As guerras do Golfo Pérsico
Tida por muitos séculos como uma região desimportante sob o ponto de vista econômico, a região do Golfo Pérsico, especialmente depois da IIª Guerra Mundial, passou a deter as atenções do mundo inteiro pela importância cada vez maior que o petróleo passou a assumir no século XX. A riqueza impressionante do seu subsolo, que acolhe mais de 60% das reservas de óleo cru conhecidas, terminou por gerar cobiças e desejos de conquista e dominação, fazendo do Golfo Pérsico uma interminável praça de guerra.
A região do Golfo Pérsico foi, por séculos a fio, uma área pobre, esquecida e abandonada do mundo. Só despertava o interesse das expedições arqueológicas, visto ser o epicentro das imemoriais culturas mesopotâmicas, nascidas nas margens dos rios Tigre e Eufrates (como a da caldéia, da assíria e da babilônia, consideradas matrizes da civilização). Historicamente, ela separa o mundo árabe dos persas, e, até 1918, fazia a fronteira entre o reino da Pérsia e o Império Turco Otomano, a verdadeira potência daquela região. Até então, o Império Britânico tinha uma pequena presença por lá, limitando-se a tutelar, desde o século XVIII, o emirado do Kuwait e controlar o estreito de Omã.
Algo espetacular, porém, ocorreu em 1908. No subsolo da Pérsia, encontrou-se um rico lençol de petróleo, o suficiente para que a Royal Navy, a esquadra britânica, substituísse, a partir de 1914, o carvão por óleo, como o principal combustível dos seus navios, tornando o Golfo Pérsico um lugar estratégico importantíssimo. Em 1917, os britânicos, em guerra contra o Império Turco, conquistam Bagdá, tornado-a sede do seu domínio sobre a antiga Mesopotâmia.
Novos lençóis de petróleo foram encontrados nos anos vinte e trinta do século XX no Iraque, no Kuwait, nos Emirados Árabes, e também na Arábia Saudita, sendo explorados por companhias britânicas e depois americanas. Entrementes, com a explosão da indústria automobilística e a subsequente revolução dos transportes, o petróleo do Golfo Pérsico passou ser mais importante ainda. Hoje, estima-se que o subsolo da região abrigue 2/3 das reservas mundiais, ou seja 696.2 bilhões de barris.
Principal importador e dono dos maiores contratos de exploração da região, os Estados Unidos, potência vencedora da Segunda Guerra Mundial, fizeram do Golfo Pérsico a sua área estratégica preferencial, concentrando ali um número impressionante de bases militares, terrestres, aéreas e navais. Para melhor protegê-la, apoiaram os regimes monárquicos locais (o reino saudita e o xarado do Irã), sobre os quais exerciam tutela política e militar.
Revolução e guerra
O controle ocidental sobre o Golfo Pérsico começou a ser ameaçado devido a dois acontecimentos espetaculares que estão entrelaçados: em 1979 o xarado do Irã, principal aliado de Washington, foi derrubado por uma revolução popular liderada pelos chefes religiosos iranianos, os aiatolás, que imediatamente voltam-se contra os americanos (denominado por eles como os agentes do “Grande Satã”). Quase em seguida, no ano de 1980, estoura a Primeira Guerra do Golfo, ocasião em que o vizinho Iraque, dominado por Saddam Hussein, ataca o Irã de surpresa, querendo aproveitar-se do caos em que o país se encontrava, devido à revolução xiita, então em andamento. A partir daquele momento, o Golfo Pérsico vai conhecer uma instabilidade quase que permanente.
