Geopolítica da Copa do Mundo

Garrincha prepara-se para driblar, na Copa do Mundo da Suécia, em 1958

Brasil organiza torneio no momento exato em que mídia ocidental, ressentida, tenta demonizar BRICS. Mas países do Sul serão capazes de propor ordem global alternativa?

Por Pepe Escobar | Tradução: Vila Vudu

Numa das imagens que, até aqui, definem a Copa do Mundo, vê-se a Mannschaft alemã – a seleção alemã de futebol – confraternizando com índios pataxó, a poucas centenas de metros de distância de onde o Brasil foi “descoberto”, em 1500. Praticamente, um redescobrimento dos trópicos exóticos.

E há também a seleção inglesa, deitando e rolando à beira-mar, numa base militar, com o Pão de Açúcar como deslumbrante pano de fundo, sob uma parafernália de equipamentos e respectivo especialista científico em umidade e ventiladores industriais (afinal, haverá o “Duelo na Selva” contra a Itália, no próximo sábado, “nas profundezas da Floresta Tropical Amazônica”, como dizem tabloides britânicos.) Continuar lendo

O porto de Mariel, Brasil, Cuba e o socialismo

Com Mariel, Brasil rompe concretamente o bloqueio imperialista contra Cuba, disse o marinheiro aposentado Jorge Luis, que já esteve em portos brasileiros.

Beto Almeida (*)

Havana – Tem sido extremamente educativo registrar, aqui em Havana, a reação do povo cubano diante da inauguração do Porto de Mariel. Expressando um elevado nível cultural, uma mirada política aprofundada sobre os fenômenos destes tempos, especialmente sobre a Reunião de Cúpula da Celac que se realiza por estes dias aqui na Ilha, tendo como meta central, a redução da pobreza, os cubanos revelam, nestas análises feitas com desembaraço e naturalidade, todo o esforço de 55 anos da Revolução Cubana feita na educação e na cultura deste povo.

Mariel, uma bofetada no bloqueio 

Poderia citar muitas frases que colhi ao acaso, conversando com os mais diversos segmentos sociais, faixas etárias distintas, etc, mas, uma delas, merece ser difundida amplamente. O marinheiro aposentado Jorge Luis, que já esteve nos portos de Santos e Rio de Janeiro, que vibra com o samba carioca, foi agudo na sua avaliação sobre o significado da parceria do Brasil com Cuba para  construir o Complexo Portuário de Mariel. “ Com Mariel,  Brasil rompe concretamente o bloqueio imperialista contra Cuba”, disse. E adverte: “ Jamais os imperialistas vão perdoar Lula e Dilma”. Ele não disse, mas, no contexto do diálogo com este marinheiro negro, atento ao noticiário de televisão, leitor diário de jornal, informado sobre o que ocorre no Brasil e no mundo,  estava subentendido, por sua expressão facial, que ficava muito claro porque Dilma é alvo de espionagem dos EUA. Continuar lendo

Diplomacia “made in Brazil”

Reconhecido, no passado, por posições pacifistas e avesso às polêmicas, casos recentes evidenciam um novo modo de atuação do governo brasileiro nas relações internacionais

Maurício Barroso

A diplomacia brasileira ganhou as manchetes da grande imprensa após o resgate, no dia 23 de agosto deste ano, do senador boliviano Roger Pinto Molina do confinamento de 455 dias na embaixada em La Paz, pelo diplomata brasileiro Eduardo Saboia. Segundo alguns analistas e também de acordo com alguns editorias de jornais, o caso demonstra uma mudança de atuação do Ministério das Relações Exteriores, também conhecido como Itamaraty. Anteriormente reconhecido por suas posições pacifistas e estritamente jurídicas, ultimamente, o órgão tem sido mais “agressivo” nas relações bilaterais.

