‘Na moda’ na época da Guerra Fria, golpes de Estado estão mais raros

Rupturas como a de Honduras estão menos frequentes, diz estudo. G1 explica o que é um golpe de estado e lista os últimos.

Tropas fizeram guarda em frente à sede do governo tailandês em Baggcoc, após um golpe que tirou o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra do poder enquanto ele viajava, em setembro de 2006

Manuel Zelaya foi eleito presidente de Honduras em 2005 e empossado no cargo no começo de 2006. Seu mandato seguiu como prevê a lei hondurenha até junho deste ano, quando, após ter proposto um referendo inconstitucional sobre uma possível reeleição, ele foi retirado do cargo pelos militares e colocado num voo direto para a Costa Rica.

O grupo de civis e militares que o impediu de governar agora enfrenta um problema diplomático e político, com a volta de surpresa de Zelaya ao país. O impasse se arrasta desde segunda-feira, com protestos e mortes.

O que aconteceu em Honduras foi um golpe de Estado, ou a “ruptura violenta da ordem política que leva um grupo que está alojado no poder a ser dele desalojado”, como explicou ao G1 por telefone o pós-doutor em ciência política e professor de Relações Internacionais da PUC-SP Cláudio Gonçalves Couto.

Por “ruptura violenta” pode-se entender a tomada do poder pelas armas – e nesse caso se encaixam os golpes militares, pois, mesmo não havendo tiros, há a violência da ameaça imediata. Também pode ser considerada ato de violência a ruptura das regras normais de alternância no poder. “Aí podem ser entendidos como golpes de Estado, por exemplo, o uso de instrumentos paralegais ou o uso abusivo da lei como uma forma de afastar do poder de quem seria legitimamente seu ocupante”, explica o professor Claudio Couto. Continuar lendo

Golpe de 64: ‘Marcha da Família com Deus pela Liberdade’ completa 50 anos; saiba quem a financiou e dirigiu

Tidas como protagonistas do movimento que depôs João Goulart, organizações femininas lideradas por mulheres de classe média eram, na verdade, financiadas e instruídas pelos homens da elite empresarial-militar que queriam derrubar Jango

Felipe Amorim e Rodolfo Machado

Há 50 anos, em 19 de março de 1964, era realizada na cidade de São Paulo a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. Estima-se que entre 500 mil e 800 mil pessoas partiram às 16h da Praça da República em direção à Praça da Sé, no centro, manifestando-se em resposta ao emblemático comício de João Goulart, seis dias antes, defendendo suas Reformas de Base na Central do Brasil. Passaram à história como as genuínas idealizadoras e promotoras da marcha organizações femininas e mulheres da classe média paulistana. No entanto, por trás deste aparente protagonismo feminino às vésperas do golpe que deu lugar a 21 anos de regime ditatorial, esconde-se um poderoso aparato financeiro e logístico conduzido por civis e militares que tramavam contra Jango. Um detalhe: quase todos eram homens.

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Chavismo completa 15 anos no poder neste domingo; relembre fatos mais marcantes

Com frases de efeito, medidas populares e forte resistência opositora, chegada de Hugo Chávez ao poder foi divisor de águas na Venezuela

1999
Eleito com 56% dos votos no ano anterior, Hugo Chávez assume a presidência no dia 2 de fevereiro de 1999 jurando sobre o que classificou como “moribunda Constituição”. Com aprovação popular, uma Assembleia Constituinte para a redação de nova Carta Magna é convocada. Em dezembro, os venezuelanos aprovam o teor da nova Constituição, que passa a substituir a de 1961.

Hugo Chávez durante visita ao Brasil, em 2003

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Haiti expõe fraquezas da política externa brasileira

Apesar de Ministério da Defesa ser favorável a aumento do envolvimento em missões de paz, Brasil demonstra despreparo para lidar com suas consequências.

João Fernando Finazzi

Conjuntamente com a renovação por mais 1 ano do mandato da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah), que teria se encerrado nesta semana (15), o Brasil também se mantém no comando militar da missão multilateral, completando mais de 9 anos como o país com mais tropas em território haitiano. Se, inicialmente, a intervenção teria argumentos razoáveis para sua existência, atualmente sua continuação é cada vez mais vista com suspeitas.