A emergência do Iraque
Ocupada pelos britânicos em 1917, a Mesopotâmia – num acerto com os franceses combinado no Tratado de Sèvres, de 1920 – , tornou-se um protetorado da Coroa de Sua Majestade. Em 1921, os ocupantes entregaram o trono do Iraque ao rei Faisal I, da família Hachemita . a mesma que governava a Arábia e a Jordânia. Na verdade, tratava-se de um reino títere, pois os britânicos controlavam o exército, a força pública e os poços de petróleo (através da Irak Petroleum Company, fundada em 1927). Em 1932, juntando as províncias de Mossul, Bagdá e Basra, a monarquia iraquiana alcançou uma independência pró-forma sem que isso abalasse os interesses britânicos na região, mas voltou a ser reocupada por ordem de Londres em 1941, para evitar que os nazistas conquistassem seus poços de petróleo.
A monarquia Hachemita pró-britânica, foi finalmente derrubada por um sangrento golpe republicano em 1958, ocasião em que o rei Faisal II e seu filho Abdula foram mortos por ordem do general Karim Kassem. Naquela época, o Oriente Médio, tal como a maior parte do Terceiro Mundo colonizado, fora sacudido pela onda nacionalista que insurgiu-se contra o domínio dos impérios coloniais europeus. Desencadeado por primeiro no Egito, onde era forte a presença britânica, o movimento nacionalista árabe liderado por Gamal Nasser tomou o poder no Cairo em 1953 (oportunidade em que aboliram com a monarquia colaboracionista do rei Farouk). Desde então, o nasserismo (nacionalismo + autoritarismo) serviu como modelo para os demais militares nacionalistas do Oriente Médio na sua busca pela autodeterminação política e liberdade econômica, servindo como exemplo a ser seguido na Argélia, no Iraque, no Iêmen, no Sudão e na Líbia.
As ambições de Saddam Hussein
Um nome então começou a despontar dentro do partido Baaz, o de Saddam Hussein, um ex-pistoleiro que participara do fracassado atentado ao general Kassem (acusado pelos nacionalistas árabes de ser muito próximo dos comunistas), e que dali por diante, como chefe do CMR (o Comitê Militar Revolucionário, órgão dirigente supremo do Iraque) se manteria no poder por meios repressivos e violentos. Nos anos 70, ele tornou-se o verdadeiro homem-forte do Iraque, desenvolvendo, graças aos lucros do petróleo, uma intensa politica de modernização do país (ensino público e saúde gratuitas, investimentos em infra-estrutura, hospitais, pontes, estradas de rodagem e de ferro, inclusive energia nuclear, liberalização feminina, etc.).Durante os dez anos seguintes, de 1958 a 1968, o Iraque viu-se palco de terríveis lutas internas, nas quais os nacionalistas do partido Baaz (fundado antes na Síria, por Michael Aflak nos anos 40) conseguiram impor-se sobre seus rivais, a ferro e a fogo. Sendo um mosaico de etnias (árabes, assírios, iranianos, curdos, etc…) e de rivalidades religiosas (sunitas versus xiitas), o poder no Iraque quase sempre foi disputado a tiros e mantido por meio de repressão e de massacres. Duas medidas nacionalista então atingiram os interesses da companhias anglo-americanas: a primeira delas foi a nacionalização do petroleo iraquiano, ocorrida em 1966, e a segunda foi a estatização da Irak Petroleum, em 1972.
Golfo: etnias e religiões do Iraque
Curdos: localizados no Norte do Iraque, formam 18% da população e lutam pela independência.
Sunitas: ocupam a região central do Iraque, a área de Bagdá, e controlam o poder político. São 17% da população.
Xiitas: localizam-se no Sul do Iraque e formam 65% da população do pais.
Com o tempo, uma expressiva classe média de profissionais, técnicos e administradores, passou a usufruir de um excelente padrão de vida. O sucesso da sua política somou para que Saddam Hussein ambicionasse tomar o lugar do Xá Reza Pahlevi, derrubado pela revolução xiita de 1979, tornado-se no novo gendarme do Golfo Pérsico. Acreditou que, com o naufrágio do Irã, chegara a vez do Iraque tornar-se a única potência da região. Com quase 440 mil km2, e com mais de 20 milhões de habitantes, o mais bem servido país em águas de todo o Oriente Médio, rico em petróleo, dono da segunda maior reserva do mundo (estimada entre 115 e 220 bilhões de barris), Saddam Hussein imaginou ser um novo Nabucodonossor (605-562 a.C.), o famoso rei da Babilônia citado na Bíblia, que imperara sobre toda a Mesopotâmia e a Palestina há séculos passados. Daí aquela obsessão de Saddam Hussein em construir palácios luxuosos espalhados pelo Iraque, visto que Nabucodonossor ficou na história devido aos magníficos Jardins Suspensos da Babilônia.
