política econômica do mundo desenvolvido. Se a primeira reação ao estouro financeiro de 2008 foi um acordo “keynesiano” do G-20 para evitar uma recessão como a de 1930, uma vez neutralizado o pânico, os governos centrais se inclinaram, com uma ou outra exceção, a atacar o déficit com a tradicional receita de corte do gasto público e de aumentos impositivos para aplacar os mercados financeiros (que acabam por resgatar).

Eminente autoridade em John Maynard Keynes, Lorde Robert Skidelsky, professor emérito da Universidade de Warwick e autor de Keynes: the return of the master [Keynes. O retorno do mestre], acredita que os países centrais transformaram suas próprias economias em um grande laboratório de ensaio. “Estão colocando à prova a teoria keynesiana que serviu para sair da débâcle dos anos 1930. Se a consolidação fiscal for a estrada da recuperação, devemos enterrar Keynes. Se, pelo contrário, os mercados financeiros e os políticos que lhes obedecem forem os “asnos” de que falava Keynes, teremos que pensar no que fazer com os mercados para poder voltar a governar”, assinalou Lord Skidelsky. Continuar lendo