O caso gerou atrito diplomático entre Brasil e Bolívia e culminou com a demissão do então ministro das Relações Exteriores, o chanceler Antônio Patriota, que comentou desconhecer a ação de resgate de Molina. Além da operação de retirada do senador boliviano, outros acontecimentos são apontados, por analistas políticos, como uma diplomacia de ocasião. Por exemplo, a expropriação da refinaria da Petrobras na Bolívia, quando não houve esforços por parte do governo brasileiro para impedir a ação; a retirada do Paraguai do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a não extradição do italiano Cesare Battisti, condena- do por homicídio naquele país. Continuar lendo

Cientistas listam áreas protegidas ‘mais insubstituíveis’ do mundo

Ao todo são 78 lugares, que englobam 137 áreas protegidas em 34 países. Quatro lugares brasileiros estão entre os 10 mais importantes.

A Serra da Mantiqueira é o 8º lugar do mundo insubstituível, segundo o estudo

Com o objetivo de fortalecer proteção de espécies a longo prazo, foi lançado nesta quinta-feira (14) um estudo feito por organizações internacionais que identifica quais são as áreas protegidas mais “insubstituíveis” do mundo.

Ao todo são 78 lugares, que compreendem 137 áreas protegidas em 34 países e juntos protegem a maioria das populações de 627 espécies de pássaros, anfíbios e mamíferos, incluindo 304 espécies ameaçadas de extinção em todo o mundo. A maioria das áreas citadas estão em regiões de floresta tropical, especialmente em montanhas e ilhas. Continuar lendo

A importância geopolítica da Bolívia e a integração da América do Sul

Luciano Wexell Severo (*)

O objetivo deste artigo é realizar uma breve análise sobre a importância geopolítica da Bolívia no cenário da América do Sul, a partir da ótica de destacados pensadores de diferentes nacionalidades. Inicialmente será apresentada uma visão geral do conceito de Heartland, desenvolvido no início do século passado pelo geógrafo inglês Halford Mackinder. A seguir, serão apresentadas as contribuições de autores como o brasileiro Mario Travassos, o estadunidense Lewis Tambs e os bolivianos Jaime Mendoza, Alipio Valencia Vega, Alberto Ostria Gutierrez, Guillermo Francovich e Valentin Abecia Baldivieso, entre outros. Por fim, é sugerida uma releitura do papel da Bolívia no atual processo de integração regional, frente à recente diversificação das atividades econômicas, ao fortalecimento de novas cidades e à aplicação da iniciativa para a Integração de Infraestrutura Sul-Americana (IIRSA).

1. Heartland de Mackinder
Em 1904, o geógrafo inglês Halford Mackinder apresentou para a Real Sociedade Geográfica de Londres o seu artigo The Geographical Pivot of History. No reconhecido trabalho estava presente a sua teoria sobre a “área pivô”. Em 1919, reapresentou a elaboração com o nome de Heartland (Mello, 1999, p.45). Segundo a sua interpretação, o mundo estaria dividido em três zonas: o Grande Oceano (que abrange três quartos do planeta), a Ilha Mundial (Europa, Ásia e África) e as ilhas-continentes menores (Austrália e Américas). Continuar lendo

A América do Sul em busca da riqueza energética

Gasoduto boliviano: em 2006, país nacionalizou uma de suas riquezas naturais mais importantes

Como países da região reconquistaram, a partir da virada do século, petróleo, gás e eletricidade antes controlados por empresas estrangeiras

Por Igor Fuser


Este texto, cujo título original é “O nacionalismo de recursos no século 21”1, corresponde ao capítulo 10 do livro “Energia e Relações Internacionais” (Editora Saraiva, 2013), de Igor Fuser. O autor, que ofereceu o texto aos leitores de “Outras Palavras”, convida para debate sobre a obra, nesta quinta-feira, às 18h, no curso de Relações Internacionais da PUC de São Paulo, Sala 117-A Prédio Novo (Rua Ministro Godói, 969 – Perdizes – São Paulo – veja mapa).

