O Brasil, os EUA e o “Hemisfério Ocidental” (2)

Henry Kissinger encontra Augusto Pinochet: nos anos 1970, EUA substituíram proposta de intervenção militar, em caso de ameaça à sua hegemonia na América do Sul, por forma mais sutil de intervenção civil e militar “interna”

Para diplomacia norte-americana, manter supremacia sobre América do Sul continua sendo essencial. Por isso, prosseguirá tentativa de enfraquecer governos que Washington vê como “populistas”

Por José Luís Fiori

“A new form of nationalism may emerge, seeking national or regional
identity by confronting the United States. In its deepest sense,
the challenge 
of Western Hemisphere policy for the United States is
whether it can help bring about the world
envisioned by Free Trade Area of the Americas,
or whether the Western Hemisphere, for the first time in its history,
will break up into competing blocs;
whether democracy and free markets
will remain the dominant institutions
or whether there is a gradual relapse into populist authoritarianism.”

Henry. Kissinger “Does America Need a Foreign Policy?”

Henry Kissinger foi um formulador estratégico menos original do que Nicholas Spykman, mas em compensação ocupou inúmeras posições de governo e participou de algumas decisões internacionais que o transformaram numa das figuras mais importantes da política externa norte-americana, da segunda metade do século XX. Ele deixou a academia e se transformou em conselheiro governamental, no primeiro governo de Eisenhower, em 1953, e manteve presença nos governos republicanos até o final das administrações de Richard Nixon e Gerald Ford, de quem foi Conselheiro de Segurança, e Secretario de Estado, respectivamente. Neste último período, Henry Kissinger teve papel decisivo na redefinição da estratégia internacional dos EUA, depois da crise econômica do início dos anos 70, e depois da derrota americana no Vietnã, em 1973. Foi quando ele concebeu ou participou de algumas decisões norte-americanas que deixaram marcas profundas na história da diplomacia internacional. Entre elas, a das negociações de paz, no Vietnã, que levaram à assinatura dos Acordos de Paris, em 1973; e a das negociações secretas com Chou en Lai e Mão Tse Tung , em 1971 e 1972, que levaram à reaproximação dos Estados Unidos com a China, e a reconfiguração completa da geopolítica mundial antes e depois do fim da Guerra Fria. Continuar lendo

O Brasil, EUA e o “Hemisfério Ocidental”

Washington deve sufocar militarmente ações comuns da América do Sul, propôs teórico geopolítico norte-americano mais influente no século XX. Em que medida proposição prevalece?

Por José Luis Fiori

As terras situadas ao sul do Rio Grande constituem
um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. 

E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina
do continente 
tenham que ser chamadas igualmente de América, 
evocando similitudes entre as duas que de fato não existem

N. Spykman, “America´s Strategy in World Politics”

Tudo indica que os Estados Unidos serão o principal contraponto da política externa brasileira, dentro do Hemisfério Ocidental, durante o século XXI. E quase ninguém tem dúvida, também, de que os EUA seguirão sendo, por muito tempo, a principal potência militar, e uma das principais economias do mundo. Por isto é fundamental compreender as configurações geopolíticas da região, e a estratégia que orienta a política hemisférica norte-americana, deste início de século. Continuar lendo

A reinvenção da América Latina

Se até agora sua inserção com o resto do mundo esteve condicionada pela presença das potências imperiais, com o novo século começou a trilhar outro caminho

Luis Hernández Navarro (*)

Em 1958, o historiador mexicano Edmundo O’Gormam publicou um livro intitulado La invención de América, com o qual sacudiu a historiografia dedicada a documentar e explicar o descobrimento e a conquista americana. Inventar, significa, de acordo com o dicionário da Real Academia da Língua, achar ou descobrir algo novo ou não conhecido.

Em seu texto, O´Gormam explica, de maneira nova para seu tempo, a forma em que o relato sobre a história e o devenir do “novo continente” foi construído. Hoje, retomando essa imagem, podemos dizer que América Latina está se reinventando. Continuar lendo

Qual a diferença entre tornado, tufão e furacão?