Na entrada dos anos 80, Saddam Hussein estava pronto para ir à guerra, em nome do mundo árabe, contra os velhos rivais persas, ao tempo em que atacando as forças do aiatolá Khomeini, protegia o Mundo Sunita do expansionismo da revolução Xiita do Irã. Vencido o conflito, ele se tornaria o novo senhor do Golfo Pérsico. Naquela ocasião, os Estados Unidos, em fortes desavenças com o governo revolucionário do Irã – que desmontara o exército do Xá armado e treinado pelos americanos – apoiou o projeto de Saddam Hussein em liquidar com o Irã por meio de uma guerra-relâmpago.
A primeira guerra do Golfo Pérsico (1980-88)
Poema anônimo – O Lamento de Ur, 2.000 a.C.
A tensão entre os dois vizinhos, o Irã revolucionário-teocrático e o Iraque baazista-secular, foi quase que instantânea. Líderes religiosos mandavam mensagens de Teerã insuflando os xiitas do sul do Iraque a livrarem-se do governante “ímpio” de Bagdá. As ameaças de ambos os lados fizeram com que Saddam Hussein tomasse a iniciativa. Ao mesmo tempo em que isso se dava, o Egito, que até então fora a nação símbolo da emancipação do Oriente Médio, fora expulso da Liga Árabe em 1979, devido a sua política de reconhecimento do Estado de Israel. Fato que atiçou Saddam Hussein a empunhar o bastão da liderança árabe parecendo ao Mundo Sunita como o seu novo campeão numa guerra bem sucedida. Além disso, ao lutar contra o velho inimigo persa, a guerra serviria para forjar um real sentimento patriótico em todos os iraquianos, ao tempo em que projetava a liderança absoluta de Saddam Hussein sobre todo o país.
O botim, o prêmio da guerra, seria a anexação de uns 200 quilômetros da região da fronteira que abrangia o Chatt-al-Arab, o Canal dos Árabes, região rica em petróleo controlada pelos iranianos, área historicamente reivindicada pelo Iraque que ampliaria o seu acesso ao Golfo Pérsico. Num primeiro momento, bem armado e equipado com material bélico soviético, o Iraque, executando um ataque de surpresa em setembro de 1980, com 190 mil homens, 2.200 tanques e 450 aviões, conseguiu penetrar ao longo de toda a fronteira iraniana numa profundidade de 200 quilômetros. Mas não demorou para ser detido por um enorme esforço dos iranianos.
Os aiatolás conseguiram mobilizar milhares de combates, formando aPasdaran (a Guarda Revolucionária) e os Basijs (voluntários mártires do exército popular), jogando-os em ondas humanas contra as posições iraquianas. A guerra que começara móvel, com tanques e aviões, tornou-se então uma dura luta de trincheiras, uma brutal guerra de atrito. Em 1982, o Iraque, vendo frustrada a sua guerra relâmpago, foi obrigado a recuar. O aiatolá Khomeini não aceitou nenhuma solicitação de trégua e a guerra continuou, ainda que tivesse provocado a morte de 120 mil iranianos e 60 mil iraquianos. Só que a partir de 1984, com a Operação Ramadã desencadeada pelo Irã, ela foi travada no território iraquiano, concluindo com o grande cerco de Basra, feito por meio milhão de iranianos, onde se deu uma das maiores batalhas desde a Segunda Guerra Mundial.
