A reinvenção da América Latina

Se até agora sua inserção com o resto do mundo esteve condicionada pela presença das potências imperiais, com o novo século começou a trilhar outro caminho

Luis Hernández Navarro (*)

Em 1958, o historiador mexicano Edmundo O’Gormam publicou um livro intitulado La invención de América, com o qual sacudiu a historiografia dedicada a documentar e explicar o descobrimento e a conquista americana. Inventar, significa, de acordo com o dicionário da Real Academia da Língua, achar ou descobrir algo novo ou não conhecido.

Em seu texto, O´Gormam explica, de maneira nova para seu tempo, a forma em que o relato sobre a história e o devenir do “novo continente” foi construído. Hoje, retomando essa imagem, podemos dizer que América Latina está se reinventando. Continuar lendo

Consumo humano opera no vermelho

De acordo com a Global Footprint Network, à medida que aumenta o consumo, cresce o débito ecológico, traduzido em redução de florestas, perda da biodiversidade, escassez de alimentos, diminuição da produtividade do solo e acúmulo de gás carbônico na atmosfera. Essa sobrecarga acelera as mudanças climáticas e tem reflexos na economia

Maurício Barroso

“Segundo pesquisas da Global Footprint Network, os atuais padrões de consumo médio da humanidade demandam a área de um planeta e meio para sustentá-los.”

PEGADA ECOLÓGICA CARNE BOVINA
A pegada ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo da população humana sobre os recursos naturais. Expressada em hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de consumo e verificar se eles estão dentro da capacidade ecológica do planeta. Um hectare global significa um hectare de produtividade média mundial para terras e águas produtivas em um ano.

Fonte: WWF

O Brasil lidera o ranking de maior exportador de carne bovina do mundo desde 2008, e as estatísticas mostram crescimento também para os próximos anos. A exportação de carne bovina crescerá 2,15% ao ano; a de carne de aves, 3,64%. O clima tropical e a extensão territorial do Brasil contribuem para esse resultado, uma vez que permitem a criação da maioria do gado em pastagens.

Fonte: Ministério da Agricultura

A cota de recursos naturais que a natureza poderia oferecer em 2013 se esgotou no último no dia 20 de agosto deste ano. A data, inclusive, assinalou o Dia da Sobrecarga da Terra, marco anual de quando o consumo humano ultrapassou a capacidade de renovação do planeta. O cálculo foi divulgado pela Global Footprint Network (Rede Global da Pegada Ecológica), organização não governamental (ONG) parceira da rede WWF.

O levantamento compara a demanda sobre os recursos naturais empregados na produção de alimentos e o uso de matérias-primas com a capacidade da natureza de regeneração e de reciclagem dos resíduos, a chamada pegada ecológica. Em menos de oito meses, o consumo global extrapolou tudo o que a natureza consegue repor em um ano e, entre setembro e dezembro, o planeta vai operar no vermelho, o que causa danos ao meio ambiente. Continuar lendo

Por um meio ambiente inteiro

A geodiversidade como novo caminho para uma Educação Ambiental completa

MARCOS ANTONIO LEITE DO NASCIMENTO*

O termo “meio ambiente” pode ser considerado, de forma geral, como sinônimo de natureza, compreendendo um local a ser protegido, respeitado e admirado. Este termo, a depender do ponto de vista, apresenta inúmeras definições, podendo ser caracterizado como: “O conjunto dos fatores físicos, químicos, bióticos que agem sobre um ser vivo ou uma comunidade ecológica e podem determinar sua sobrevivência” (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa), ou: “O conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” Continuar lendo

Apenas 7,5% da Caatinga está protegida

A Caatinga é considerada por especialistas o bioma brasileiro mais sensível à interferência humana e às mudanças climáticas globais. Apesar disso, apenas 7,5% de seu território está protegido em Unidades de Conservação (UCs) e apenas 1,4% dessas reservas são áreas de proteção integral.

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Biodiversidade do Pampa está ameaçada por florestas artificiais

Eucaliptos e pinheiros cobriram 25% do bioma nos últimos cinco anos. A sombra das árvores impede o desenvolvimento das plantas nativas e abre espaço para espécies invasoras

por Karina Toledo/ Agência FAPESP

Poucas plantas nativas dos pampas sobrevivem debaixo de eucaliptos e pinheiros. Há pouca luz disponível e as espécies de campo aberto precisam de muito sol

Em estados como Mato Grosso e Pará, a Floresta Amazônica está sendo transformada em pasto. No Rio Grande do Sul ocorre o problema inverso: a vegetação campestre dos pampas – que há séculos convive em harmonia com a pecuária – está sendo dizimada para dar lugar a florestas plantadas pelo homem.

O impacto visual da destruição pode ser maior na Amazônia, mas se engana quem pensa que a perda biológica no Bioma Pampa é menor. Segundo levantamento coordenado pela professora Ilsi Boldrini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os campos sulinos concentram uma diversidade vegetal três vezes maior que a da floresta, quando se leva em conta a proporção da área ocupada por cada bioma.

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Amazônia nos últimos 20 milhões de anos

O que aconteceu na Amazônia nos últimos 20 milhões de anos? Como era o ambiente e quais os organismos povoaram a região durante esse período? Qual é a explicação para tamanha biodiversidade encontrada hoje ali?

