1964: golpe ou revolução?

A maneira como nós olhamos o passado depende de valores, convicções e necessidades do presente, o que se reflete na forma semântica com que batizamos os eventos históricos

Nesta segunda-feira, 31 de março de 2014, o Brasil lembra –mais lembra do que comemora– os 50 anos do movimento que derrubou o governo do presidente João Goulart e instaurou o regime militar de 64. É um período da história que ainda permanecerá por muito tempo cercado de controvérsia, a começar pela definição do que realmente aconteceu no país. Para os militares, em 64 houve uma “Revolução” no Brasil, cujos principais objetivos seriam restaurar a ordem pública, controlar a indisciplina nos quartéis e impedir a tomada do poder pelos comunistas. Por esse ponto de vista, tratou-se, portanto, mais de uma “contrarrevolução” do que de uma “revolução”. Conceito inteiramente diverso pode ser observado atualmente nas redes sociais, na imprensa e nos discursos civis, que em geral definem 1964 como um “golpe militar” que instaurou uma “ditadura” no Brasil. Continuar lendo

O que realmente é o fascismo

por Lew Rockwell

Todo mundo sabe que o termo fascista é hoje pejorativo; um adjetivo frequentemente utilizado para se descrever qualquer posição política da qual o orador não goste.  Não há ninguém no mundo atual propenso a bater no peito e dizer “Sou um fascista; considero o fascismo um grande sistema econômico e social.”Porém, afirmo que, caso fossem honestos, a vasta maioria dos políticos, intelectuais e ativistas do mundo atual teria de dizer exatamente isto a respeito de si mesmos.O fascismo é o sistema de governo que carteliza o setor privado, planeja centralizadamente a economia subsidiando grandes empresários com boas conexões políticas, exalta o poder estatal como sendo a fonte de toda a ordem, nega direitos e liberdades fundamentais aos indivíduos e torna o poder executivo o senhor irrestrito da sociedade.

Tente imaginar algum país cujo governo não siga nenhuma destas características acima.  Tal arranjo se tornou tão corriqueiro, tão trivial, que praticamente deixou de ser notado pelas pessoas.  Praticamente ninguém conhece este sistema pelo seu verdadeiro nome. Continuar lendo

Democracia ou Capitalismo?

A democracia liberal foi derrotada pelo capitalismo e não me parece que seja derrota reversível. Portanto, trata-se de inventar nova democracia

Por Boaventura de Sousa Santos 

No início do terceiro milênio as esquerdas debatem-se com dois desafios principais: a relação entre democracia e capitalismo; o crescimento econômico infinito (capitalista ou socialista) como indicador básico de desenvolvimento e de progresso. Nesta carta, centro-me no primeiro desafio.

Ao contrário do que o senso comum dos últimos cinquenta anos nos pode fazer pensar, a relação entre democracia e capitalismo foi sempre uma relação tensa, senão mesmo de contradição. Foi-o certamente nos países periféricos do sistema mundial, o que durante muito tempo foi chamado Terceiro Mundo e hoje se designa por Sul global. Mas mesmo nos países centrais ou desenvolvidos a mesma tensão e contradição esteve sempre presente. Basta lembrar os longos anos do nazismo e do fascismo.

Uma análise mais detalhada das relações entre capitalismo e democracia obrigaria a distinguir entre diferentes tipos de capitalismo e sua dominância em diferentes períodos e regiões do mundo e entre diferentes tipos e graus de intensidade de democracia. Nesta carta concebo o capitalismo sob a sua forma geral de modo de produção e faço referência ao tipo que tem vindo a dominar nas últimas décadas, o capitalismo financeiro. No que respeita à democracia centro-me na democracia representativa tal como foi teorizada pelo liberalismo. Continuar lendo

Os sete governos derrubados pelos EUA

J. Dana Stuster, do site Foreign Policy

A era de golpes apoiados pela CIA despontou de maneira dramática: um general norte-americano viaja até o Irã e encontra “velhos amigos”; dias depois, o Xá ordena que o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh deixe seu cargo. Quando os militares iranianos hesitam, milhões de dólares são injetados em Teerã para corromper os apoiadores de Mossadegh e financiar protestos de rua. Os militares, reconhecendo que a balança do poder começou a pesar mais do outro lado, derrubam o primeiro-ministro, que vive o resto de sua vida sob prisão domiciliar. Este foi, como um documento da CIA atesta, “uma operação norte-americana do começo ao fim”, e um dos muitos golpes apoiados pelos EUA que aconteceram pelo mundo durante a segunda metade do século XX.

Alguns líderes, tanto ditadores quanto eleitos democraticamente, foram pegos em meio ao conflito entre EUA e URSS da Guerra Fria – uma posição que custaria seus postos (e, para alguns, suas vidas) conforme a CIA tentava instalar “seus homens” no comando dos estados. O governo dos EUA reconheceu publicamente algumas dessas ações secretas; na verdade, o papel da CIA no golpe de 1953 tornou-se público esta semana. Em outros casos, o envolvimento da CIA ainda está somente sob suspeita. Continuar lendo

Egito: quando a “Revolução” é pura farsa

Vale ler Marx, para compreender ditadura que apela às massas e ao nacionalismo, enquanto reprime brutalmente e reata laços com Washington

Por Kaveh L AfrasiabiAsia Times Online | Tradução Vila Vudu

“O gigante pressupõe o anão.
Cesar, o herói, deixou atrás de si um Otaviano…”

(Karl Marx)

Quando o novo homem forte do Egito, general Abdel Fattah al-Sisi, convocou seus apoiadores para que manifestassem sua solidariedade ao Exército na 6ª-feira (26/7), 57º aniversário da nacionalização do Canal de Suez, ato do carismático Gamal Abdel Nasser, minha reação instintiva foi correr à prateleira, para reler O 18 de Brumário de Luis Bonaparte, de Karl Marx, em homenagem à analogia histórica.[1]

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Papa surpreenderá com reviravolta na Igreja, opina teólogo Leonardo Boff

Para representante da Teologia da Libertação, papa Francisco é pragmático, mais liberal, e não é culpado das acusações sobre ditadura argentina

O ex-sacerdote brasileiro Leonardo Boff, um dos mais destacados representantes da Teologia da Libertação, acredita que o papa Francisco surpreenderá muitos dando um reviravolta radical à Igreja.

“Agora é papa e pode fazer o que quiser. Muitos se surpreenderão com o que Francisco fará. Para isso, precisará de uma ruptura com as tradições, deixar para trás a cúria corrupta do Vaticano para abrir passagem para uma igreja universal”, disse Boff em entrevista que será publicada na edição da próxima semana da revista alemã Der Spiegel.

O teólogo se disse muito satisfeito com o nome de Francisco para o pontífice.
”Este nome é programático: Francisco de Assis representa uma igreja dos pobres e dos oprimidos, responsabilidade perante o meio ambiente e rejeição ao luxo e a ostentação”, acrescentou Boff, que pertence à Ordem dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos.

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