Somente em 1986 com milhares de perdas, é que o Iraque, reforçando seu equipamento bélico, recorrendo inclusive aos gases venenosos, conseguiu reverter o desastre, fazendo que por fim, em agosto de 1988, o Irã, reduzido à inoperância, aceitasse as determinações da resolução 598 da ONU, pondo fim ao longo e mortífero conflito que no total, causou a perda de quase um milhão de iranianos (300 mil mortos e 500 mil feridos) e de 375 mil iraquianos.
Etapas da primeira guerra do Golfo
1980-82 – Ofensiva do Iraque ao longo da fronteira iraniana.
1982-84 – Contra-ofensiva iraniana, recuo do Iraque para os limites originais.
1984-87 – Guerra de atrito em solo iraquiano. Guerra de trincheiras. Batalha de Basra.
1987-88 – Contra-ofensiva iraquiana obriga o Irã a aceitar a paz, assinada em 22 de agosto de 1988.
A segunda guerra do Golfo Pérsico (1990-91)
Queria que elevasse os preços do petróleo para o Iraque poder pagar seus compromissos. Exigiu também receber uma vultosa indenização pelas perdas que o Iraque tinha na exploração em conjunto com o Kuwait de certos poços de petróleo em Ramaillah, na embocadura do Golfo Pérsico. Além disso, Saddam Hussein pediu à família Al-Sabat, que domina o Kuwait, que concordasse com uma moratória da dívida iraquiana. Como não foi atendido em nenhum dos dois casos, Saddam Hussein decidiu punir o Kuwait com uma invasão militar, seguida de total ocupação. No dia 2 de agosto de 1990, um exército de cem mil iraquianos adonou-se do Emirado.Mesmo tendo sido bem sucedido no campo de batalha, Saddam Hussein teve um vitória de Pirro. A não ser reforçar sua autoridade sobre o Iraque, nada usufruiu do resultado final de oito anos de terríveis combates, pois não integrou nenhum dos territórios pretendidos. Endividado em 85 bilhões de dólares com as monarquias vizinhas, numa guerra cujos gastos gerais de reconstrução atingiram 230 bilhões de dólares, e só recebendo 14,2 bilhões da conta das exportações, o ditador começou a pressionar o Emirado do Kuwait.
Golfo: intervenção norte-americana
Apoiado na resolução nº 678 da ONU – que ordenava ao Iraque a imediata evacuação do Kuwait até o dia 15 de janeiro de 1991 – , o presidente dos Estados Unidos, George Bush mobilizou a opinião publica mundial contra Saddam Hussein. Era indefensável a guerra de anexação que o ditador se lançara. Organizando a Operação Escudo do Deserto, o presidente americano conseguiu a adesão de 28 países na sua campanha anti-Iraque, fazendo também com que as despesas da operação fossem pagas por diversos países interessados na estabilidade do Golfo Pérsico (especialmente o Japão e a Europa Ocidental).
Como Saddam Hussein não podia voltar a trás sob pena de desmoralizar-se frente à coalizão ocidental, (especialmente das tropas anglo-americanas), no dia 17 de janeiro teve início a Operação Tempestade do Deserto. Durante 47 dias, Bagdá e outras cidades importantes do Iraque foram bombardeadas, sendo que o exército iraquiano capitulou no dia 27 de fevereiro depois de um devastador ataque dos anglo-saxãos, sob o comando do general Norman Schwartkopf. Batendo em retirada, Saddam Hussein determinou a destruição e o incêndio de mais de 300 poços de petroleo do Kuwait, o que causou uma descomunal tragédia ecológica no Golfo Pérsico.
