ALAN MATTINGLY
A discussão sobre os recursos consumidos neste planeta cada vez mais povoado se volta fortemente à energia: como alimentar a sede crescente por energia de maneiras que não destruam nosso ar, nossa água, nosso clima. Mas uma necessidade humana mais fundamental, envolvendo um recurso que é finito, impõe sua própria necessidade de invenção. Trata-se da necessidade de um espaço para ser, simplesmente.
Os desafios enfrentados para atender a essa necessidade são variados, movidos por fatores geográficos, econômicos e de oportunidade. As soluções encontradas são igualmente diversas.
Cingapura tem 5,4 milhões de habitantes, número previsto para chegar a quase 7 milhões até 2030, e seu espaço está se esgotando. Com opções limitadas, a cidade estuda a possibilidade de construir para baixo.
“Cingapura é pequena. Quer tenhamos 6,9 milhões de habitantes, quer não, sempre existe a necessidade de encontrar mais espaço para a construção”, disse ao “New York Times” Zhao Zhiye, da Universidade Tecnológica Nanyang.

Em apartamentos de Hong Kong, moradores vivem em cubículos alugados que têm espaço apenas para colchão, TV e prateleiras
Já existem rodovias e túneis de trânsito subterrâneos. Estão começando as obras de construção de um bunker de petróleo, e está sendo planejado um centro de pesquisas científicas debaixo da terra.
“No início, é possível que haja algum problema psicológico, mas, desde que tenhamos iluminação e ventilação adequadas, as pessoas poderão pouco a pouco superar a ideia de viver e trabalhar debaixo da terra”, disse Zhao.
Pesquisadores de Nanyang e da Universidade Nacional de Cingapura visualizam teatros, instalações esportivas e piscinas subterrâneos.
Ng Chi-hung se contentaria com um espaço em que pudesse ficar em pé. Ele é um dos 22 homens que vivem em um apartamento de 42 metros quadrados em Hong Kong, empilhados uns sobre os outros em cubículos com espaço apenas para um colchão, um televisor e algumas prateleiras, segundo o “NYT”.
“Vivendo em um ambiente assim, é preciso se adaptar a tudo”, disse Ng, 55, desempregado. Em uma das cidades mais caras do mundo, ele paga US$ 180 por mês pelo cubículo.
Pesquisadores constataram que pelo menos 170 mil pessoas vivem de modo semelhante em Hong Kong, em espaços divididos por paredes de “drywall” e telas de arame. Há espaço suficiente para dormir e pouco mais que isso. Cheng Tin-sang, 59, que ocupa o cubículo acima do de Ng, não pode trabalhar devido a um problema cardíaco. Ele passa o dia todo perambulando nas ruas. “Me sento em lugares como o McDonald’s”, contou. “Qualquer lugar que tenha ar-condicionado.”
Aqueles que sonham em virar bilionários também sentem o aperto. Em San Francisco, para onde vem se voltando o mundo da tecnologia, não é fácil encontrar espaço de escritório.
Uma solução é alugar uma mesa. Ou parte de uma mesa. Essa é a opção oferecida a start-ups de tecnologia pela RocketSpace, que cobra entre US$ 700 e US$ 800 por mês por um espaço numa mesa de trabalho comprida, que às vezes é divida com outros locatários. “Os fones de ouvido garantem privacidade, como faziam os cubículos no passado”, disse ao “NYT” Duncan Logan, fundador da RocketSpace.
Mas existem vantagens, como o ânimo que se recebe pelo fato de trabalhar lado a lado com outros locadores, alguns dos quais já estiveram em empresas como Zappos e Spotify. “Quando eu estava trabalhando sozinho, pensava que tinha uma ideia de US$ 1 bilhão”, comentou um locador, Michael Perry. “Aqui, todo mundo pensa que tem uma ideia de US$ 1 bilhão e todo mundo está dando duro. É inspirador.”
Além disso, há cerveja e doces de graça. É quase tão bom quanto um McDonald’s com ar-condicionado em Hong Kong.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/10/1360330-disputando-espaco-em-um-mundo-superpovoado.shtml