Ilusionismo econômico na TV

Se por um lado dois mais dois são sempre quatro, por outro existem vários métodos de manipular a aritmética. O primeiro é o procedimento científico e o outro método consiste em, a partir de uma ideia preconcebida, organizar os dados de forma a sugerir a confirmação desta pelos “fatos”

por Jean Gadrey, Mathias Reymond

“Números não mentem, mas os mentirosos adoram números”,1 resumiu o escritor norte-americano Mark Twain. Se por um lado dois mais dois são sempre quatro, por outro existem vários métodos de manipular a aritmética. O primeiro é o procedimento científico: formula-se uma hipótese, coletam-se os dados e conclui-se pela validação da hipótese ou por sua indeterminação – caso em que a reflexão deve ser afinada. Outro método consiste em, a partir de uma ideia preconcebida, organizar os dados de forma a sugerir a confirmação desta pelos “fatos”. Esse tipo de acrobacia estatística possui um especialista na atualidade: François Lenglet, diretor do programa France, do canal público de televisão France 2.

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A República e as multinacionais

Qual é o lucro que o Estado brasileiro leva, financiando, direta e indiretamente, a entrada de empresas estrangeiras de capital privado e estatal em nosso território para, em troca, em lugar de reinvestirem os seus lucros por aqui, continuarem mandando tudo o que podem para fora ?

Mauro Santayana

O governo brasileiro tem tratado com deferência o Sr. Emilio Botin, dono do Grupo Santander, já investigado pela justiça espanhola, entre outras coisas, por remessas ilegais de dinheiro para o exterior e duvidosas contas na Suiça, pertencentes à sua família desde os tempos do franquismo. Ele comanda um grupo que teve que pegar, direta e indiretamente, no ano passado – em dinheiro e títulos colocados no mercado – mais de 50 bilhões de euros emprestados; demitiu dois mil empregados no Brasil no mesmo período, e teve uma queda de 49% em seu lucro global nos últimos 12 meses, devido, entre outras razões, a provisões para atender a ativos imobiliários “podres” no mercado espanhol.

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De ‘pessoa da família’ a ‘diarista’. Domésticas: a luta continua!

Apesar da grande profusão de argumentos terroristas contra os direitos das empregadas domésticas, não creio, sinceramente, que a sociedade brasileira, em suas classes média e alta, em sua grande maioria, esteja identificada com essas posições.

Jorge Luiz Souto Maior

Doméstica!
Ela era
Doméstica!
Sem carteira assinada
Só caía em cilada
Era empregada
Doméstica!
(….)
Doméstica!
Era a americana, de doméstica
A nêga deu uma gargalhada
Disse: “Agora tô vingada
Tu vai ser minha
Doméstica!” (Doméstica, Eduardo Dusek)

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Violência, a marca do poder masculino

Vasta sequência de dados revela: desde pré-história, domínio machista está associado à especialização cultural dos homens no exercício da força bruta 

Por Henrique Carneiro, do Blog Convergência | Imagem: AntoonVan Dyck,Sansão e Dalila (1630)

A masculinidade, como todas as identidades, é social e historicamente construída em cada sociedade. Em quase todas, entretanto, há uma especialização masculina na violência.

Partilhamos de uma herança ocidental que traz nos étimos da própria língua os traços arcaicos, mas presentes, de formas de pensamento de longa duração. O radical latino que identifica o masculino, vir, é o mesmo que formará a palavra virtude, definindo a própria noção de virtude como algo masculino e, portanto, guerreiro. A violência viril é um emblema da masculinidade que nasce com as primeiras civilizações e permanece como essência do próprio conceito de civilização, uma civitas apenas de homens, mesmo quando concebida na forma republicana ilustrada moderna[1], onde mesmo o direito de voto feminino foi mais que tardio.

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