Os Estados Unidos ocupam a região
Com a poderosa 6º frota navegando no Mar Mediterrâneo e outra esquadra dominado o Mar Arábico e o Golfo Pérsico, o mundo árabe viu-se cercado por todos os lados. Exatamente por isso, por não retirar suas tropas depois da Guerra do Golfo em 1991, os Estados Unidos se viram alvos de atentados dos fundamentalistas muçulmanos, liderados por Osama Bin Laden, que consideram a presença dos soldados americanos uma profanação ao Ummã, a terra sagrada do Islã.A ação bem sucedida dos americanos devia-se a um motivo bem simples. Por razões estratégicas, econômicas e geopoliticas, os Estados Unidos, a única hiperpotência do planeta e o maior consumidor de petróleo do mundo (*), não podiam aceitar que as mais importantes reservas do ouro negro de toda a Terra caíssem no controle de um homem só. A conseqüência direta disso foi que os Estados Unidos resolveram então acampar definitivamente ao redor da Península Arábica, montando bases militares, terrestres, aéreas e navais, nos emirados da região (no Kuwait, no Catar, no Bahrain, no Iêmen e em Omã, e igualmente na Arábia Saudita).
(*) o consumo de petróleo dos EUA é de 33/barris-dias por habitante. O da Europa é 22 barris/p/habitante e o do Brasil é de 4.
A punição ao Iraque
Além de ter estimulado os xiitas no sul e os curdos no norte a rebelarem-se contra Saddam Hussein, os Estados Unidos fizeram com que fossem adotadas severíssimas sanções contra o regime iraquiano, isolando-o do mundo. Duas Zonas de Exclusão Aérea foram fixadas no Iraque, uma no paralelo 33° e outra no paralelo 36°, a pretexto de proteger os curdos e os xiitas de um possível ataque aéreo. Elas se tornaram uma verdadeira camisa de força na qual o Iraque ficou preso. Além disso, o Iraque somente poderia exportar petróleo no valor de 5 a 6 bilhões de dólares/ano, valor insuficiente para atender as necessidades alimentares e as carências gerais da população iraquiana.
Medidas essas que fizeram com que, em dez anos de embargo, de 500 a 600 mil crianças perdessem a vida por falta de assistência e de remédios. E, como humilhação definitiva, o Iraque deveria acolher uma equipe de inspetores da ONU para verificarem e supervisionarem in loco o desmantelamento de todas as possíveis armas de destruição em massa que ainda teriam restado nas mãos do regime de Saddam Hussein (químicas, biológicas ou nucleares). Em 1998, os inspetores da ONU foram denunciados por acolherem em seu meio espiões a serviço da CIA e o Iraque exigiu então que eles fossem expulsos do país. De fato, eles recolheram informações que serviram aos bombardeios pontuais que a aviação anglo-americana continuou fazendo sobre alvos iraquianos nas Zonas de Exclusão Aérea, além de tentarem inutilmente localizar o paradeiro de Saddam Hussein para que um comando especial pudesse vir a assassiná-lo.
A terceira Guerra do Golfo Pérsico (2003)
Depois de que o Conselho de Segurança da ONU negou-se a autorizar uma guerra preventiva contra o Iraque, especialmente pela atuação da França e da Alemanha, por entender que o país não representava nenhum tipo de ameaça aos seus vizinhos, os governos anglo-americanos de George W.Bush e Tony Blair resolveram mesmo assim ir em frente. Concentrando 242 mil soldados no Kuwait, aviões, grandes navios, inclusive cinco porta-aviões, cercando o debilitado Iraque por todos os lados, a ofensiva anglo-americana, iniciada em 19 de março de 2003, não teve dificuldades em, movendo-se diretamente para Bagdá, liquidar com a resistência iraquiana ao completar 25 dias de combates.Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, quando as Torres Gêmeas do World Trade Center de Nova Iorque e o edifício do Pentágono em Washington foram alvo de um espetacular atentado cometido pelos sahids, os suicidas mártires do grupo Al Qaeda, o Iraque voltou a ordem do dia. O governo do presidente George W.Bush, em nome da “ guerra global contra o terrorismo”, passou a acusar Saddam Hussein de esconder armas de destruição em massa e de desprezar as resoluções da ONU que exigiam o desarme total e completo do país. Alegou que mais tarde ou mais cedo, o ditador alcançaria aquelas armas a grupos terroristas e esse as usariam contra cidadãos americanos. De fato, o grupo de falcões – direitistas chamados de neoconservadores – que faz parte do governo republicano (Donald Rumsfeld, Paul Wolffowitz, Dick Cheney), homens do Pentágono sedentos de vingança, tem planos de recolonizar o Oriente Médio, submetendo toda a região ao controle direto ou indireto dos Estados Unidos.
