Como Chávez se tornou Chávez

Além das políticas adotadas por seu governo, Hugo Chávez − filho de uma família modesta, de origem mestiça e sem perspectivas de ascensão social a não ser pela via militar − seduziu os venezuelanos porque se parece com eles

por Ignacio Ramonet

Enfim, a eternidade o transforma naquilo que ele sempre foi”.1 Hugo Chávez, falecido no dia 5 de março em pleno desenvolvimento político, reúne-se, no imaginário dos humildes da América Latina, à pequena corte dos grandes defensores de sua causa: Emiliano Zapata, Che Guevara, Salvador Allende… No início, no entanto, nada dizia que ele teria um destino tão lendário.

Chávez veio ao mundo no seio de uma família muito pobre, do fim de mundo do faroeste venezuelano, em Sabaneta, um pequeno vilarejo dos Llanos, as Grandes Planícies infinitas que se encontram com a Cordilheira dos Andes. Quando nasceu, em 1954, seus pais não tinham nem 20 anos. Continuar lendo

Tomate: do lixo ao luxo

Falou-se muito sobre o tomate, mas pouco sobre a situação do produtor. Milhares de toneladas do fruto foram jogadas no lixo em 2012, diante dos baixos preços pagos ao agricultor. Muitos desistiram da cultura e outros não tiveram crédito para recuperar a nova safra.

Najar Tubino

Abril de 2012, Ribeirão Branco (SP), região de Itapetininga, no sítio administrado por Rubens Almeida, os 90 mil pés de tomate estão sendo derrubados. Já na propriedade de Ismael Rosa 50 mil pés de tomate foram plantados, um investimento de R$200 mil, que agora apodrece no pé e vai para o lixo. Produtores começaram a destruir as roças em fevereiro e a situação só piorou até aqui. Este é um relato do que aconteceu em uma das regiões produtoras de São Paulo, o segundo maior em área, com mais de 10 mil hectares plantados com o fruto, que reduziu o plantio, porque os produtores chegaram a vender a caixa de 22 kg por R$5.

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Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo

Republicamos esta reportagem veiculada em 2011 por sugestão de um de nossos leitores, acompanhada de uma nota da redação. Trata-se de uma análise sobre as relações entre 43.000 empresas transnacionais que conclui que um pequeno número delas – sobretudo bancos – tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.

New Scientist

Nota da Redação

Por indicação do leitor Pedro, cujo comentário segue abaixo, republicamos esta reportagem indicada por ele – a qual, aliás, à época da publicação aqui em Carta Maior, teve muita repercussão. Ao nosso leitor Pedro, agradecemos a lembrança e esclarecemos que nem sempre é possível enfrentar os temas da forma que gostaríamos, tendo em vista a conjuntura que somos obrigados a acompanhar no dia-a-dia.

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Thatcher-Reagan e o neoliberalismo: a contrarrevolução travestida de reforma e modernização

A virada de período histórico operada pelo fim da URSS, pela passagem à hegemonia unipolar dos EUA e pela hegemonia do modelo neoliberal, representou um duro golpe para a esquerda. Mais além da desaparição do sistema soviético – que, antes mesmo de se avaliar sua natureza, representava um contrapeso ao bloco imperialista –, a derrota da esquerda foi de dimensões muito maiores.

Em primeiro lugar porque a crise soviética não desembocou numa solução de esquerda – como esperavam os trotskistas e poderiam supor os social-democratas –, mas numa alternativa plenamente capitalista, de direita.

Em segundo lugar, porque trouxe com ela a desmoralização do socialismo, do Estado, da economia planificada, da política, dos partidos, das soluções coletivas, junto com a desqualificação da esquerda, do movimento sindical, do mundo do trabalho.

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EUA: como evitar a pior resposta ao terror

Novamente atingido, país pode amedrontar-se e restringir liberdades que marcaram sua história. É o que planeja quem praticou atentados

Por Bruce Schneifer, no The Atlantic | Tradução: Antonio Martins

À medida em que os detalhes sobre as bombas de Boston aparecem, é fácil ficar apavorado. Seria fácil sentir-se impotente e reivindicar de nossos líderes eleitos algo – qualquer coisa – capaz de nos fazer sentir seguros.

Seria fácil, porém errado. Devemos sentir raiva – e empatia com as vítimas – sem, contudo, nos aterrorizar. Nosso medo é o que os terroristas mais desejam. Ele iria ampliar sua vitória, quaisquer que sejam seus objetivos, quem quer que sejam eles. Não precisamos nos sentir impotentes, nem amedrontados. Temos todo o poder, e há uma atitude a adotar, para tornar o terror ineficaz: a recusa a ficar aterrorizado.

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