Envelhecimento da população no Brasil: os novos velhos

O Brasil vive um processo de prolongamento da expectativa de vida. De onde sairão os recursos para garantir qualidade de vida aos idosos?

Léa Maria Aarão Reis (*)

O ano termina com notícias mais positivas para os idosos brasileiros. Depois de décadas de descaso, omissão e silêncio por parte do Estado, principalmente sobre a população pobre de mais idade, o Estatuto do Idoso, que completou dez anos em 2013, veio dispor na forma da Lei n. 10 741 diversas obrigações e prioridades relacionadas aos cidadãos com mais de 60 anos.

Lamentável é ver o Estatuto desrespeitado pela própria justiça, há pouco tempo, pelos mesmos funcionários que devem cumpri-la.  Pretensos guardiães da lei, funcionários de serviço público discriminaram e negaram atendimento prioritário devido por motivo de idade, como reza o Estatuto, ao ex-ministro José Dirceu.  A defesa do dirigente petista invocou a Lei 10 741 para que seu cliente fosse (ou não) autorizado, com mais rapidez, a trabalhar fora da penitenciária onde continua indevidamente encerrado em regime fechado. Deve-se levar em conta que esse era um caso de repercussão nacional. Continuar lendo

O mapa da América Latina sem o Brasil

Se o país fosse eliminado do continente, este se transformaria em uma figura irreconhecível

José Saramago, o falecido Nobel de Literatura português, me fez reparar certo dia que na Espanha, quando mostram a previsão do tempo na televisão, nunca eliminam Portugal. E me comentou: “É que vós, os espanhóis, se arrancais Portugal do mapa, sentis complexo de castração”.

E é verdade: a pele de touro ibérica, sem Portugal, aparece como uma imagem mutilada, esquisita, na acepção negativa do vocábulo português [ao contrário do espanhol “exquisito”, que significa excelente].

Discute-se cada vez mais se o Brasil pertence integralmente à América Latina. Os brasileiros, em geral, não se sentem de todo latino-americanos, e sim simplesmente “brasileiros”, por múltiplas razões históricas, entre as quais a língua que os separa dos outros povos do continente. Continuar lendo

“Preconceito contra Bolsa Família é fruto da imensa cultura do desprezo”, diz pesquisadora.

O Programa Bolsa Família fez 10 anos no domingo, dia 20. Quando foi lançado, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, atendia 3,6 milhões de famílias, com cerca de R$ 74 mensais, em média. Hoje se estende a 13,8 milhões de famílias e o valor médio do benefício é de R$ 152. No conjunto, beneficia cerca de 50 milhões de brasileiros e é considerado barato por especialistas: custa menos de 0,5% do PIB.

Para avaliar os impactos desse programa a socióloga Walquiria Leão Rego e o filósofo italiano Alessandro Pinzani realizaram um exaustivo trabalho de pesquisa, que se estendeu de 2006 a 2011. Ouviram mais de 150 mulheres beneficiadas pelo programa, localizadas em lugares remotos e frequentemente esquecidos, como o Vale do Jequitinhonha, no interior de Minas.

O resultado da pesquisa está no livro Vozes do Bolsa Família, lançado há pouco. Segundo as conclusões de seus autores, o incômodo e as manifestações contrárias que o programa desperta em alguns setores não tem razões objetivas. Seria resultado do preconceito e de uma cultura de desprezo pelos mais pobres.

Os pesquisadores também rebatem a ideia de que o benefício acomoda as pessoas. “O ser humano é desejante. Eles querem mais da vida como qualquer pessoa”, diz Walquiria, que é professora de Teoria da Cidadania na Unicamp. Continuar lendo

Trio de brasileiros da Ambev tem fortuna maior que PIB de 97 países

Beto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles em capa de livro de Cristiane Correa Foto: Reprodução

A fortuna conjunta dos empresários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto de Veiga Sicupira e Marcel Telles, trio sócio da cervejaria AB Inbev (Ambev), da marca de condimentos Heinz e da rede de lanchonetes Burger King, chega a US$ 34,8 bilhões (cerca de R$ 69,6 bilhões) de acordo com levantamento da revista americana Forbes. O valor é maior do que o Produto Interno Bruto (PIB) de 97 países, conforme levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) com 188 localidades.

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475 brasileiros foram vítimas de tráfico internacional

Maioria das vítimas foram mulheres, que sofrem abusos e exploração sexual

Entre 2005 e 2011, 475 brasileiros, na maioria mulheres, foram vítimas de tráfico internacional de pessoas, geralmente voltado para exploração sexual. No mesmo período, a Polícia Federal abriu 157 inquéritos para investigar esse tipo de crime, que resultaram em 381 indiciamentos e apenas 158 prisões.

Os dados, divulgados nesta terça-feira (26) pelo governo federal no lançamento do II Plano Nacional de Enfrentamento do Tráfico de Pessoas, indicam que menos da metade dos crimes investigados levam à punição dos autores.

A situação é ainda mais grave porque, apesar das campanhas de esclarecimento, é alta a subnotificação de casos, segundo informou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao lançar o plano em conjunto com as ministras da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci; e da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário.

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O novo padrão de consumo

Brasileiros compram mais; contudo, o êxito em relação aos indicadores econômicos não se traduziu em melhoria no perfil da distribuição de renda e na redução das desigualdades regionais no País

Jefferson Mariano

O recente processo de crescimento da economia brasileira (veja gráfico abaixo), especialmente a partir de 2004, provocou mudanças importantes no que se refere ao padrão de consumo da população. Esse desempenho deveu-se à combinação de fatores como a reversão da política monetária até então vigente e ao processo de valorização das matérias-primas, aspectos que beneficiaram o setor externo da economia brasileira.

O êxito em relação aos indicadores econômicos não se traduziu em melhoria no perfil da distribuição de renda e na redução das desigualdades regionais no País. Números divulgados pelo Censo Demográfico 2010 (tabela seguinte) sinalizam que ocorreu uma tímida reversão desse processo. Houve aumento da participação da população que se encontrava na base da pirâmide de distribuição de rendimentos e uma redução daqueles que se encontravam no topo.

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