Os legados geopolíticos de 2013

Aprofunda-se declínio dos EUA e União Europeia. Primavera Árabe reflui. China amplia suas ambições. Persiste ameaça climática. Francisco reintroduz debate da desigualdade

Por Roberto Savio

No momento de esperança que o ano novo pode oferecer, seria útil examinar o legado que recebemos dos doze meses que terminam. Foi um ano cheio de acontecimentos: guerras, aumento da desigualdade social, sistemas financeiros sem controle social, decadência das instituições políticas e erosão da governança global.

Talvez nada haja de novo nisso, já que tais tendências nos acompanham há bastante tempo. No entanto, alguns acontecimentos têm impacto mais profundo e duradouro. Vamos apresentá-las brevemente, em forma de lista para recordar e conferir (mas não em ordem de magnitude) Continuar lendo

Chiapas: injustiça, pobreza, luta e dignidade

O ano velho se vai em meio a névoa. A garoa e o frio cobrem o local onde o Exército Zapatista de Libertação Nacional celebrou os 20 anos do levante.

Eduardo Febbro

Oventic, Chiapas – A voz dos símbolos se cala quando aparece a neblina. Espessa e crescente a medida que a estrada de montanha sobe em direção à comunidade de Oventic, uma das cinco juntas de bom governo administradas pelos zapatistas.
Estas são terras rebeldes e muito pobres. Aqui, as palavras cheias de símbolos e poesia do subcomandante Marcos não têm lugar. Essa é a realidade. Respira-se a dupla força da humildade e da dignidade. Hoje há festa. O ano velho se vai em meio a névoa, a garoa e o frio cobrem o local onde o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) organizou a celebração dos 20 anos do levante zapatista (1994-2014).

O ano novo pede passagem entre lembranças, músicas de protesto, chamados à rebeldia e a escandalosa situação na qual ainda vivem os indígenas da região. Combate e pobreza. “Los de abajo vamos por los de arriba”, canta uma rapper vinda dos Estados Unidos. Um grupo musical do EZLN com o gorro cobrindo o rosto entoa canções zapatistas. Não há tempo nem espaço para a nostalgia. As pessoas abrem passagem entre o barro e a neblina. Há muito por fazer, por construir e resistir. Continuar lendo

A reaparição do Subcomandante Marcos nos 20 anos do levante zapatista

Às vésperas de se completarem duas décadas do levante zapatista, o subcomandante Marcos reapareceu com um novo e extenso comunicado

Eduardo Febbro

San Cristobal de las Casas – A prosa está intacta. Sutil e envolvente como o sol da tarde que envolve a praça central de San Cristobal de las Casas. Às vésperas de se completarem duas décadas do levante zapatista, o subcomandante Marcos reapareceu com um novo e extenso comunicado semeado com a ideia da “memória e da rebeldia”.

Na abertura, Marcos cita a novela do escritor norte-americano Herman Melville, Moby Dick. Encontro de uma prosa com outra: “Me parece que temos confundido muito esta questão da Vida e da Morte. Me parece que o que chamam de minha sombra aqui na terra é minha substância autêntica”, diz a prosa de Melville. A de Marcos completa o resto do comunicado. O subcomandante, que há uns cinco anos não aparecia em público, escreve: “É território zapatista, é Chiapas, é México, é América Latina, é a Terra. E é dezembro de 2013, faz frio como há 20 anos, e, como então, hoje há uma bandeira que nos cobre: a da rebeldia”. Continuar lendo

“Zapatismo foi um movimento indígena com características ocidentais”

Para o geógrafo britânico David Harvey, a experiência em Chiapas foi influente. Mas a esquerda deve pensar em outras formas de se organizar na cidade

Zapatistas no México em 1999

Pesquisador de revoltas recentes ao redor do mundo, o geógrafo britânico David Harvey reconhece a influência dos zapatistas nos novos levantes que têm surgido. Mas ele pondera que algumas das suas características são ignoradas pela esquerda em diversos países.

O geógrafo concedeu uma entrevista à reportagem de CartaCapital, na qual fala sobre o legado do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que há vinte anos tomou o controle de parte da pobre província mexicana de Chiapas.

Harvey destaca as novidades trazidas pelo levante, como a ênfase no direito das mulheres. Ele, porém, se diz “cansado” das pessoas acharem que a revolução “sairá de Chiapas”. Para o geógrafo, a esquerda deve achar uma forma própria de se organizar na cidade. Leia abaixo as falas do geógrafo sobre o levante:

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