O fóssil não vai acabar

Se esse tipo de combustível está a anos-luz de desaparecer, qual deve ser a estratégia brasileira para um planeta limpo? O pré-sal tem condições de virar pós-sal? E o etanol?

José Luiz Tejon Megido*

GÁS DE XISTO
É um gás natural, encontrado em rocha sedimentar que recebe o mesmo nome. O gás encontra-se comprimido em pequenos espaços dentro da rocha, o que requer a criação de fraturas por meio da pressão hidráulica, em um processo conhecido como fraturamento. Desta maneira, permite que o gás  ua e seja coletado.
UNIÃO EUROPEIA
A União Europeia é uma parceria econômica e política com características únicas, constituída por 28 países europeus, que, em conjunto, abarcam uma grande parte deste continente. A UE teve início no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, com o intuito de incentivar a cooperação econômica na Europa, partindo-se do pressuposto de que os países com relações comerciais se tornam economicamente dependentes, reduzindo, assim, os riscos de con ito. Dessa cooperação econômica resultou na criação da Comunidade Econômica Europeia (CEE), em 1958, inicialmente constituída por seis países: Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos. Desde então, assistiu-se à criação de um enorme mercado único, em permanente evolução.Fonte: europa.eu
MERCADO DE CARBONO
Crédito de carbono é a compensação  nanceira de projetos que realizam a redução de emissão de gases que provocam o aquecimento global em países em desenvolvimento (como o Brasil) e que é comprado por empresas em países desenvolvidos que não conseguiram cumprir suas metas de redução e emissão de gases.Fonte: AGF Consultores

A proposta deste texto é comentar o brilhante artigo de Evaristo Miranda, doutor em Ecologia pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), publicado no Estadão do dia 30 de setembro deste ano: “Descréditos de carbono”. Nele, uma autoridade saudita declara: “A prioridade é vender as reservas de petróleo antes da emergência de novas tecnologias, a idade da pedra não acabou por falta de pedra”. Enquanto olhamos para a agricultura brasileira e para os seus elos fracos – os agricultores sem seguro, sem silos (benfeitoria agrícola destinada ao armazenamento de produtos agrícolas, geralmente depositados no seu interior sem estarem ensacados), sem logística, condenados às precificações internacionais (ora para cima e ora para baixo) e todo o etc. antes e pós-porteira das fazendas –, o mundo dos países ricos dá um show antiecológico espetacular.

Miranda demonstra, em seu texto “Descréditos de carbono”, que o mundo encontrou um substituto para o petróleo: o gás de xisto e o carvão mineral. O gás substitui o carvão, cujo excedente é exportado para a Europa a baixíssimo custo. Termelétricas europeias ampliam seus lucros. A RWE, maior geradora alemã, consegue 62% do carvão mineral e aumentou a produção em 16% (só para ficar em um exemplo), ao lado da Stakraft, E-ON, CEZ, SSE, XSTRATA e de vários países, computando ainda que, depois do acidente atômico de Fukushima, a energia atômica é substituída pelo carvão.

CARVÃO MINERAL E CO2
O uso do carvão mineral ampliou as emissões de CO2 na União Europeia – ela, que é tão engajada não na xistoenergia, mas na “xiitaecologia”. A Europa não cumpriu a redução de CO2 em conformidade com o Protocolo de Kyoto. Enquanto isso, o mercado de carbono, no qual uma tonelada valia US$ 30 em 2008, hoje, vale US$ 2,75. No futuro, só os Estados Unidos terão gás para abastecer o mundo por mais de cem anos. E aí vai a questão: como ficamos com o biocombustível? E ainda com a agricultura de baixo carbono, pegadas de carbono e declarações afirmando que, dentro das cadeias produtivas, a parte agrícola é responsável por 90% da emissão de CO2, quando ignoram todo o peso gigantesco do antes e do pós-porteira das fazendas, incluindo o movimento urbano planetário em cima do petróleo e dos seus prósperos herdeiros: o gás de xisto e o carvão mineral.

A constatação é: a energia fóssil está a anos-luz de desaparecer. Como deve ser doravante a estratégia brasileira para um planeta limpo? O pré-sal tem condições de virar pós-sal? E o etanol? O gás de xisto será cada vez mais bara- to e abundante e, nos Estados Unidos, já conta com gasodutos de 38 mil quilômetros. O mer- cado de carbono está sendo levado ao congelamento da dormência e fica aí uma interrogação futurística: o etanol vai se transformar em uma commodity forte no cenário mundial da ener- gia, ou será unicamente um produto de consumo interno em países que podem produzir essa alternativa? Ou ainda apenas uma reserva de luxo no banco do espetáculo energético global?

A resposta volta para a capacidade inovadora, científica e de criatividade tecnológica. Não basta mais sabermos produzir cana-de-açúcar e transformar essa fotossíntese em agroenergia. Precisaremos saber como enfrentar a realidade dura e concreta de alternativas fósseis melhores e mais baratas. E ainda precisamos aprender a gritar para o mundo no combate do agriwar das percepções, esse jogo nada ambiental e exclusi- vo, de olho no lucro real, em que os ataques vêm por meio das aparências justas e ecológicas, mas a realidade caminha de maneirasubterrânea, no xistounderground, de forma nada sustentável ou ambiental. Só a inovação tecnológica salva: “a idade da pedra não acabou por falta de pedra, e sim pela inovação tecnológica”. “O fóssil não vai acabar pelo fim do fóssil, mas por ser fossilizado pela inovação tecnológica”.

*JOSÉ LUIZ TEJON MEGIDO é jornalista e publicitário, comentarista da Rádio Estadão e mestre em Educação, Arte e Cultura.

Fonte: http://conhecimentopratico.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/52/o-fossil-nao-vai-acabar-se-esse-tipo-de-301579-1.asp

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