A desproporção de forças foi incomensurável. De um lado estavam duas das maiores potências militares do mundo, donas de um arsenal convencional e nuclear capaz de arrasar com a vida no planeta, do outro um empobrecido e debilitado país do Terceiro Mundo sem as mínimas condições de opor uma resistência efetiva. Despejando sobre Bagdá e outras cidades mais de 20 mil bombas e mísseis, o ataque da coligação anglo-americana literalmente pulverizou o regime de Saddam Hussein, deixando que suas cidades fossem submetidas ao saque e a pilhagem por multidões famintas e humilhadas.
Golfo Pérsico: conclusões
A luta contra o terrorismo, pretexto utilizado pelos Estados Unidos na guerra contra o Iraque, tornou-se o grande motivo para que a hiperpotência americana ocupasse militarmente parte do Oriente Médio nos moldes do colonialismo do século 19, ocasião em que um império qualquer daqueles tempos, ocultando seus interesses econômicos ou estratégicos, ocupava um pais do Terceiro Mundo a pretexto de querer civilizá-lo ou dotá-lo de instituições políticas avançadas. Para tanto, o presidente encontrou respaldo na aprovação feita pelo Congresso norte-americano, no ano de 2002, da nova Estratégia da Segurança Nacional, que defende, sem o necessário consentimento de nenhuma organização mundial, o princípio do direito à guerra preventiva. Princípio diga-se, impossível de ser sustentado aos olhos do direito internacional. Entrementes, o Iraque, dividido em três grandes áreas de ocupação, será administrado futuramente, por generais e diplomatas americanos.
As guerras do Golfo Pérsico
Guerra Irã-Iraque (1980-88): vitória militar não conclusiva do Iraque. Amos os países se debilitaram
Guerra do Kuwait (1990-91): o Iraque foi obrigado a retirar-se do Kuwait pela Operação Tempestade no Deserto liderada pelos EUA.
Guerra da Zona de Exclusão Aérea (1998-2003): limitada aos sistemáticos bombardeios da aviação anglo-americana sobre alvos iraquianos selecionados.
Guerra anglo-americana contra o Iraque (2003): ocupação anglo-americana do Iraque, dissolução do regime de Saddam Hussein.
Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/atualidade/2003/04/15/003.htm
Guerra do Golfo – 20 anos
Da invasão do Kuait à ocupação americana do Iraque
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
A guerra foi sucedida pela invasão americana do Iraque em 2003, por conta dos atentados do 11 de Setembro. A ocupação militar, que deve terminar em 2011, mudou o panorama geopolítico da região.
Causas da guerra
Depois de quase quatro séculos sob domínio do Império Otomano, o Iraque se tornou colônia do Reino Unido ao final da Primeira Guerra Mundial. O regime monárquico instaurado durou de 1921 a 1958, quando a família real foi assassinada em decorrência de um golpe de Estado.
Em julho de 1968, o Partido Socialista Árabe Baath, do líder sunita Saddam Hussein, chegou ao poder. Ele foi eleito presidente em 1979, cargo que ocuparia por 24 anos. Nesse período, o Iraque se envolveu em três guerras no Golfo Pérsico.
A primeira Guerra do Golfo foi travada contra o Irã (1980-1988) depois que aRevolução Islâmica, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, depôs a monarquia iraniana. Durante o conflito, Saddam teve apoio militar dos Estados Unidos, que temia a influência do fundamentalismo islâmico sobre o Oriente Médio.
