A Índia reconhece os transexuais como um “terceiro gênero”

A Suprema Corte arremete contra a discriminação em um país onde as relações homossexuais são ilegais

Ativistas homossexuais da Índia.

“Não sou homem nem sou mulher: sou transexual. Este é um grande dia para as pessoas como eu na Índia. Seremos aceitos pelo que somos”, diz Kiran ao saber da notícia. A Suprema Corte da Índiareconhece a partir desta terça-feira as pessoas transexuais como um terceiro sexo, diferente do feminino e do masculino, uma medida que busca acabar com sua discriminação em um país onde, entretanto, as relações homossexuais são ilegais. “Os transexuais são também cidadãos deste país. É direito de todo ser humano escolher seu gênero”, afirma o veredicto, dizendo tratar-se de uma questão “de direitos humanos”. Continuar lendo

O novo não se inventa, descobre-se

Reconhecido internacionalmente por suas contribuições às Ciências Humanas e, entre os que conviveram com ele, por sua generosidade e humildade, Milton Santos é hoje uma referência também para o movimento negro

Por Glauco Faria

“Ele representava nas Ciências Humanas o que se pode chamar de ala combatente. O que Florestan Fernandes foi na Sociologia, ele foi na Geografia. Nos seus trabalhos, o rigor científico nunca foi obstáculo a uma consciência social desenvolvida e profundamente arraigada nos problemas do Brasil.” Foi assim que um dos grandes intelectuais brasileiros, Antonio Candido, definiu o geógrafo Milton Santos, que foi seu colega na Universidade de São Paulo (USP).

Baiano de Brotas de Macaúbas, Milton Santos cursou Direito em Salvador, embora quando jovem tivesse dado aulas na área que verdadeiramente o apaixonava, a Geografia. Na universidade, envolveu-se com a política estudantil e chegou a ser eleito vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Mas as letras da lei não foram suficientes para seduzi-lo e, concluída a graduação, Milton tornou-se professor de Geografia do Instituto Central de Educação Isaías Alves (Iceia) e do Colégio Central. Levou a concurso sua tese Povoamento da Bahia, e passou a ocupar a cadeira de Geografia Humana do Ginásio Municipal de Ilhéus. E foi ali que escreveu seu primeiro livro, A Zona do Cacau, que tratava da monocultura na região. A obra já alertava para os riscos que poderiam advir da adoção de tal prática. Continuar lendo

Nosso racismo é um crime perfeito

O antropólogo Kabengele Munanga fala sobre o mito da democracia racial brasileira, a polêmica com Demétrio Magnoli e o papel da mídia e da educação no combate ao preconceito no país

Por Camila Souza Ramos e Glauco Faria

Fórum – O senhor veio do antigo Zaire que, apesar de ter alguns pontos de contato com a cultura brasileira e a cultura do Congo, é um país bem diferente. O senhor sentiu, quando veio pra cá, a questão racial? Como foi essa mudança para o senhor?

Kabengele – Essas coisas não são tão abertas como a gente pensa. Cheguei aqui em 1975, diretamente para a USP, para fazer doutorado. Não se depara com o preconceito à primeira vista, logo que sai do aeroporto. Essas coisas vêm pouco a pouco, quando se começa a descobrir que você entra em alguns lugares e percebe que é único, que te olham e já sabem que não é daqui, que não é como “nossos negros”, é diferente. Poderia dizer que esse estranhamento é por ser estrangeiro, mas essa comparação na verdade é feita em relação aos negros da terra, que não entram em alguns lugares ou não entram de cabeça erguida.

Depois, com o tempo, na academia, fiz disciplinas em antropologia e alguns de meus professores eram especialistas na questão racial. Foi através da academia, da literatura, que comecei a descobrir que havia problemas no país. Uma das primeiras aulas que fiz foi em 1975, 1976, já era uma disciplina sobre a questão racial com meu orientador João Batista Borges Pereira. Depois, com o tempo, você vai entrar em algum lugar em que está sozinho e se pergunta: onde estão os outros? As pessoas olhavam mesmo, inclusive olhavam mais quando eu entrava com minha mulher e meus filhos. Porque é uma família inter-racial: a mulher branca, o homem negro, um filho negro e um filho mestiço. Em todos os lugares em que a gente entrava, era motivo de curiosidade. O pessoal tentava ser discreto, mas nem sempre escondia. Entrávamos em lugares onde geralmente os negros não entram. Continuar lendo

Sem tempo para sonhar: EUA têm mais negros na prisão hoje do que escravos no século XIX

No dia histórico do discurso “eu tenho um sonho”, de Martin Luther King, panorama social é dramático aos afrodescendentes norte-americanos

O presidente norte-americano, Barack Obama, participa nesta quarta-feira (28/08) em Washington de evento comemorativo pelo aniversário de 50 anos do emblemático discurso “Eu tenho um Sonho”, de Martin Luther King Jr. – considerado um marco da igualdade de direitos civis aos afro-americanos. Enquanto isso, entre becos e vielas dos EUA, os negros não vão ter muitos motivos para celebrar ou “sonhar com a esperança”, como bradou Luther King em 1963.

