Amazon, do outro lado do computador

Com empresários celebrizados, telas finas e cores vivas, a economia digital evoca a imaterialidade, a horizontalidade e a criatividade. Porém, uma investigação sobre a gigante do comércio eletrônico Amazon revela o outro lado da moeda: fábricas gigantes em que humanos pilotados por computadores trabalham até a exaustão

por Jean-Baptiste Mallet

Descolando seu olhar dos cartazes do sindicato alemão Ver.di – o sindicato unificado dos serviços – presos à parede da sala de reuniões, Irmgard Schulz se levanta de repente e toma a palavra. “No Japão”, conta, “a Amazon acaba de recrutar cabras para que elas pastem em torno de um armazém. A empresa colocou nelas um crachá igual ao que temos pendurado no pescoço! Está tudo lá: nome, foto, código de barras.” Estamos na reunião semanal de funcionários da Amazon em Bad Hersfeld (Hesse, Alemanha). Em uma imagem, a operária logística acaba de resumir a filosofia social da multinacional de vendas on-line, que propõe ao consumidor comprar com alguns cliques e receber no prazo de 48 horas um esfregão, as obras de Marcel Proust ou um arado motorizado.1

Em todo o mundo, 100 mil pessoas estão trabalhando em 89 armazéns logísticos cuja superfície somada totaliza cerca de 7 milhões de metros quadrados. Em menos de duas décadas, a Amazon projetou-se na vanguarda da economia digital, ao lado da Apple, do Google e do Facebook. Desde seu lançamento em Bolsa, em 1997, seu faturamento foi multiplicado por 420, chegando a US$ 62 bilhões em 2012. Seu fundador e CEO, Jeffrey Preston Bezos, metódico e libertário, inspira aos jornalistas retratos ainda mais lisonjeiros desde que investiu em agosto último US$ 250 milhões – 1% de sua fortuna pessoal – para comprar o diário norte-americanoThe Washington Post. O tema do sucesso econômico eclipsa com certeza o das condições de trabalho. Continuar lendo

O Brasil entre o presente e o futuro

Lula contou com a bonança de um capitalismo sem crise e com um Estado fortalecido e uma economia organizada. Porém, o aumento da renda dos trabalhadores com pouca qualificação parece estar no limite, o mesmo ocorrendo com as elevações do salário mínimo sem incremento de produtividade e com a ampliação do crédito

por José Maurício Domingues

Em meados da década de 1980 começou o que se pode chamar de uma nova história do Brasil. Com a conclusão da “modernização conservadora” – baseada na aliança entre latifundiários e burguesia industrial –, o país se mostrava, à sua maneira, contemporâneo da modernidade que se afirmava planetariamente, ao mesmo tempo que uma verdadeira revolução democrática ocorria no país. Agora é o futuro que se põe como desafio, não a simples realização da modernidade.

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