O governo americano, na época, ignorou o uso de armas químicas e biológicas pelas tropas iraquianas, incluindo o massacre de curdos. Mais tarde, usaria isso como justificativa para invadir o país.
Ao final da guerra, tanto o Irã quanto o Iraque estavam arruinados. A situação econômica do Iraque foi ainda agravada pela queda do preço do petróleo nos anos 1980 – o país é o 10º no ranking de produtores e 11º no de exportadores de petróleo no mundo. Além disso, estava endividado, ao contrário do vizinho Kuait (13º produtor e 6º exportador mundial do minério), que explorava as jazidas existentes nas proximidades da fronteira iraquiana.
Nesse contexto, a invasão do Kuait teve razões econômicas e territoriais. O governo do Iraque acusava o vizinho de provocar a queda do preço do petróleo ao vender mais do que a cota permitida pela Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEP). Saddam também queria que o Kuait perdoasse uma dívida contraída durante a Guerra Irã-Iraque e cobrava uma indenização de US$ 2,4 bilhões por suposta exploração ilegal em campos petrolíferos iraquianos.
Outro motivo foi a divisão da fronteira entre os dois países, assunto de controvérsias desde o fim do Império Otomano, quando o Reino Unido demarcou os territórios. O governo iraquiano alegava que, antes da colonização inglesa, o Kuait pertencia à província de Basra, localizada ao sul do país.
Invasão
Ao invadir o Kuait, em 2 de agosto de 1990, dando início à segunda Guerra do Golfo, Saddam subestimou a reação da comunidade internacional e do governo americano, seu antigo aliado na guerra contra o Irã.
Para Saddam, a guerra era uma forma de sanar as finanças do país e adquirir poder no mundo árabe. Para os Estados Unidos, era a oportunidade de ocupar militarmente a região e garantir o domínio sobre parte do petróleo árabe.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a invasão e aprovou uma resolução que impunha sanções econômicas ao Iraque. Ao mesmo tempo, a Liga Árabe iniciou as negociações para tentar resolver o conflito por meio da diplomacia, sem alcançar sucesso.
Em 28 de agosto, o governo iraquiano anexou o Kuait como sua 19ª província. No dia seguinte, a ONU deu um ultimato: até o dia 15 de janeiro de 1991 as tropas deveriam se retirar; caso isso não ocorresse, haveria ofensiva militar. Para cumprir esse ultimato, formou-se uma coalizão de 34 países liderados pelos Estados Unidos: entre eles, Reino Unido, França, Arábia Saudita, Egito e Síria. Um contingente de 750 mil soldados foi mobilizado contra 200 mil soldados iraquianos.
No dia 17 de janeiro de 1991 começou o ataque aéreo contra Bagdá, capital iraquiana. Entre os dias 25 e 28 de fevereiro foi desencadeada a “Operação Tempestade no Deserto”, com forças da ONU comandadas pelo general americano Norman Schwarzkopf.
Os bombardeios eram acompanhados pela TV em todo o mundo. Na chamada “guerra cirúrgica”, mísseis “inteligentes” atingiam alvos militares e a infraestrutura de Bagdá. Ao término da operação, os soldados iraquianos foram expulsos do Kuait e Bagdá aprovou o cessar-fogo no dia 3 de março.
Consequências
A família real do Kuait, que havia deixado o país antes da invasão, retornou após o fim do conflito. Cerca de mil civis morreram na guerra e outros 300 mil deixaram o país. O Exército iraquiano também danificou 737 poços de petróleo, provocando danos ambientais em toda região do Golfo Pérsico. O Kuait levou mais de dois anos para reparar os danos causados à sua indústria petrolífera.
No Iraque, a guerra deixou 3.664 civis mortos – e o país ficou em ruínas. Para piorar, durante os anos 1990 foram impostas sanções comerciais e financeiras, a fim de que o governo desmantelasse sua indústria bélica e pagasse indenizações de guerra, o que impediu a reconstrução do país.
