Sensibilizando sem tomar o poder

Os cinco dias de vivência que tive no mundo zapatista não foram suficientes para uma compreensão plena da complexidade de seu funcionamento, da relação entre as instituições armadas e políticas e da dinâmica de liderança. Pude ver, porém, o comprometimento da luta dos indígenas chiapanecos

por Felipe Addor

O contexto histórico

Há pouco mais de trinta anos, um grupo de seis militantes de esquerda, sendo três indígenas,1 embrenharam-se nas selvas do estado de Chiapas, um dos mais ricos e desiguais do México, com um único objetivo: constituir um foco de resistência aos avanços das políticas que atentavam contra o bem-estar da população mexicana e promoviam a privatização e a concentração das propriedades rurais. Graças à convivência de aprendizado mútuo com as comunidades indígena descendentes dos povos maias, começou a consolidar-se uma nova luta, que misturava a formação socialista daqueles militantes com a cultura indígena, baseada na organização comunitária, nas decisões coletivas e na luta pela autonomia. Não menos importante, desenvolveu-se uma sólida formação militar, que tinha como estratégia o conhecimento dos meandros do território da Selva Lacandona. Continuar lendo

‘Na moda’ na época da Guerra Fria, golpes de Estado estão mais raros

Rupturas como a de Honduras estão menos frequentes, diz estudo. G1 explica o que é um golpe de estado e lista os últimos.

Tropas fizeram guarda em frente à sede do governo tailandês em Baggcoc, após um golpe que tirou o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra do poder enquanto ele viajava, em setembro de 2006

Manuel Zelaya foi eleito presidente de Honduras em 2005 e empossado no cargo no começo de 2006. Seu mandato seguiu como prevê a lei hondurenha até junho deste ano, quando, após ter proposto um referendo inconstitucional sobre uma possível reeleição, ele foi retirado do cargo pelos militares e colocado num voo direto para a Costa Rica.

O grupo de civis e militares que o impediu de governar agora enfrenta um problema diplomático e político, com a volta de surpresa de Zelaya ao país. O impasse se arrasta desde segunda-feira, com protestos e mortes.

O que aconteceu em Honduras foi um golpe de Estado, ou a “ruptura violenta da ordem política que leva um grupo que está alojado no poder a ser dele desalojado”, como explicou ao G1 por telefone o pós-doutor em ciência política e professor de Relações Internacionais da PUC-SP Cláudio Gonçalves Couto.

Por “ruptura violenta” pode-se entender a tomada do poder pelas armas – e nesse caso se encaixam os golpes militares, pois, mesmo não havendo tiros, há a violência da ameaça imediata. Também pode ser considerada ato de violência a ruptura das regras normais de alternância no poder. “Aí podem ser entendidos como golpes de Estado, por exemplo, o uso de instrumentos paralegais ou o uso abusivo da lei como uma forma de afastar do poder de quem seria legitimamente seu ocupante”, explica o professor Claudio Couto. Continuar lendo

Operação fronteira

Conheça ações e iniciativas do governo Federal e das Forças Armadas no processo de proteção do território brasileiro

Maurício Barroso

Maturacá (AM) – Em 2007, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, visitaram as instalações de fronteira do Exército na comunidade de Maturacá no município de São Gabriel da Cachoeira.

O Brasil é um país com dimensões continentais. Seus quase 17 mil quilômetros de extensão dividem-no com outros dez países, que passam por 11 Estados brasileiros. São regiões complexas e de intensa entrada e saída de mercadorias e pessoas, fluxo que torna a vigilância das fronteiras um desa o constante e primordial para a segurança nacional.

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Equador quer vender parte da Amazônia a petrolíferas chinesas

Grupos indígenas afirmam que não deram consentimento; políticos foram a Pequim divulgar projetos

O Equador planeja leiloar mais de 3 milhões de hectares da Floresta Amazônica para companhias petrolíferas chinesas. Um grupo de políticos equatorianos negociou na segunda-feira contratos com representantes de empresas como a China Petrochemical e a China National Offshore Oil. Antes de Pequim, eles se reuniram em Quito, Houston (EUA) e Paris, sempre encontrando resistência e protestos de indígenas. As informações são do jornal The Guardian.

“O Equador tem vontade de estabelecer uma relação de benefício mútuo”, disse o embaixador do Equador na China em um discurso. De acordo com a ONG Amazon Watch, sete grupos indígenas que habitam o terreno afirmam que não consentiram com a aprovação de projetos envolvendo petróleo – que devastariam o ambiente e ameaçariam seu modo de vida.