Segundo a ativista haitiana Colette Lespinasse, do Groupe d’Appui aux Rapatriés et Refugiés, a intervenção da Minustah “não tem sentido”, uma vez que os motivos elencados para sua criação – como a restauração da ordem e a deposição das armas de grupos que ameaçavam a estabilidade local – já foram concretizados. Lespinasse também pontuou que, “apesar do contexto não propiciar uma ocupação direta de um país como os Estados Unidos”, o multilateralismo da ONU propiciaria que essa função fosse assumida por “países emergentes, como o Brasil”.

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Operação fronteira

Conheça ações e iniciativas do governo Federal e das Forças Armadas no processo de proteção do território brasileiro

Maurício Barroso

Maturacá (AM) – Em 2007, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, visitaram as instalações de fronteira do Exército na comunidade de Maturacá no município de São Gabriel da Cachoeira.

O Brasil é um país com dimensões continentais. Seus quase 17 mil quilômetros de extensão dividem-no com outros dez países, que passam por 11 Estados brasileiros. São regiões complexas e de intensa entrada e saída de mercadorias e pessoas, fluxo que torna a vigilância das fronteiras um desa o constante e primordial para a segurança nacional.

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Síria: uma guerra de todos contra todos

Eleição do moderado Rowhani no Irã complica guerra civil na Síria, onde EUA e al-Qaeda estão do mesmo lado

Por Roberto Cattani

Até agora, sob a presidência de Mahmoud Ahmadinejjad, o Irã era o principal suporte econômico e financeiro do regime de Bashar al-Assad, o grande aliado estratégico, e o maior fornecedor de armas, por intermediário do movimento xiita libanês Hezbollah.

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Chuvas de monção já mataram 575 pessoas em junho na Índia

Soldados das Forças Armadas que participam dos trabalhos de resgate evacuaram nos últimos dias 73 mil pessoas

O número de mortes causadas pelas chuvas de monção que afetaram neste mês o estado indiano de Uttarakhand subiu neste sábado para 575, enquanto 20 mil pessoas continuam isoladas à espera de resgate. “Na realidade foram recuperados muitos mais corpos, mas estamos mais preocupados em salvar as pessoas que em contabilizar os mortos”, disse à Agência Efe por telefone o secretário de Interior de Uttarakhand, Om Prakash.

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Israel vive dilemas de sociedade murada

O país, apesar de vigoroso e sólido, vive complexas e profundas contradições desde sua fundação, em 14 de maio de 1948

O aeroporto Ben-Gurion, principal porta de entrada para Israel, fica encravado no meio do caminho entre Jerusalém e Tel Aviv. Uma auto-estrada ampla, de quatro pistas, asfaltada com requinte, conduz os recém-chegados para qualquer um dos lados. A leste, para quem se destina ao centro religioso do planeta. A oeste, para uma cidade mediterrânea e cosmopolita.

Cena cotidiana à beira do mar em Tel Aviv. Economia de Israel cresceu, na última década, a um ritmo médio de 3,4%/ano

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Como Chávez se tornou Chávez

Além das políticas adotadas por seu governo, Hugo Chávez − filho de uma família modesta, de origem mestiça e sem perspectivas de ascensão social a não ser pela via militar − seduziu os venezuelanos porque se parece com eles

por Ignacio Ramonet

Enfim, a eternidade o transforma naquilo que ele sempre foi”.1 Hugo Chávez, falecido no dia 5 de março em pleno desenvolvimento político, reúne-se, no imaginário dos humildes da América Latina, à pequena corte dos grandes defensores de sua causa: Emiliano Zapata, Che Guevara, Salvador Allende… No início, no entanto, nada dizia que ele teria um destino tão lendário.

Chávez veio ao mundo no seio de uma família muito pobre, do fim de mundo do faroeste venezuelano, em Sabaneta, um pequeno vilarejo dos Llanos, as Grandes Planícies infinitas que se encontram com a Cordilheira dos Andes. Quando nasceu, em 1954, seus pais não tinham nem 20 anos. Continuar lendo

Boaventura Santos: Chávez e o papel do carisma

Para sociólogo português, identificação com governante popular pode mobilizar e conscientizar. Problema é que termina com a morte

Por Boaventura de Sousa Santos, no site de Ladislau Dowbor

Morreu o líder político democrático mais carismático das últimas décadas. Quando acontece em democracia, o carisma cria uma relação política entre governantes e governados particularmente mobilizadora, porque junta à legitimidade democrática uma identidade de pertença e uma partilha de objetivos que está muito para além da representação política. As classes populares, habituadas a serem golpeadas por um poder distante e opressor (as democracias de baixa intensidade alimentam esse poder) vivem momentos em que a distância entre representantes e representados quase se desvanece. Continuar lendo