Boko Haram, de seita extremista a grupo armado

Pregando um islã radical e rigoroso, movimento culpa os valores ocidentais, instaurados pelos colonizadores britânicos, por serem a fonte todos os males sofridos pelo país africano

Vídeo divulgado pelo grupo mostra meninas sequestradas

O grupo radical islâmico Boko Haram, autor do sequestro de mais de 200 estudantes na Nigéria, nasceu de uma seita que atraiu a juventude do norte do país com um discurso crítico em relação ao regime nigeriano corrupto. Pregando um islã radical e rigoroso, Mohammed Yusuf, o fundador, acusava os valores ocidentais, instaurados pelos colonizadores britânicos, de serem a fonte todos os males sofridos pelo país. Boko Haram significa “a educação ocidental é pecaminosa” em haussa, a língua mais falada no norte da Nigéria.

O grupo também atraiu a juventude de Maiduguri, capital do estado de Borno, com um discurso agressivo contra o governo. Os novos recrutas estão principalmente entre os “almajirai”, os estudantes corânicos itinerantes, que não tiveram acesso a uma educação de qualidade por serem muito pobres. Também recebe apoio de intelectuais que consideram que a educação ocidental corrompe o islã tradicional. Continuar lendo

Os legados geopolíticos de 2013

Aprofunda-se declínio dos EUA e União Europeia. Primavera Árabe reflui. China amplia suas ambições. Persiste ameaça climática. Francisco reintroduz debate da desigualdade

Por Roberto Savio

No momento de esperança que o ano novo pode oferecer, seria útil examinar o legado que recebemos dos doze meses que terminam. Foi um ano cheio de acontecimentos: guerras, aumento da desigualdade social, sistemas financeiros sem controle social, decadência das instituições políticas e erosão da governança global.

Talvez nada haja de novo nisso, já que tais tendências nos acompanham há bastante tempo. No entanto, alguns acontecimentos têm impacto mais profundo e duradouro. Vamos apresentá-las brevemente, em forma de lista para recordar e conferir (mas não em ordem de magnitude) Continuar lendo

Como a cisão sunita-xiita divide o mundo

A Arábia Saudita não se recusa a ocupar seu assento no Conselho de Segurança da ONU somente por causa da Síria, é também uma resposta à ameaça iraniana.

Robert Fisk

A petulante decisão da Arábia Saudita de não ocupar seu assento entre os membros sem direito a voto no Conselho de Segurança da ONU, algo sem precedentes entre os membros da Organização das Nações Unidas, tinha como objetivo expressar o descontentamento da monarquia ditatorial com Washington, que se recusou a bombardear a Síria depois do uso de armas químicas em Damasco. Mas também representou o medo dos sauditas de que Barack Obama possa responder às aberturas iranianas para uma melhor relação com o Ocidente.

O chefe da inteligência saudita, o príncipe Bandar Bin Sultan, amigão do presidente George W. Bush durante os 22 anos em que foi embaixador em Washington, já bateu no seu tamborzinho de lata para avisar os estadunidenses que a Arábia Saudita vai fazer uma “grande mudança” em sua relação com os EUA, não porque eles deixaram de atacar a Síria, mas pela inabilidade em promover um acordo de paz entre Israel e Palestina. Continuar lendo

Um teste para a democracia turca

Repressão brutal e postura arrogante do primeiro-ministro colocam em dúvida as credenciais democráticas do regime islamista do AKP

Manifestantes começaram a deixar a praça Taksim, em Istambul, neste domingo 2. Atrás, ficou um rastro de destruição do confronto com a polícia

O regime democrático da Turquia foi submetido a um teste importante neste fim de semana. E o resultado não foi nada bom para o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, em seu terceiro mandato, e o AKP, partido islamista que governa a Turquia desde 2001. Continuar lendo

A indústria do terror

 

A mídia e os políticos foram mais terroristas, no sentido próprio da palavra, do que os autores do atentado em Boston

Contradições não explicadas ou corrigidas pelas mídias e o relatos confusos da polícia alimentam teorias conspitatórias, nem todas tão absurdas. Foto: Stan Honda

Terrorismo pressupõe militância em uma organização, ou pelo menos a tentativa de intimidar uma população ou governo com um objetivo político definido. Não parece o caso dos autores do atentado de Boston: não há sinais de laços com grupos organizados, inspiração de um líder político ou religioso ou reivindicação do atentado em nome de uma causa. Ao contrário, por exemplo, de Andreas Breivik, que fez questão de se explicar em um longo manifesto.

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Robet Fisk: Guerra ao terror, a nova religião ocidental

Por que o ocidente não para de mandar bombas sobre os povos do Oriente Médio? E por que não para de mandar exércitos para ocupar terras dos muçulmanos, exatamente o que a Al-Qaeda deseja que se faça?

Por Robert Fisk, The Independent, UK. Original em “War on terror is the West’s new religion”. Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu e publicado no Redecastorphoto

Mohamed al-Zawahiri, irmão caçula do sucessor de Osama bin Laden, Ayman, fez declaração particularmente intrigante no Cairo, mês passado. Falando àquela maravilhosa instituição francesa Le Journal du Dimanche sobre o Mali, disse ao jornal que alertasse a França “e as pessoas racionais e razoáveis na França, para que não caiam na mesma armadilha em que caíram os norte-americanos. A França já é responsável por ocupar um país muçulmano. A França já declarou guerra ao Islã”. Jamais, em todos os tempos, a França recebeu aviso mais claro.

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A verdadeira batalha pelo Islã

Esqueça ideia de um mundo árabe dividido entre terroristas e pró-ocidentais. Disputa real opõe islâmicos reformistas a arquiconservadores e dogmáticos

Por Ahmed Daak e Harry Verhoeven, da Al-Jazeera

Das eleições no Egito pós-Mubarak [1] aos debates na Tunísia sobre liberdade de imprensa [2]: está em curso uma batalha pela alma política do mundo islâmico. Mas, diferente do que se previa nos dias da Guerra Global ao Terror [Global War on Terror (GWOT)], as visões em confronto não são o terrorismo jihadi e o secularismo à moda ocidental. Continuar lendo

Em nome da queda de todos os muros

Convidado do ciclo Fronteiras do Pensamento, o filósofo franco-búlgaro Tzvetan Todorov diz que a convivência entre culturas não é difícil, porém alerta para o crescimento da xenofobia

A perigosa separação do mundo por muros invisíveis – aqueles erguidos com tijolos religiosos e sociais – é uma das grandes preocupações do filósofo franco-búlgaro Tzvetan Todorov, que virá a São Paulo em setembro para o projeto Fronteiras do Pensamento.

Tzvetan Todorov virá a São Paulo em setembro para o projeto Fronteiras do Pensamento

Tzvetan Todorov virá a São Paulo em setembro para o projeto Fronteiras do Pensamento

Crítico dos totalitarismos, ele vê com apreensão os conflitos nacionais, que ganharam maior importância depois do colapso do império soviético nos anos 1980. “A xenofobia substituiu o anticomunismo (na Europa ocidental) e o anti-imperialismo (na Europa oriental)”, disse ele ao Sabático, em entrevista por e-mail, durante uma brecha das sessões de lançamento de seu livro Os Inimigos Íntimos da Democracia, que chegará ao Brasil em agosto, pela editora Companhia das Letras. Continuar lendo