O papel do Estado na gestão dos recursos energéticos

No período que se inicia em 2000, a tendência de alta dos preços da energia inverteu a prolongada depreciação dos recursos energéticos ao longo das décadas de 1980 e 1990. No mundo inteiro, fortaleceu-se a posição das empresas estatais de hidrocarbonetos em sua relação com as transnacionais. Conforme já foi relatado no Capítulo 5, atualmente 77% das reservas mundiais de petróleo se encontram sob o controle de estatais ou semiestatais. Essas empresas – conhecidas pelo acrônimo em inglês NOCs, de National Oil Companies – administram seus recursos energéticos a partir de interesses que nem sempre coincidem com as prioridades do mercado internacional e dos países mais desenvolvidos2. As NOCs, como agentes das políticas públicas traçadas pelos respectivos governos, geralmente buscam outros objetivos além de maximizar a extração e os lucros, tais como a redistribuição da renda nacional, a geração de receitas fiscais e a promoção do desenvolvimento. Estimulados pela alta dos preços, os governos em todos os países produtores de hidrocarbonetos têm procurado reforçar o controle sobre esses recursos, adotando medidas voltadas para ampliar a sua participação na renda petroleira, ou seja, nos excedentes gerados pelas exportações de petróleo e gás natural. Continuar lendo

Operação fronteira

Conheça ações e iniciativas do governo Federal e das Forças Armadas no processo de proteção do território brasileiro

Maurício Barroso

Maturacá (AM) – Em 2007, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, visitaram as instalações de fronteira do Exército na comunidade de Maturacá no município de São Gabriel da Cachoeira.

O Brasil é um país com dimensões continentais. Seus quase 17 mil quilômetros de extensão dividem-no com outros dez países, que passam por 11 Estados brasileiros. São regiões complexas e de intensa entrada e saída de mercadorias e pessoas, fluxo que torna a vigilância das fronteiras um desa o constante e primordial para a segurança nacional.

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Colômbia e Farc fecham acordo sobre reforma agrária

Guerrilha e governo concordam em criar programas de erradicação da pobreza rural e em indenizar vítimas de deslocamentos forçados devido a conflitos internos

O negociador-chefe das Farc, Iván Márquez

HAVANA (AFP) – O governo colombiano e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram no domingo 26 um amplo acordo sobre a questão agrária, fonte do conflito armado no país de quase meio século e primeiro ponto da agenda de paz discutida com a mediação de Cuba.

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Constitucionalismo ecológico na América Latina

As modernas constituições se fundam sobre o contrato social de cunho antropocêntrico. Não incluem o contrato natural, que é o acordo e a reciprocidade que devem existir entre os seres humanos e a Terra. Coube enfim, à América Latina, em especial Equador e Bolívia, desenvolver um pensamento constitucionalista de natureza ecológica.

Leonardo Boff

As modernas constituições se fundam sobre o contrato social de cunho antropocêntrico. Não incluem o contrato natural, que é o acordo e a reciprocidade que devem existir entre os seres humanos e a Terra viva, que tudo nos dá e que nós em retribuição cuidamos e preservamos. Em razão disso seria natural reconhecer que ela e os seres que a compõem seriam portadores de direitos. Continuar lendo

Bolívia anuncia processo contra Chile em Haia para ter acesso ao mar

Evo Morales sublinhou que a falta de saída ao mar é uma condenação perpétua que “estrangula” a economia boliviana

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou neste sábado (23/03) que “nos próximos dias” o país irá apresentar na Corte Internacional de Haia um processo contra o Chile para buscar uma restituição da saída soberana ao mar, perdida em uma guerra há 134 anos. O presidente chileno, Sebastían Piñera, respondeu que o “Chile e seu povo defenderão com toda a força da união nacional, a história e a verdade seu território, seu mar, seu céu e também sua soberania”.

Evo Morales discursa em La Paz: “unidos com trabalho e esforço, com segurança, em breve voltaremos a ter acesso ao mar”

“Decidi que nos próximos dias uma comissão viajará a Haia para apresentar um processo para retornar ao mar com soberania”, disse Morales em seu discurso para lembrar a invasão do território litorâneo boliviano em 1879 e comemorar o Dia do Mar. “Com a força da razão e com o calor da união do povo boliviano, faremos valer perante o mundo nosso direito a ter um acesso soberano ao mar”, acrescentou.

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