Conheça o que diferencia esses fenômenos que prometem se intensificar nos próximos anos

São Paulo – Tornado, tufão e furacão. Talvez a primeira imagem que venha à cabeça a respeito desse trio seja um funil de vento violento fazendo coisas girarem, não? Apesar de guardarem algumas semelhanças, são  fenômenos diferentes. E é bom nos prepararmos, porque eles deverão se tornar piores e mais frequentes, em função das mudanças climáticas, como promete reiterar o quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Continuar lendo

Pirâmide maia de 2.300 anos é destruída para criar uma nova estrada

Autoridades de Belize, na América Central, confirmaram que uma escavadeira destruiu uma das maiores pirâmides maias do país. Jaime Awe, chefe do Instituto de Arqueologia de Belize,  disse que o templo Noh Mul foi destruído quando operários de uma empreiteira buscavam cascalho para preencher buracos na estrada antes de ela ser pavimentada.

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Cuba: 50 verdades que Yoani Sánchez ocultará

Blogueira faz turnê mundial de 80 dias em cerca de 12 países do mundo para falar sobre Cuba. Mas não dirá tudo…

A famosa opositora está realizando uma turnê mundial de 80 dias em cerca de doze países do mundo para falar sobre Cuba. Mas não dirá tudo…

1. O artigo 1705 da Lei Torricelli, de 1992, adotada pelo Congresso norte-americano, estipula que: “Os Estados Unidos fornecerão apoio a organizações não-governamentais apropriadas, para apoiar indivíduos e organizações que promovam uma mudança democrática não-violenta em Cuba”.

2. O artigo 109 da Lei Helms-Burton, de 1993, aprovada pelo Congresso, confirma essa política: “O Presidente [dos EUA] está autorizado a proporcionar assistência e oferecer todo tipo de apoio a indivíduos e organizações não-governamentais independentes para apoiar os esforços com vistas a construir a democracia em Cuba”.

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Uma terrível normalidade: os massacres e as aberrações da História

Nós precisamos nos esforçar de toda forma possível pelo desenrolar revolucionário, uma revolução de democracia

Ao longo de boa parte da história, o anormal tem sido a norma, Este é o paradoxo que vamos examinar. Aberrações, tão abundantes que formam uma terrível normalidade própria, caem sobre nós com uma consistência medonha.

A quantidade de massacres na história, por exemplo, é quase maior do que nós podemos nos lembrar. Houve o holocausto do Novo Mundo, que consistiu no extermínio de povos indígenas americanos nativos por todo o hemisfério ocidental, estendendo-se por quatro ou mais séculos e continuando até tempos recentes na região amazônica.

Foram séculos de escravidão cruel nas Américas e em outros lugares, seguidas por um século inteiro de linchamentos a da segregação de Jim Crow nos Estados Unidos, e pelos numerosos assassinatos e prisões da juventude negra pela polícia atualmente.

Linchamento público de Henry Smith, negro norte-americano morto por espancamento em 1893 em Paris, Texas

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Um século de clima alterado

Essa jornada especialmente quente, que se apresenta uma vez a cada 20 anos, no final do século 21 ocorrerá a cada dois anos na maioria das regiões do planeta

Por Stephen Leahy*

As condições meteorológicas extremas se tornam norma em grande velocidade. Assim confirmam as duas semanas de calor forte que atingiram Canadá e Estados Unidos quando o gelo e a neve do inverno ainda não haviam derretido. No mês passado, boa parte da América do Norte “cozinhou” a temperaturas extraordinariamente altas, que derreteram toda a neve e o gelo invernais e bateram por ampla margem os recordes térmicos dos últimos 150 anos. No ano passado, os Estados Unidos suportaram 14 desastres – inundações, furacões e tornados – que causaram perdas de vários milhares de milhões de dólares. Continuar lendo