Genocídio Armênio: as consequências de 99 anos de negação e esquecimento

Reconhecimento do massacre e atual limpeza étnica em Kessab são chave para entender esse povo tão peculiar

“Eu gostaria de ver qualquer força deste mundo destruir esta raça, esta pequena tribo de pessoas sem importância, cujas guerras foram todas lutadas e perdidas, cujas estruturas foram todas destruídas, cuja literatura não foi lida, a música não foi ouvida, e as preces já não são mais atendidas. Vá em frente, destrua a Armênia. Veja se consegue. Mande-os para o deserto sem pão ou água. Queimem suas casas e igrejas. Daí veja se eles não vão rir, cantar e rezar novamente! Quando dois armênios se encontrarem novamente em qualquer lugar neste mundo, veja se eles não vão criar uma nova Armênia”, escreveu em 1935 o autor norte-americano de origem armênia William Saroyan.

Sobre todas essas desgraças, o escritor se refere principalmente ao primeiro genocídio do século XX, praticado pelos turcos contra os armênios há exatamente 99 anos. Mas o que faz o extermínio desta “pequena tribo de pessoas sem importância” algo digno de se lembrar? Geralmente, o ato de recordação de um massacre vem da necessidade de honrar seus mortos e manter latentes os acontecimentos para que estes não se repitam. Contudo, esse não é o caso dos armênios. Continuar lendo

O jogo de ‘morde e assopra’ da Rússia com a Ucrânia

Dmitri Trenin

Especial para a BBC*

Presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, recebeu propostas de incentivos da Rússia

Para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, relações internacionais significam competição, que se intensifica a cada dia. A relação com a Ucrânia não deixaria de ser diferente.

Putin reiterou esses principais no discurso do Estado da Nação, na semana passada. Os principais competidores são “grandes unidades geopolíticas”: os Estados Unidos, a China e a Europa, ainda que os europeus não tenham uma estratégica unificada.

Para ganhar competitividade, a Rússia precisa expandir seu poder, criando uma união econômica, política e militar na Eurásia. Continuar lendo

A delicada paz entre Armênia e Azerbaijão

Vinte anos após a tomada de Shushi por tropas armênias, o cessar-fogo é mais precário do que nunca nas montanhas do Nagorno-Karabakh. O rápido rearmamento do Azerbaijão levanta o temor de uma retomada dos combates. Os dois povos pagam um preço alto pelo impasse político e diplomático

por Philippe Descamps

“Não olhe por mais de quinze segundos.” Uma pequena abertura de concreto permite perceber furtivamente uma linha de fios de arame farpado e, a menos de 200 metros, a primeira linha de soldados do Azerbaijão. No fundo dessa trincheira do setor de Askeran, no lado armênio, tudo lembra uma cena da Primeira Guerra Mundial: modestas casamatas, sacos de areia, um pequeno fogão à lenha e algumas ridículas latas enferrujadas para sinalizar uma intrusão noturna. Os três soldados desse posto têm 20 anos. Eles vêm da capital Erevan. O oficial deles encontrou a frente relativamente calma hoje…

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