Para responder a essas e outras questões, pesquisadores brasileiros e estrangeiros trabalharão durante cinco anos em um Projeto Temático apoiado pela FAPESP e pela National Science Foundation (NSF) no âmbito de um acordo que prevê o desenvolvimento de atividades de cooperação entre os programas “Dimensions of Biodiversity” (NSF) e BIOTA (FAPESP).

Aprovado em setembro de 2012, os pesquisadores do projeto – especialistas de áreas diversas, de várias partes do Brasil, Estados Unidos, Europa, Canadá e Argentina – vão se reunir pela primeira vez na sede da FAPESP, em São Paulo, entre 4 e 8 de março.

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Ambiente: que é o “vilão”?

Nem sempre as embalagens plásticas são as mais nocivas. Identificação (e substituições) exigem levar em conta cada aspecto envolvidos na produção, pós-consumo e impacto social

Nem sempre as embalagens plásticas são as mais nocivas. Identificação (e substituições) exigem levar em conta cada aspecto envolvidos na produção, pós-consumo e impacto social

Por Thaís Herrero

Vidro, plástico, plástico biodegradável, papel, papel reciclado, alumínio. Nas prateleiras do supermercado apresentam-se os mais diversos tipos de embalagens, muitas vezes para o mesmo tipo de produto. Enquanto passeia com o carrinho e olha a lista de compras, você, consumidor, depara-se com a questão: como escolher a de menor impacto ambiental? Há poucas informações claras e diretas nos rótulos e você não tem a menor informação do que aconteceu com aquele material antes de ele chegar a suas mãos. Também não tem controle do destino final ao jogá-lo no cesto do lixo – mesmo que reciclável. Continuar lendo

Riqueza desconhecida

Estudo internacional feito com participação de pesquisadores brasileiros mostra que os ecossistemas secos, como o semiárido nordestino, têm um papel mais importante do que se pensava no equilíbrio ecológico do mundo.

À primeira vista, eles podem ser vistos como ambientes inóspitos à vida, desertos em formação ou regiões sem importância para o meio ambiente. No entanto, as áreas de terras secas – que incluem alguns tipos de savanas, estepes e semiáridos – estão longe de ser irrelevantes. Além de compreender 41% da superfície terrestre e abrigar 38% dos seres humanos, esse tipo de formação representa uma verdadeira joia natural, cumprindo um papel fundamental na luta contra as mudanças climáticas. A conclusão é do maior estudo já feito no mundo sobre esses ecossistemas, publicado na edição de hoje da revista Science e elaborado com a participação da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia. Continuar lendo

ESPECIAL AMAZÔNIA – 2ª PARTE – 5 matérias sobre a formação e principais características do bioma amazônico

A maior floresta do mundo

Beleza e destruição cobrem metade do Brasil

Herton Escobar

São Gabriel da Cachoeira, cidade onde cerca de 90% da população é descendente de índios.

São Gabriel da Cachoeira, cidade onde cerca de 90% da população é descendente de índios.

MANAUS – A Amazônia tem escala e dimensão singulares e superlativas. É a maior floresta tropical do mundo e maior concentração da biodiversidade do planeta. Sua cobertura verde é uma embalagem viva sob a qual se esconde um universo de animais, plantas, micróbios, genes, climas, águas, índios, beleza e destruição. Cobre metade do território nacional. Não seria exagero dizer que o Brasil é o país da Amazônia, muito mais do que a Amazônia é a floresta do Brasil.

Se somadas as áreas de quase todos os países da Europa (excluindo os da antiga União Soviética), eles caberiam com folga dentro da superfície da Amazônia brasileira. O bioma inteiro tem 6,6 milhões de quilômetros quadrados, espalhados por nove países sul-americanos. O Brasil é dono de quase 65% disso, com mais de 4 milhões de km² de floresta. Só o Estado do Amazonas, com 1,6 milhão de km², tem quase cinco vezes a área da Alemanha ou três vezes o território da França, e é maior do que qualquer um dos outros países amazônicos – Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname, fora a Guiana Francesa, que é uma possessão. Continuar lendo

ESPECIAL AMAZÔNIA – 1ª PARTE – 3 matérias e um infográfico sobre a formação e principais características do bioma amazônico

Amazônia ano 1000

Na Amazônia de mil anos atrás, civilizações experimentavam um florescimento cultural

por Eduardo Neves
Os índios enawere-nawe têm parentesco com civilizações que se estabeleceram na região do rio Xingu ao redor do ano 1000

Os índios enawere-nawe têm parentesco com civilizações que se estabeleceram na região do rio Xingu ao redor do ano 1000

Se pudéssemos voltar no tempo e visitar a Amazônia de mil anos atrás, veríamos um mundo diferente. Não haveria a grande área desmatada e ocupada por pastagens e cultivos do sul e do sudeste da região, no atual Pará. Em trechos hoje cobertos por selvas densas, se destacariam sinais claros de ocupação humana: grandes aldeias ou mesmo cidades, cercadas de áreas de roças e de matas secundárias, ligadas umas às outras por largos e longos caminhos. Em alguns locais, centros cerimoniais desenhados por alinhamentos de pedra estariam dispostos em circulos. Em pontos distantes como a ilha de Marajó é do Acre, por exemplo, aterros artificiais eram espaços de moradia e rituais. E, no que é a Amazônia boliviana, poderíamos contemplar um labirinto de diques, barragens e canais distribuído por milhares de quilômetros quadrados. Continuar lendo