Em 20 de março de 2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque com apoio do Reino Unido. O governo de George W. Bush acusou Saddam de ligação com os atentados de 11 de Setembro e de possuir armas de destruição em massa, fatos que nunca foram comprovados. Segundo especialistas, o real motivo da guerra seria garantir o controle das reservas de petróleo.
O ditador iraquiano foi deposto, capturado ao final de 2003 e condenado à morte em dezembro de 2006. Para os Estados Unidos, contudo, foi apenas o começo de uma das guerras mais longas, caras e mortíferas de sua história, só perdendo para o conflito do Vietnã.
A guerra do Iraque já custou US$ 736 bilhões aos cofres americanos (contra US$ 286 bilhões gastos no Afeganistão) e deixou um saldo de 4.731 soldados mortos, sendo 4.413 americanos (contra um total de 1.968 mortos, sendo 1.207 americanos, no Afeganistão).
A morte de americanos em atentados terroristas em Bagdá e os escândalos decorrentes de abusos cometidos contra presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib tiveram repercussão interna e mancharam a imagem da Casa Branca.
Por isso, com a eleição de Barack Obama para a presidência da República em 2009, a estratégia foi mudada. Ele prometeu retirar a maior parte dos combatentes até 31 de agosto de 2010. Hoje, existem aproximadamente 85 mil soldados americanos no Iraque. Metade do contingente deve permanecer e ser removido gradualmente até 31 de dezembro de 2011. Depois disso, o Iraque conquistará de novo sua independência.
Há 20 anos, em 1990, começou a Guerra do Golfo. No dia 2 de agosto, tropas iraquianas, sob o comando de Saddam Hussein, invadiram o Kuwait, rico em petróleo. Saddam cobrava dívidas do Kuait e reclamava questões territoriais. Para o Iraque, a invasão era um meio de refazer as finanças do país, arrasadas depois de oito anos de guerra contra o Irã. |
O ditador iraquiano, porém, subestimou a reação da comunidade internacional e de seu antigo aliado, os Estados Unidos. No dia 17 de janeiro de 1991 foi iniciada a ofensiva de uma coalizão militar de 34 países. Entre 25 e 28 de fevereiro foi desencadeada a “Operação Tempestade no Deserto”, que terminou com a retirada das tropas iraquianas do Kuwait.
Passados mais de dez anos, com o Iraque ainda arrasado, os EUA ocuparam o país em 20 de março de 2003. O governo de George Bush acusou Saddam de ligação com os atentados de 11 de Setembro e de possuir armas de destruição em massa, fatos nunca comprovados. Saddam foi deposto, capturado e condenado à morte. Com a eleição de Barack Obama, decidiu-se pela retirada dos soldados dos EUA até 31 de agosto de 2010.
Saiba mais
- Iraque – plano de guerra (Bertrand Brasil): livro do ativista inglês Milan Raí que revela as razões do conflito no Iraque.
- Iraque – assalto ao Médio Oriente (Antígona): livro do linguista e ativista político Noan Chomsky que aponta o interesse dos americanos nas reservas de petróleo iraquiano como causa da guerra.
- O Punho de Deus (Record): romance do escritor inglês Frederick Forsyth baseado em fatos reais e bastidores políticos da Guerra do Golfo.
- Os Leões de Bagdá (Panini Comics): história em quadrinhos de Brian K. Vaughan (roteiro) e Niki Henrichon (arte) que conta a fábula sobre uma família de leões que escapam do zoológico de Bagdá após bombardeios americanos.
- Três Reis (1999): filme sobre soldados americanos que procuram um tesouro enterrado no deserto iraquiano, logo depois do cessar-fogo, em 1991.
- Soldado Anônimo (2005): filme mostra rotina de soldados americanos na Guerra do Golfo.
- Guerra ao Terror (2009): ganhador de seis prêmios no Oscar 2010, o filme retrata a guerra do ponto de vista de soldados que desarmam bombas.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/atualidades/20-anos-guerra-do-golfo.jhtm