Venezuela e Ucrânia: algo em comum?

Venezuela e Ucrânia, portanto, têm sim algo em comum: sua importância do ponto de vista geoestratégico e energético para o mundo ocidental.

“Venezuela e Ucrânia são situações absolutamente díspares”, ressaltou a Presidenta Dilma. Com toda razão. Entretanto, muito além de toda a disparidade que diferencia ambas as situações, algo há em comum: tanto Venezuela quanto Ucrânia consistem em alvos dos interesses geoestratégicos e energéticos da agressiva política externa norte-americana.

A Venezuela é palco de sucessivas tentativas de desestabilização de seu governo democraticamente eleito e socialmente orientado, desde a primeira eleição de Hugo Chávez. Cabe lembrar que, de acordo com a CEPAL, a Venezuela tornou-se após o chavismo o país com melhor distribuição de renda na América Latina. Como mesmo após a morte do líder a oposição saiu derrotada das urnas, o que resta é uma alternativa ilegítima impulsionada pelo governo norte-americano. Continuar lendo

Chavismo completa 15 anos no poder neste domingo; relembre fatos mais marcantes

Com frases de efeito, medidas populares e forte resistência opositora, chegada de Hugo Chávez ao poder foi divisor de águas na Venezuela

1999
Eleito com 56% dos votos no ano anterior, Hugo Chávez assume a presidência no dia 2 de fevereiro de 1999 jurando sobre o que classificou como “moribunda Constituição”. Com aprovação popular, uma Assembleia Constituinte para a redação de nova Carta Magna é convocada. Em dezembro, os venezuelanos aprovam o teor da nova Constituição, que passa a substituir a de 1961.

Hugo Chávez durante visita ao Brasil, em 2003

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A reinvenção da América Latina

Se até agora sua inserção com o resto do mundo esteve condicionada pela presença das potências imperiais, com o novo século começou a trilhar outro caminho

Luis Hernández Navarro (*)

Em 1958, o historiador mexicano Edmundo O’Gormam publicou um livro intitulado La invención de América, com o qual sacudiu a historiografia dedicada a documentar e explicar o descobrimento e a conquista americana. Inventar, significa, de acordo com o dicionário da Real Academia da Língua, achar ou descobrir algo novo ou não conhecido.

Em seu texto, O´Gormam explica, de maneira nova para seu tempo, a forma em que o relato sobre a história e o devenir do “novo continente” foi construído. Hoje, retomando essa imagem, podemos dizer que América Latina está se reinventando. Continuar lendo

Petróleo, diplomacia e divisas internacionais

Há um século, combustível é essencial para viabilizar projetos nacionais relevantes. Por isso, no Brasil, leilões são ainda mais incompreensíveis

Por Mauricio Metri

O petróleo constitui-se, não é de hoje, num recurso estratégico. Não são poucas nem triviais as razões para tanto. Tornou-se, há tempos, o principal combustível das forças armadas em geral; encontra-se ao centro da matriz de transporte de praticamente todo o mundo; e tem uso difundido e diversificado nas mais diferentes cadeias produtivas. Daí decorre uma consequência importante para as relações internacionais: o petróleo é amplamente utilizado no “jogo diplomático” como arma de pressão, retaliação, dissuasão, apoio ou sustentação, cujos cálculos, interesses e iniciativas respondem às disputas geopolíticas inerentes à competição interestatal.

Ao longo dos últimos anos assiste-se, por exemplo, a um acirramento das relações entre OTAN e Rússia com desdobramentos para o setor de petróleo e gás natural. Desde o fim da Guerra Fria, os EUA têm deslocado o cinturão de segurança e contenção da Rússia, expandindo-o na direção da Europa Central por meio da incorporação de países desta região à OTAN. Em 1999, República Checa, Hungria e Polônia aderiram à Organização; em 2004, Bulgária, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia e Romênia; e, em 2009, Albânia e Croácia. Continuar lendo

Diplomacia “made in Brazil”

Reconhecido, no passado, por posições pacifistas e avesso às polêmicas, casos recentes evidenciam um novo modo de atuação do governo brasileiro nas relações internacionais

Maurício Barroso

A diplomacia brasileira ganhou as manchetes da grande imprensa após o resgate, no dia 23 de agosto deste ano, do senador boliviano Roger Pinto Molina do confinamento de 455 dias na embaixada em La Paz, pelo diplomata brasileiro Eduardo Saboia. Segundo alguns analistas e também de acordo com alguns editorias de jornais, o caso demonstra uma mudança de atuação do Ministério das Relações Exteriores, também conhecido como Itamaraty. Anteriormente reconhecido por suas posições pacifistas e estritamente jurídicas, ultimamente, o órgão tem sido mais “agressivo” nas relações bilaterais.