De acordo com sociólogos e especialistas em estudos das camadas populares na América do Norte, os índices sociais – que incluem emprego, saúde e educação – entre os afrodescendentes norte-americanos são os piores em 25 anos. Por exemplo, um homem negro que não concluiu os estudos tem mais chances de ir para prisão do que conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Uma criança negra tem hoje menos chances de ser criada pelos seus pais que um filho de escravos no século XIX. E o dado mais assombroso: há mais negros na prisão atualmente do que escravos nos EUA em 1850, de acordo com estudo da socióloga da Universidade de Ohio, Michelle Alexander. Continuar lendo

Relatório do Unicef aponta exclusão da criança com deficiência

Pesquisa também revela diminuição na taxa de mortalidade infantil brasileira

Crianças com deficiência têm menos oportunidades e menos acesso a recursos e serviços que as demais crianças, aponta o relatório Situação Mundial da Infância 2013 – Crianças com Deficiência, do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). A exclusão não está restrita a um setor específico, mas fere direitos básicos, como o acesso à educação e à saúde.

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Mais de 200 milhões de crianças sofrem violência sexual no mundo, diz ONG

Segundo relatório de organização, quase metade das vítimas das agressões sexuais são meninas menores de 16 anos

Mais de 200 milhões de crianças foram vítimas de violência sexual no mundo, segundo um relatório do Plano Internacional, organização não governamental que propõe uma maior ação dos governos e da sociedade civil para erradicar este problema.

O relatório “O direito das meninas a aprender sem medo”, ao qual a Agência Efe teve acesso neste sábado (09/03), mostra que “em nível mundial estima-se que 150 milhões de meninas e 73 milhões de meninos sofreram algum tipo de violência sexual” no mundo todo.

Com base nos dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), a organização afirma que “quase metade de todas as agressões sexuais são cometidas contra meninas menores de 16 anos”.

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Após fugir da pobreza, milhares de haitianos enfrentam discriminação no Chile

Subempregos e preconceito racial são realidades cotidianas dos imigrantes no país sul-americano

A entrevista com o presidente da OSHEC (Organização Sociocultural dos Haitianos do Bairro Estación Central) estava marcada para as 13h. Adneau Desinord, de 27 anos, precisava daquela manhã para descansar, depois de cobrir o turno da madrugada, no posto de gasolina onde trabalha como frentista, em Santiago.

Desde sua chegada, Youry Fillien atrai clientela feminina para comércios da região de seu restaurante de comida haitiana

Às 8h, pouco depois de deixar o trabalho, Desinord liga pedindo para adiantar a conversa para as 9h30. Seu chefe havia pedido que voltasse para cumprir o horário das 14h às 20h. “Não posso dizer que não, para não perder o trabalho, e também porque se não faço turnos extras. Não sobra nada além do dinheiro para os gastos básicos”, se justifica.

Desinord vive no Chile desde 2009. Os sacrifícios laborais não são algo raro em sua vida e a mesma regra serve para a maioria dos haitianos que vivem no país. “Estamos sempre sujeitos às piores tarefas, horários e condições”. Entre os cerca de 300 compatriotas associados à OSHEC, são raros os que não possuem experiências profissionais degradantes, afirma o presidente.

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Xenofobia na europa: Os padrões atuais de migração internacional

Casos xenofóbicos têm tido repercussão internacional. As mortes por motivo de xenofobia têm se tornado pauta de agências nacionais e supranacionais, as quais buscam reprimir esse tipo de intolerância social. Mas por que a xenofobia tem aumentado? Por que na Europa?

por Fernanda Cristina de Paula

Em 2008, foi constatado na Rússia que provavelmente 300 pessoas (em cinco anos) foram mortas por ataques xenofóbicos. Recentemente, os dois filhos de uma advogada sofreram seguidas agressões verbais e físicas de alunos da escola em que estudavam, na Espanha, por serem brasileiros. Em julho de 2011, aproximadamente 80 pessoas morreram em uma explosão de bomba e fuzilamento, realizados por um extremista político com motivos xenofóbicos, na Noruega. Continuar lendo