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De quem é a terra na Bolívia?

O delicado problema de conflitos fundiários e de territórios, que por tantos anos foi ignorado, começa a ser discutido no país

O delicado problema de conflitos fundiários e de territórios, que por tantos anos foi ignorado, começa a ser discutido no país

Por Lídia Amorim

Todos os dias, antes que o sol saia no horizonte, Octavio Yauquirena se levanta para trabalhar. A divisão de trabalho na comunidade onde vive se dá de acordo com o que o coletivo decide, distribuindo-se tarefas como caçar, pescar, cuidar das árvores de cacau silvestre, plantar, colher, limpar terreno. Octavio é indígena guarayo, e vive na comunidade de Urubichá. A poucos quilômetros dali está o que antes era a fazenda de Laguna Coração e agora é uma comunidade campesina. No local, vive Ceferino Cuentas. Quando a fazenda foi expropriada, ele veio com sua família de La Paz, e hoje tem seu pequeno pedaço de terra onde planta produtos orgânicos em sistemas diversificados. E, ao lado do grupo de camponeses, separados apenas por uma pequena estrada de chão, está uma grande propriedade de soja. Continuar lendo

Após obras de Belo Monte, Altamira enfrenta insegurança e alta de preços

Terra Indígena do povo Arara da Volta Grande do Xingu, que vive na "área de influência" de Belo Monte.

Terra Indígena do povo Arara da Volta Grande do Xingu, que vive na "área de influência" de Belo Monte.

Lunaé Parracho
Especial de Altamira (PA)

 

Em 3 de Janeiro, foi publicada do Diário Oficial, pela ANEEL, a última desapropriação de terras para a construção de Belo Monte, uma declaração de utilidade pública para uma área 282,3 mil hectares no Pará. A declaração foi solicitada pela Norte Energia, empresa responsável pelo empreendimento, que na prática ficou autorizada a remover e “reassentar” ribeirinhos, índios e moradores de Altamira. Este é considerado um dos pontos mais polêmicos no projeto da usina, com o cadastro de famílias instaladas em áreas de interesse dos empreendedores sendo feito sem o devido esclarecimento da população local. Continuar lendo

AM: Cabeça do Cachorro busca soluções energéticas e em telecomunicações

A Cabeça do Cachorro, uma região do extremo noroeste do Brasil, tem esse nome por causa de sua forma no mapa. Com 200 quilômetros quadrados, duas fronteiras (Colômbia e Venezuela), 23 etnias e quatro idiomas, é uma complexa área da selva amazônica diante da qual uma frase nos conforta: o Exército e a FAB cuidam. Quem se arrisca a verificar in loco, pagando o equivalente a uma viagem à Europa, descobre algo que o Complexo do Alemão, no Rio, e as favelas de Porto Príncipe revelam: a realidade é complexa demais para se resolver apenas com soldados armados. Continuar lendo

ESPECIAL AMAZÔNIA – 1ª PARTE – 3 matérias e um infográfico sobre a formação e principais características do bioma amazônico

Amazônia ano 1000

Na Amazônia de mil anos atrás, civilizações experimentavam um florescimento cultural

por Eduardo Neves
Os índios enawere-nawe têm parentesco com civilizações que se estabeleceram na região do rio Xingu ao redor do ano 1000

Os índios enawere-nawe têm parentesco com civilizações que se estabeleceram na região do rio Xingu ao redor do ano 1000

Se pudéssemos voltar no tempo e visitar a Amazônia de mil anos atrás, veríamos um mundo diferente. Não haveria a grande área desmatada e ocupada por pastagens e cultivos do sul e do sudeste da região, no atual Pará. Em trechos hoje cobertos por selvas densas, se destacariam sinais claros de ocupação humana: grandes aldeias ou mesmo cidades, cercadas de áreas de roças e de matas secundárias, ligadas umas às outras por largos e longos caminhos. Em alguns locais, centros cerimoniais desenhados por alinhamentos de pedra estariam dispostos em circulos. Em pontos distantes como a ilha de Marajó é do Acre, por exemplo, aterros artificiais eram espaços de moradia e rituais. E, no que é a Amazônia boliviana, poderíamos contemplar um labirinto de diques, barragens e canais distribuído por milhares de quilômetros quadrados. Continuar lendo