O desafio de ser refugiado

Convivemos hoje com o maior contingente de refugiados na história da humanidade – 160 milhões de pessoas. São homens, mulheres e crianças deslocados por flagelos como guerras, perseguições políticas e religiosas, intolerância de natureza étnica e racial.

Washington Araújo

À medida que o mundo avança para o terceiro milênio e quando se torna inadiável uma nova configuração do ordenamento jurídico internacional, existe um contingente de cerca de 160 milhões de pessoas (equivalente a mais que quatro populações da Argentina) fora de seus países de origem. São os refugiados. Aqueles que foram forçados a fugir por recearem pela sua vida e liberdade, e que na maioria dos casos, abandonaram tudo – casa, bens, família e país – rumo a um futuro incerto em terras estrangeiras. Convivemos, neste limiar do século XXI, com o maior contingente de refugiados na história da humanidade. Um número tão impressionante que representa nada menos que o triplo do número total de refugiados registrados na Europa, no início do século 20.

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Venezuela, futuro e memória

Cerca de metade da população atual da Venezuela não era nascida ou era criança quando Hugo Chávez se elegeu presidente, em 1998. Parte não viveu e parte não teve exata percepção do que foram as duas décadas de crise que o país viveu, fruto da queda dos preços do petróleo e do experimento neoliberal num país em que toda a economia sempre foi extremamente dependente do Estado. A batalha da Venezuela neste domingo é uma batalha pelo futuro, solidamente ancorada na construção da memória dos anos recentes. O artigo é de Gilberto Maringoni, direto de Caracas.

Gilberto Maringoni

Oito milhões de habitantes da Venezuela têm entre 15 e 24 anos, numa população total de 30 milhões. Os números são das projeções do Censo de 2011 para este ano. Outros 8,5 milhões têm entre 0 e 14 anos. Isso quer dizer que metade da população não era nascida ou era criança quando Hugo Chávez se elegeu presidente, em 1998. Parte não viveu e parte não teve exata percepção do que foram as duas décadas de crise que o país viveu, fruto da queda dos preços do petróleo e do experimento neoliberal num país em que toda a economia sempre foi extremamente dependente do Estado (que, por sua vez, depende da renda petroleira).

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Muito mais que bucólicos “paraísos fiscais”

A “City”, distrito financeiro de Londres. Daqui partem os fios da teia que sustenta a rede global offshore

Autor de livro indispensável para entender finanças offshore sustenta: o sistema bancário das sombras ocupa o centro do capitalismo global

Por Nicholas Shaxon, entrevistado por Christophe Ventura, em Memoire des Luttes | Tradução: Inês Castilho

[Mais: para uma resenha desta entrevista, e uma atualização sobre o grande vazamento de dados que está atingindo o mundo das finanças offshore, leia As caixas pretas do poder global, em Outras Palavras]

Um escândalo mundial – o Offshore Leaks – está revelando, desde o início de abril, a promiscuidade entre os mundos da política institucional, das finanças e da economia off shore, a grande rede dos chamados “paraísos fiscais”. Nesta entrevista, publicada originalmente em novembro de 2012, no site francês independente, “Memoire des luttes”, o jornalista investigativo e escritor Nicholas Shaxson ajuda a entender o que está em jogo.

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Será possível usar um Smartphone sem culpa?

Há quase duas décadas, fabricantes dos telefones sabem que extração das matérias-primas, no Congo, envolve crimes brutais. Quase nada fizeram

Por George Monbiot, no The Guardian | Tradução: Cauê Ameni

Quem se conecta demais, para de pensar. Os apelos, o imediato, a tendencia de absorver rapidamente o pensamento de outras pessoas, interrompem a abstração profunda, necessária para encontrar seu próprio pensamento. Essa é uma das razões pelas quais ainda não comprei meu smarthphone. Mas é cada vez mais difícil resistir aos avanços tecnológicos. Talvez eu acabe sucumbindo este ano. Por isso, lancei a mim mesmo uma questão simples: posso comprar um smartphone produzido eticamente?

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Haitianos revivem no Acre a miséria de um país

Cerca de1,3 mil refugiados vivem em situação precária e disputam a escassa comida

A disputa no braço por uma quentinha no começo das tardes de quinta e sexta-feira dentro de um galpão na periferia de Brasileia, no Acre, era o reflexo de uma tragédia humanitária que começou em janeiro de 2010 no Haiti e chegou ao Brasil com força dias atrás pela fronteira com o Peru. Passados três anos do terremoto que devastou o país caribenho, 1,3 mil refugiados haitianos lotam um acampamento, passam horas deitados em colchões, sobre placas de papelão, à espera de uma autorização para ingressar oficialmente no território brasileiro. A esse contingente somaram-se nos últimos dias 69 senegaleses, dois nigerianos e até um indiano.

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