O caso gerou atrito diplomático entre Brasil e Bolívia e culminou com a demissão do então ministro das Relações Exteriores, o chanceler Antônio Patriota, que comentou desconhecer a ação de resgate de Molina. Além da operação de retirada do senador boliviano, outros acontecimentos são apontados, por analistas políticos, como uma diplomacia de ocasião. Por exemplo, a expropriação da refinaria da Petrobras na Bolívia, quando não houve esforços por parte do governo brasileiro para impedir a ação; a retirada do Paraguai do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a não extradição do italiano Cesare Battisti, condena- do por homicídio naquele país. Continuar lendo

A importância geopolítica da Bolívia e a integração da América do Sul

Luciano Wexell Severo (*)

O objetivo deste artigo é realizar uma breve análise sobre a importância geopolítica da Bolívia no cenário da América do Sul, a partir da ótica de destacados pensadores de diferentes nacionalidades. Inicialmente será apresentada uma visão geral do conceito de Heartland, desenvolvido no início do século passado pelo geógrafo inglês Halford Mackinder. A seguir, serão apresentadas as contribuições de autores como o brasileiro Mario Travassos, o estadunidense Lewis Tambs e os bolivianos Jaime Mendoza, Alipio Valencia Vega, Alberto Ostria Gutierrez, Guillermo Francovich e Valentin Abecia Baldivieso, entre outros. Por fim, é sugerida uma releitura do papel da Bolívia no atual processo de integração regional, frente à recente diversificação das atividades econômicas, ao fortalecimento de novas cidades e à aplicação da iniciativa para a Integração de Infraestrutura Sul-Americana (IIRSA).

1. Heartland de Mackinder
Em 1904, o geógrafo inglês Halford Mackinder apresentou para a Real Sociedade Geográfica de Londres o seu artigo The Geographical Pivot of History. No reconhecido trabalho estava presente a sua teoria sobre a “área pivô”. Em 1919, reapresentou a elaboração com o nome de Heartland (Mello, 1999, p.45). Segundo a sua interpretação, o mundo estaria dividido em três zonas: o Grande Oceano (que abrange três quartos do planeta), a Ilha Mundial (Europa, Ásia e África) e as ilhas-continentes menores (Austrália e Américas). Continuar lendo

Os EUA e a conjuntura geopolítica internacional

O novo papel dos EUA depois do início do segundo período presidencial de Obama tem sido o de afirmar sua liderança no cenário mundial. Primeiro vai fortalecendo a economia interna em seu país, orientando a liquidez monetária para o consumo de massas. Depois, impulsiona a corrida tecnológica em serviços informáticos e de comunicação.

Mario Burkun*

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O Brasil e as mudanças na OMC

Foi uma vitória, mas é importante que a eleição de Roberto Azevedo não seja recebida com um otimismo ingênuo. Não há espaço para se trabalhar com a possibilidade de melhoria imediata da ação brasileira no domínio das relações econômicas internacionais.

Paulo Kliass

Sim! Pode-se afirmar com relativo grau de segurança que os resultados da recente eleição para o cargo de diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) são o reflexo de uma importante mudança que está em movimento no interior dessa instituição multilateral do sistema das Nações Unidas. Afinal, foi a primeira vez que um candidato de um país externo ao grupo apoiado pelos países europeus obteve a maioria de votos.

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O golpe consumado

No Paraguai, tudo parece apontar para uma volta do Partido Colorado ao poder. A regressão é facilitada pela divisão da esquerda

por Gerhard Dilger

(O favorito Horacio Cartes, do Partido Colorado, durante carreata em Luque)

“As eleições já estão praticamente perdidas.” Para o pa’í (padre, em guarani) Francisco Oliva, jesuíta de 84 anos, militante social, comunicador e um dos mais reconhecidos analistas da sociedade paraguaia, “só um deus ex machina, como nas tragédias gregas”, poderá impedir a volta ao poder do Partido Colorado, que governou o Paraguai de 1947 até 2008. “E eles vêm para ficar por dez ou talvez vinte anos, com todo tipo de armadilhas”, acrescenta. “Estão muito bem organizados. Seu governo será totalmente vertical, direitista, clientelista; o atraso do Paraguai no contexto mundial só vai aumentar.”

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Os possíveis rumos da Venezuela

O jornalista e historiador Gilberto Maringoni acredita que o chavismo sobreviverá sem seu mentor, mas o país tem o desafio de diversificar sua base produtiva. Esta é uma matéria da edição 121 da Fórum, em bancas.

Por Felipe Rousselet. Foto de capa por http://www.flickr.com/photos/rufino_uribe/.

Morto em 5 de março, Hugo Chávez tem uma presença fortíssima na Venezuela. Mas a continuidade do chavismo não estaria tão atrelada à figura do comandante. “O abalo da perda de Chávez, embora tenha sido grande, não foi estrutural. Não compromete o futuro das transformações sociais que acontecem na Venezuela”, acredita o jornalista e historiador Gilberto Maringoni, autor de A revolução venezuelana.

Para Maringoni, um dos grandes desafios do próximo governo do país será tentar diversificar a base produtiva do país, muito dependente da exportação de petróleo. “Todos os presidentes, desde os anos 1950, tentaram industrializar o país. O problema é que o petróleo é uma riqueza constante. Você fura o poço e está exportando, ganhando dinheiro”, explica. “Essa entrada de dinheiro faz com que o país fique com uma reserva muito grande de petrodólares e com uma propensão a importar. Lá, é muito mais fácil importar automóveis do que gastar 10 ou 15 anos para instalar uma fábrica, que vai maturar o investimento e demorar para começar a dar lucro.”

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