O copo meio cheio ou meio vazio

A visão sobre a América Latina difere conforme se olhe a partir dos Andes peruanos ou dos vulcões mexicanos

Por um lado há maior maturidade, mas por outro persistem a corrupção, a criminalidade e uma perversa propensão à liderança carismática

Há alguns meses, Mario Vargas Llosa e eu travamos um diálogo sobre a América Latina na Universidade de Princeton. Ao longo de sua vida e em sua obra, sua visão tem sido pessimista, às vezes inclusive fatalista, mas em tempos recentes ela foi mudando, e essa mudança, parece-me, tem fundamentos na realidade. Na conversa, confrontamos nossas respectivas impressões. Ele vê o copo meio cheio; eu, o copo meio vazio.

Numa ideia básica concordamos: nossos países têm feito progressos notáveis nos últimos anos. Basta um mínimo de memória para apreciar que, em comparação à época dos golpes de estado, dos regimes militares e das guerrilhas, dos anos das inflações estratosféricas e das espetaculares quebras, a América Latina apresentou (em geral) uma maturidade sem precedentes na sua infeliz história. Nossa tendência à anarquia e à ditadura derivou em um respeito ao menos formal pela democracia eleitoral. Igualmente alentador foi o desempenho econômico em meio à crise global: sofremos seus efeitos, mas muitas economias mostraram uma solidez tão inesperada como invejável. Além disso, muitos Governos aprenderam a lição de não relegar os problemas sociais até que estourem, e executam programas de atendimento à população mais pobre e marginalizada. Continuar lendo

É hora de pensar diferente

A repressão militar consumiu dinheiro e gerou violência sem conter a expansão do poder do narcotráfico

A repressão militar consumiu dinheiro e gerou violência sem conter a expansão do poder do narcotráfico. Até os EUA parecem dispostos a abandonar a política da “guerra às drogas”

Na sempre atrasada América do Sul, cabe ao pequeno Uruguai do presidente José Mujica levar adiante um debate que avança mais depressa em outras regiões do planeta. Diante da falência da guerra às drogas – o planeta não reduziu o número de dependentes ou consumo de entorpecentes, ao contrário –, qual política seria capaz de amenizar os efeitos deletérios, entre eles a violência e a corrupção?

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O imenso buraco negro da economia global

Novo relatório disseca “mundo offshore” — rede planetária de instituições financeiras onde os 0,1% mais ricos escondem (e manipulam) algo como PIBs dos EUA e China combinados

Por Sarah Jaffe, no Alternet | Reproduzido por Carta Maior, com tradução de Libório Júnior

“Vinte e e um trilhões – com “t” – de dólares. Eis o que as pessoas mais ricas do mundo escondem em paraísos fiscais internacionais. Embora a quantidade real possa ser maior, chegando aos 32 trilhões, uma vez que, claro, é quase impossível conhecê-la com exatidão.Ao mesmo tempo em que os governos cortam o gasto público e demitem os trabalhadores, em prol de uma maior “austeridade” obrigada pela desaceleração da economia, os super-ricos – menos de 10 milhões de pessoas – esconderam longe do alcance do arrecadador de impostos uma quantidade igual às economias japonesa e estadunidense juntas. Continuar lendo

Legalização das drogas é defendida por figuras mundiais relevantes

Cresce na América Latina a movimentação de líderes e presidentes na defesa da discussão de um modelo de combate não repressivo

Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, propõe uma nova abordagem contra as drogas

Conforme se consolidam exemplos positivos de países que legalizaram o consumo de drogas, como Portugal, evidencia-se que a repressão militar às drogas consumiu bilhões de dólares e gerou violência sem conter a expansão do poder do narcotráfico. Até mesmo os Estados Unidos parecem dispostos a abandonar a política da “guerra às drogas”, impulsionados pela pressão de figuras relevantes na política internacional e regional, especialmente da América Latina.

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